Ruas com nomes de colonialistas causam revolta em Berlim
Daniel Pelz | gs
4 de janeiro de 2017
Algumas ruas do "bairro africano" de Berlim geram controvérsia entre os moradores da capital alemã por homenagearem figuras ligadas ao passado colonial da Alemanha. E há quem queira mesmo alterar os nomes dos endereços.
Publicidade
À primeira vista, Lüderitzstrasse, Nachtigallplatz e Petersallee soam a endereços perfeitamente comuns na capital alemã. Mas Mnyaka Sururu Mboro sente-se indignado com a Petersallee - a Avenida de Peters.
Mboro, que nasceu na Tanzânia, está familiarizado com o nome de Carl Peters, um dos principais responsáveis pela fundação da África Oriental Alemã, uma ex-colónia que incluía o atual território tanzaniano.
Nomes coloniais nas ruas de Berlim - MP3-Stereo
"Depois dos seus assassinatos, enforcamentos, Carl Peters não foi honrado na Alemanha devido à sua brutalidade. Por isso, não consigo entender como é que algumas pessoas têm orgulho de existir uma rua em homenagem a ele neste bairro", afirma.
Mboro e outros ativistas integram a associação "Berlim pós-colonial", que há anos luta pela renomeação de três ruas da região conhecida como "bairro africano", em Wedding.
As outras ruas têm os nomes de Adolf Lüderitz, fundador da colónia Sudoeste Africano Alemão, atual Namíbia, e do explorador Gustav Nachtigall, que viajou por várias regiões de África.
Não deixar esquecer o colonialismo
"Muitas pessoas que moram aqui não sabem o que esses nomes significam", explica historiador Christian Kopp, da associação "Berlim pós-colonial". "Queremos novos nomes de uma lista de pessoas que lutaram contra o colonialismo nas antigas colónias alemãs", defende o ativista.
Mas muitos moradores têm opinião diferente e formaram uma associação para se opôr à renomeação dos endereços. "Esses nomes pertencem à nossa comunidade, ao nosso bairro, à nossa cultura", afirma Johann Ganz, que preside à organização. "Não queremos deixar esquecer o colonialismo, mas lembrar o que pode acontecer quando se envereda por tal caminho", diz.
A decisão está agora nas mãos da assembleia distrital local, que poderá demorar ainda alguns meses a decidir se altera ou não os polémicos nomes das ruas do bairro africano de Berlim.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.