Ruanda proíbe carvão e combustível de madeira em Kigali
Alex Ngarambe | tms
9 de junho de 2020
O Governo do Ruanda está a proibir o uso de carvão vegetal e combustível de madeira para o uso doméstico. Como alternativa, as autoridades estão a incentivar o uso do gás para proteger o meio ambiente.
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Segundo o Governo do Ruanda, o uso do carvão vegetal é o principal fator do desmatamento no país, causando uma rápida perda da cobertura florestal. A proibição do uso de carvão vegetal para o uso doméstico pode ajudar a reduzir a dependência do Ruanda do combustível de madeira de 80% para 40%, até 2024.
Devido ao desmatamento resultante do uso excessivo de carvão vegetal, especialmente nas áreas urbanas, e de madeira nas áreas rurais, o país já assiste a outros desafios, como a erosão do solo e secas prolongadas. As autoridades dizem que o comércio de carvão está a prejudicar as florestas e a aumentar as emissões de carbono, responsáveis pelo aquecimento global.
Ruanda proíbe carvão e combustível de madeira em Kigali
"Podemos mudar do carvão para o gás. É uma boa coisa, porque vemos como as pessoas usam o carvão e a biomassa. Desde que tenhamos alternativas, como o gás, talvez no futuro estejamos a usar eletricidade, porque queremos cozinhar de forma limpa", explica Jean Pierre Mugabo, que chefia a autoridade ambiental do Ruanda.
O Ruanda é um dos países mais densamente povoados de África. A capital, Kigali, tem mais de um milhão de habitantes e 85% deles dependem do carvão vegetal. Segundo Mugabo, esse é um perigo significativo para o meio ambiente.
"Temos muitas ameaças sobre as florestas em crescimento, mas o desmatamento é uma delas. Mais de 80% da população usa a biomassa; é por isso que queremos reduzir a pressão sobre as florestas, porque nossas florestas são recursos naturais. Queremos que as nossas árvores sejam usadas para a indústria da madeira e não para carvão", afirmou.
Preços acessíveis
Jovem moçambicano aposta no eco-carvão como alternativa
02:25
O Governo do Ruanda diz que vai incentivar o uso do gás com preços mais acessíveis para os mais pobres, mas alguns residentes, como John Mugisha, são céticos. Dono de um restaurante, Mugisha diz que a tecnologia do gás precisa ser modificada antes que essa medida entre em vigor.
"Nosso negócio é cozinhar e assar carne para os clientes do bar, e usamos carvão diariamente, e, a menos que algo mude, seria desafiador usar gás para assar carne. O nosso negócio entraria em colapso", sublinha.
O ambientalista e também membro do Parlamento ruandês, Frank Habineza, diz que a introdução do gás vai evitar também a invasão das florestas naturais.
"Eu apoio a substituição do carvão pelo gás, porque pode ajudar a conservar as nossas árvores, porque para fazer um saco de carvão são necessárias muitas árvores, e vimos que a maioria vem da parte sul do país, perto dos parques nacionais. E isso pode levar à invasão dos parques nacionais", diz.
O Ruanda planeja investir pelo menos 380 milhões de dólares em fogões de cozinha, como parte da redução do consumo de lenha e energia fóssil para cozinhar até 2030. O país da África Oriental segue o Quénia e o Uganda ao tomar medidas para desencorajar o uso de carvão.
Faces de Tete e do carvão de Moçambique
A vida mudou na província de Tete desde a chegada de empresas multinacionais para explorarem o carvão. Os ventos da mudança trouxeram, para alguns, oportunidades para melhorar de vida; para outros, novas preocupações.
Foto: DW/Marta Barroso
Coque, o trabalhador
Coque tem 28 anos. Trabalha há quatro anos na empresa mineira britânica Beacon Hill. Lá, amarra lonas nos camiões que transportam o carvão até ao vizinho Malawi. Tal como muitos jovens na região, dantes Coque fabricava tijolos que vendia no mercado local. Mas hoje, diz, vive melhor. Por camião recebe 800 meticais, cerca de 20 euros, que divide com o colega que estiver com ele no turno.
