Ruanda quer famílias mais pequenas
11 de julho de 2012 No período pós 1994, que se seguiu ao genocídio daquele ano, em que mais de 500 mil pessoas da etnia tutsi foram mortas, o Ruanda viveu uma intensa vontade de se emancipar em todos os sectores. Contudo, o aumento da densidade populacional bem como as fracas infraestruturas no sector da saúde e formas de pensar intransigentes constituíam alguns dos obstáculos para um desenvolvimento sustentável.
Para controlar o crescimento populacional, o governo ruandês começou a exortar a sua população a controlar o número de filhos, que não deveria ultrapassar os três por casal. Hoje, tanto a taxa de mortalidade infantil bem como o número de crianças por mãe sofreram uma redução drástica.
Arthur Asiimwe, presidente do Centro de Comunicação do Ministério da Saúde ruandês, sustenta que “se olharmos, por exemplo, para os dados do mais recente estudo sobre saúde e crescimento demográfico que fizemos, vemos que há cinco anos atrás, em média, uma mãe ruandesa dava à luz 6,5 crianças. Em 2010, em média, uma mãe ruandesa deu à luz 4,6 crianças”.
O que demonstra que, prossegue Arthur Asiimwe, “as nossas campanhas de sensibilização estão a dar frutos no que toca à adesão às medidas de planeamento familiar. Portanto, acreditamos vir a ter mais resultados positivos enquanto continuarmos a introduzir mais estratégias nesse sentido”.
O presidente do Centro de Comunicação do Ministério da Saúde refere que todas as aldeias do Ruanda têm atualmente dois assistentes na área da saúde, que têm formação adequada e são responsáveis pela sensibilização da população local no que toca ao uso de contracetivos modernos e medidas de planeamento familiar.
Mudam mentalidades, mas persistem crenças
Em algumas regiões, os homens aderiram mesmo a outra estratégia. Uwimana Gadi explica que “nem a mãe dos meus seis filhos nem eu temos meios de sustento com que possamos contar regularmente, vivemos de atividades ocasionais nas redondezas”.
E por isso “perguntaram-me se estava interessado em fazer uma vasectomia para não ter mais filhos. Para mim já é difícil sustentar estas seis crianças, portanto por que haveria de continuar a ter mais?”, questiona-se Uwimana Gadi.
O Ruanda é um dos países mais pequenos e mais populosos de África, com mais de 400 pessoas por quilómetro quadrado. Contudo, muitas famílias continuam a acreditar na segurança proporcionada por famílias numerosas.
Joyce Uwera diz que não consegue aderir à política de planeamento familiar do governo por razões que se prendem com o genocídio de 1994. Para esta mulher ruandesa, “tanto eu como o meu marido perdemos os nossos pais durante o genocídio. Nem ele nem eu temos mais parentes, por isso queremos ter muitos filhos. Assim, eles compensarão aqueles que perdemos. Ter apenas um filho é impossível”, rematou Joyce Uwera.
Autores: Sylivanus Karemera / Marta Barroso
Edição: Glória Sousa / António Rocha