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Ruandeses em Moçambique receiam acordo de extradição

27 de março de 2024

Parlamento aprova acordo de extradição com o Ruanda. A comunidade ruandesa diz que se sente ameaçada, já que poderia haver o risco de opositores irem para a lista de extradição, sem critérios legais objetivos.

Cleophas Habiyareme, presidente da Associação dos Refugiados Ruandeses em Moçambique
Cleophas Habiyareme, presidente da Associação dos Refugiados Ruandeses em MoçambiqueFoto: Privat

O Parlamento moçambicano aprovou nesta quarta-feira (27.03) o acordo de extradição com o Ruanda, com os votos a favor da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, e contra da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição.

A RENAMO e o MDM argumentam que o Acordo de Extradição com Ruanda visa perseguir os opositores de Paul Kagame em Moçambique. Já a FRELIMO defende que o mesmo visa agradecer a intervenção ruandesa para combater ao terrorismo no norte de Moçambique

Em entrevista à DW, Cleophas Habiyareme, presidente da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique, diz que a comunidade ruandesa sente-se ameaçada, já que poderia haver o risco de opositores irem para a lista de extradição, sem critérios legais objetivos. Também defende que organizações de direitos humanos, como a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), deveriam estar atentas a estes acordos.

DW África: A comunidade ruandesa em Moçambique sente-se mais ameaçada com o acordo de extradição?

Cleophas Habiyareme (CH): Sim, a comunidade ruandesa se sente ameaçada porque o Governo pode se aproveitar deste acordo para pôr na lista todos os que ele considera como opositores em Moçambique.

DW África: O Governo de Moçambique justifica que o acordo visa, por exemplo, impedir que o país acolha pessoas desonestas ou criminosas. Concorda com a justificação?

CH: Não posso fazer comentários sobre uma decisão do Governo, do ministro, ou de membros do Governo. Mas, os governos de Chissano de Guebuza negaram-se a assinar este acordo. Hoje, o Governo de Nyusi, sim, assinou este acordo. Nesse caso, para não haver abuso, pedimos que o mesmo instaure um mecanismo objetivo. Antes de entregar uma pessoa, ele deve ter conhecimento de que essa pessoa que está a entregar não está na lista porque é opositor, mas sim porque realmente cometeu este crime de que está a ser acusado.

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DW África: De que forma a comunidade ruandesa pretende proteger-se de uma possível perseguição, no contexto deste acordo?

CH: Em qualquer país do mundo, a proteção do refugiado tem de ser assumida pelo país que o recebeu. Nós fomos recebidos pelo Governo de Moçambique. Isso significa que esse deveria ser o primeiro a assumir a nossa proteção. Hoje, assinar um acordo para começar a entregar os refugiados… fugimos [do nosso Governo] por questões e segurança. Nesse caso, acho que só podemos gritar para a comunidade internacional, à sociedade civil, para exigir que não haja a entrega dos refugiados ao Governo que está a pedir para assinar este acordo.

DW África: Acha que o Governo moçambicano traiu a comunidade ruandesa?

CH: Eu não posso afirmar que traiu. Até que ponto, até hoje, o Governo de Moçambique ainda não entregou nenhum refugiado, se o acordo aprovado... O acordo foi aprovado, mas Moçambique ainda não entregou refugiados. Vamos esperar para ver como esse país tratará [o tema] quando chegar o tempo de entregar os refugiados ao Governo de Kigali.

DW África: Ponderam apelar para a intervenção de algum organismo internacional de proteção ao refugiado ou exilado, como o  ACNUR, por exemplo?

CH: Nem é preciso pedir. Eu penso que é um dever da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) ficar atenta a estes acordos. E não apenas essa organização, mas todas as demais instituições de [defesa] dos direitos humanos. Elas precisam ficar atentas para ver como Moçambique porá em prática este acordo.

DW África: O vosso maior desejo neste momento é...

CH: A única coisa que eu posso dizer é: que tudo seja feito perante uma justiça honesta.

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