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Ruth Weiss, uma alemã com o coração na África Austral

Claus Stäcker / Cristina Krippahl 18 de setembro de 2014

Na Alemanha quase ninguém conhece Ruth Weiss. Mas na África do Sul a nonagenária é talvez a mais famosa de todos os jornalistas alemães. As vicissitudes da História tornaram o continente a sua pátria de eleição.

Ruth Weiss
Ruth Weiss, escritora alemãFoto: public domain

O pai judeu perdeu o emprego quando Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha em 1933. A família abandonou a Baviera e rumou ao Cabo da Boa Esperança em busca de uma vida melhor.

Aos doze anos, Ruth Weiss obteve a nacionalidade sul-africana. Começou a publicar contos, policiais, romances e literaura infantil. A sua primeira viagem como jornalista levou-a a Tanganyka, como se chamava, na altura, a Tanzânia.

"Nem sabia que era capaz de o fazer, estava cheia de medo. Tive que me preparar muito bem. Desconhecia por completo a Tanzânia",

Ruth Weiss começou então a escrever contra o sistema racista do apartheid vigente na África do Sul, e é colocada na lista negra do regime.

Mas o seu trabalho era muito procurado por jornais internacionais de referência como o Financial Times. A jornalista passa temporadas em Harare, Zimbabué e Lusaka, Zâmbia, criando sozinha o seu filho Sasha, depois da separação do seu marido, Hans Weiss.

Boas relações com alguns dirigentes africanos

Ruth Weiss (dir.), Robert Mugabe (cent.) e Nadine Gordimer, escritora sul-africanaFoto: Archiv der BAB

Por isso tem que levar o filho para o trabalho, como aconteceu no aeroporto de Lusaka, uma vez que o Presidente zambiano Kenneth Kaunda recebia com salvas um convidado estrangeiro.

A escritora conta: "O miúdo começou a correr em direção aos canhões. Kaunda reparou e ordenou a um segurança que o fosse buscar. Num país europeu isto teria sido um enorme embaraço".

Mas Kenneth Kaunda, que nasceu em 1924, ainda hoje é um amigo. Uma amizade que nasceu nos anos 70, durante uma entrevista em que a jornalistas deparou com dificuldades de ordem técninca. O Presidente Kaunda esperou pacientemente que se desenvencilhasse, e, no fim, ocupou-se ele próprio do microfone e gravador.

Kaunda não é o único que não esquece Ruth Weiss. No seu nonagésimo aniversário recebeu também os parabéns do ex-secretário de Estado norte-americano e prémio Nobe da Paz, Henry Kissinger, que já conhece desde os tempos da escola na ciade bávara de Fürth, na Alemanha.

Mugabe visto por Ruth Weiss

Livro de Ruth Weiss "A Path through Hard Grass"

Mas há outro nonagenário que não está nas boas graças da jornalista: o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe.

Em 1980, Mugabe tornou-se no primeiro chefe de Governo negro daquele país. No dia da ajuramentação, Ruth Weiss aguardava o político juntamente com a família Mugabe e alguns amigos para celebraremem conjunto:

"A expectativa e a alegria eram grandes. Mas quando apareceu limitou-se a apertar a mão a poucas pessoas e depois regressou sozinho para o seu quarto".

Para Ruth Weiss esta é uma cena-chave para compreender a personalidade do autocrata. um homem solitário e calculista, sem charme nem carisma, diz. Após a independência, Mugabe começa a disseminar um clima de medo.

Os jovens jornalistas que Weiss está a formar já não se atrevem a escrever a verdade. A escritora vê-se obrigada a deixar o Zimbabué.

Ruth Weiss tem muitas mais histórias para contar, e aquelas que viveu com Nelson Mandela, o primeiro Presidente negro da África do Sul, são as suas preferidas.

Já a Alemanha é um tema difícil para esta escritora judia, que trabalhou para DW em meados dos anos 70.

Mas hoje a reconciliação é completa e a Alemanha, de tal modo que optou por passar o resto da sua vida em Lüdinghausen, no país que um dia a obrigou a partir para África.

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