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PolíticaSão Tomé e Príncipe

Delfim Neves diz que ataque foi "montagem" para o acusar

Lusa
30 de novembro de 2022

Em declarações um dia após a sua libertação, o ex-presidente do parlamento são-tomense pediu ainda a intervenção da comunidade internacional perante "a perseguição para aniquilação física" de opositores políticos.

São Tomé und Príncipe Präsidentschaftswahlkampf 2021 | Dellfim Neves
Foto: Ramusel Graça/DW

O ex-presidente do parlamento são-tomense Delfim Neves afirmou, esta quarta-feira (30.11), que o assalto ao quartel-general militar, na semana passada, foi "uma montagem" para o acusar e pediu a intervenção da comunidade internacional perante "a perseguição para aniquilação física" de opositores políticos. 

"Isso foi uma montagem apenas para acusar Delfim Neves e supostamente Arlécio Costa", declarou Delfim Neves, que foi libertado na terça-feira, com termo de identidade e residência e obrigatoriedade de apresentação periódica às autoridades, depois de ter sido preso pelos militares, ao início da manhã de sexta-feira, por alegadamente ter sido identificado como um dos mandantes do ataque.

"Quero apelar à população para estar atenta. (...) Se não houver uma forma de travar esta onda de ações maquiavélicas, garanto-vos que não vamos parar por aqui. As próximas vítimas que neste momento ainda continuam na lista vão desaparecer sem rasto", afirmou, numa conferência de imprensa.

Entre os mortos está o antigo oficial do 'batalhão Búfalo' Arlécio CostaFoto: Ramusel Graça/DW

Quatro pessoas morreram, em circunstâncias que estão sob investigação, e 16, incluindo 12 militares, foram detidas após o ataque de sexta-feira a um quartel militar em São Tomé e Príncipe, numa ação classificada como "tentativa de golpe de Estado" pelas autoridades são-tomenses e condenada pela comunidade internacional.

Entre os mortos está o antigo oficial do 'batalhão Búfalo' Arlécio Costa, condenado em 2009 por tentativa de golpe de Estado, e apontado como suspeito de ser um dos mandantes do ataque juntamente com o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves -- ambos detidos pelos militares nas suas respetivas casas.

Nas suas declarações de hoje à imprensa, Delfim Neves criticou: "Mataram a prova viva", afirmando esperar que "a comunidade internacional entenda e faça qualquer coisa rapidamente".

 "O que está a acontecer no nosso país é uma perseguição de aniquilação física das pessoas que podem incomodar politicamente. E eu sou uma delas. Não estou tranquilo porque se a estratégia falhou, por alguma razão, então vão ao plano B, C ou D", comentou.  

 "Quando vem um dirigente do Estado dizer que é uma tentativa de golpe de Estado e fala dos nomes mais conhecidos, ninguém vai falar noutra coisa", acrescentou, referindo-se à conferência de imprensa do primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que na manhã de sexta-feira anunciou que o ataque tinha sido uma tentativa de golpe de Estado e adiantou que estavam já detidos Delfim Neves e Arlécio Costa.

Foto: Ramusel Graca/DW

Essa narrativa continuou e as pessoas dizem que "Delfim Neves tem de ser morto como se fosse alguém que estivesse a incomodar demais", prosseguiu.

Delfim Neves afirmou a sua inocência e insistiu numa investigação independente, acusando o Ministério Público de não ter autonomia face ao poder político.

"Que a investigação seja feita de forma profunda. A minha inocência, dentro da minha consciência, está provada. É preciso que haja investigação independente. O problema é o poder político com mão metida no sistema da justiça, sobretudo na investigação, é o grande risco", sublinhou.

Aos são-tomenses, transmitiu uma mensagem: "Esqueçam esse preconceito que Delfim Neves é a peça maldosa da sociedade que tem de ser aniquilada. Todos temos família".

"Política suja"

Delfim Neves disse ainda que desistirá da política: "se isto é a atual prática de fazer política, com este atual poder", afirmou o ex-presidente do parlamento, acrescentando: "jamais entrarei na política suja de São Tomé e Príncipe".

Três dos quatro atacantes e Arlécio Costa morreram na sexta-feira e imagens dos homens com marcas de agressão, ensanguentados e com as mãos amarradas atrás das costas, ainda com vida e também já na morgue, foram amplamente divulgadas nas redes sociais. Alguns vídeos mostram Arlécio Costa no chão, de mãos presas, a ser agredido com um pau. 

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, brigadeiro Olinto Paquete, afirmou no domingo que os três assaltantes morreram na sequência de uma explosão quando os militares procuravam libertar o refém e Arlécio Costa porque se "atirou da viatura".  

Delfim Neves, eleito nas legislativas de outubro de 2018 pelo Partido de Convergência Democrática (PCD), presidiu ao parlamento são-tomense no anterior mandato, que terminou com a vitória da Ação Democrática Independente (ADI) com maioria absoluta nas eleições de setembro passado.

Nestas legislativas, foi eleito deputado, juntamente com o ex-secretário-geral da ADI Levy Nazaré, pelo movimento Basta, criado em junho do ano passado. Atualmente tem o mandato suspenso.

Delfim Neves também concorreu às presidenciais de 2021, tendo ficado colocado em terceiro lugar na primeira volta, resultado que contestou alegando ter ocorrido uma fraude "maciça".