Foto: Marta Barroso
Paulo, o diretor de operações da Vale
Apesar dos enormes incentivos fiscais de que gozam as empresas dos megaprojetos em Moçambique, como a brasileira Vale, Paulo Horta diz que um projeto de mineração como o de Moatize gera uma cadeia produtiva tão grande que a população local beneficia em grande medida com a sua vinda para Tete: através da criação de outras empresas, serviços, tributos gerados por terceiros e criação de empregos.
Foto: DW/Marta Barroso
Gomes António, vítima de maus tratos
Gomes António Sopa foi espancado e detido pela polícia na sequência da manifestação de 10 de janeiro de 2012, quando os habitantes de Cateme bloquearam a passagem do comboio que transportava carvão das minas até ao porto da cidade da Beira. Muitas das promessas feitas pela Vale, responsável pelo reassentamento de centenas de famílias, continuam por cumprir. Ainda hoje, Gomes António sente dores.
Foto: Marta Barroso
Duzéria, a curandeira
Os habitantes do Centro de Reassentamento de 25 de Setembro, no distrito de Moatize, queixam-se de que muitos aspetos culturais não foram respeitados durante o processo de reassentamento pelas empresas mineiras. A curandeira do bairro, por exemplo, diz que no planeamento do complexo não se teve em conta a construção de uma casa para o seu espírito.
Foto: Marta Barroso
Lória, a rainha
Provavelmente Lória Macanjo e a sua comunidade deverão ser reassentadas brevemente: a multinacional Rio Tinto está já a operar um mina de carvão em Benga, perto da sua aldeia, Capanga. Também aqui, debaixo da terra que herdou do pai, a empresa mineira descobriu carvão. Mas a rainha sabe do destino dos que já se mudaram e recusa-se a deixar a sua casa.
Foto: DW/Marta Barroso
Olivia, a cabeleireira
Olivia (esq.) tem 29 anos e veio em 2008 do seu país, o Zimbabué, fugindo à crise financeira que lá se vive. Tete é agora a terra das grandes oportunidades, tinham-lhe dito. Hoje, é cabeleireira no Mercado Primeiro de Maio e, tal como a amiga Faith (dir.) faz trabalhos de manicure. Diz que, por dia, consegue 500 a 1000 meticais, entre 15 e 25 euros. Com esse dinheiro consegue sustentar-se.
Foto: DW/Marta Barroso
Guta, o empresário
Ao todo, Guta emprega 130 homens nas áreas de carpintaria e construção civil na cidade de Tete. Diz que desde a chegada das grandes empresas à região não sentiu grandes alterações no seu negócio. Os projetos de mineração requerem quantidades às quais não consegue responder. Uma vez, conta, a Vale pediu que fornecesse, juntamente com outra carpintaria da cidade, 5000 portas em 60 dias.
Foto: DW/Marta Barroso
Canelo, o vendedor de amendoins
Canelo diz que tem 11 anos. E diz também que frequenta a segunda classe. Todas as tardes vende amendoins no centro de Tete. "Para ajudar a mãe que não tem trabalho." O pai também está desempregado. Canelo é uma de muitas crianças que vendem amendoins na cidade. Um saco pequeno fica por dois meticais, cerca de cinco cêntimos de euro, o maior custa cinco meticais, treze cêntimos de euro.
Foto: DW/Marta Barroso
Catequeta, o ativista
Manuel Catequeta mudou-se para Tete em 2001. O ativista dos direitos humanos sabe o que custa viver com a subida constante do custo de vida. O seu salário não lhe permite luxos. A sala de sua casa "de dia é sala, de noite vira quarto". Mas mudar de casa, para já, está fora de questão. Hoje em dia, uma boa casa na capital provincial passa dos 5.000 dólares, cerca de 4.000 euros, por mês.
Foto: DW/Marta Barroso
Júlio, o otimista
O músico Júlio Calengo vê oportunidades de negócio, agora que em Tete há tantas empresas novas. O seu objetivo é, em breve, montar uma empresa de limpeza: tanto nos escritórios das empresas mineiras como nos das firmas que entretanto apareceram na cidade. Interessados não vão faltar, diz Júlio. O que é preciso é ter criatividade e, claro, dinheiro.