São Tomé e Príncipe: Bom Jesus quer maioria absoluta
Lusa
20 de setembro de 2022
Primeiro-ministro são-tomense e candidato do MLSTP/PSD às eleições legislativas pede "maioria absoluta". Jorge Bom Jesus pretende margem confortável "para concretizar os projetos e o programa" e rejeita acordo com ADI.
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O atual primeiro-ministro são-tomense e candidato do MLSTP/PSD às eleições legislativas de domingo (25.09), Jorge Bom Jesus, pede maioria absoluta para "governar de mãos livres", mas admite fazer coligações pós-eleitorais, rejeitando qualquer acordo com a Ação Democrática Independente (ADI, oposição).
"Eu estou a pedir maioria absoluta para ter mãos livres, de forma que eu possa de facto concretizar os projetos e o programa que nós temos para o país e nós estamos confiantes", afirmou Jorge Bom Jesus, que conclui agora um mandato à frente do Governo de São Tomé e Príncipe, numa coligação entre o seu partido, Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD) e PCD/UDD/MDFM.
Sobre a possibilidade de fazer um acordo pós-eleitoral para garantir uma maioria absoluta, Jorge Bom Jesus foi perentório: "Uma certeza, eu tenho, não farei nenhuma coligação com o ADI. Esta certeza eu tenho".
A Ação Democrática Independente é liderada por Patrice Trovoada, antecessor de Bom Jesus no Governo, e que regressou ao país no domingo (18.09), após quatro anos de ausência, para participar na reta final da campanha eleitoral. "O resto, o futuro nos dirá, mas para quem governou com quatro partidos como eu, sabem que eu sou um homem resiliente e o interesse superior da São Tomé e Príncipe obriga-me a buscar soluções para o país", acrescentou. "Naturalmente estou a buscar o melhor resultado para o MLSTP, mas não sendo possível, temos de viabilizar o país", comentou.
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Governar sozinho
Questionado sobre se já contactou alguns dos outros partidos que concorrem às legislativas do próximo domingo, Jorge Bom Jesus disse que não. "Cada um está a trabalhar no seu lado, estou a fazer o meu melhor para governar sozinho. Não sendo possível, naturalmente, somos todos são-tomenses, STP, somos todos primos", referiu.
Durante os quatro anos de governação, admitiu, não conseguiu concretizar tudo a que se tinha proposto. "Nós fizemos aquilo que era possível e, contra ventos e marés, num contexto de coabitação com os presidentes da República [Evaristo Carvalho e Carlos Vila Nova], mas também numa coligação ampla de quatro partidos. Eu tive de ter muita mola, muita resiliência, muito espírito de diálogo e de ponte para que nós pudéssemos, enfim, chegar ao final do mandato, um parto que muita gente não contava que acontecesse", comentou.
Os últimos quatro anos, salientou, foram marcados por dificuldades, nomeadamente a pandemia de Covid-19, o aparecimento de dengue e enxurradas que causaram destruição em alguns pontos do país.
Sobre as prioridades para um segundo mandato, caso seja eleito, Bom Jesus apontou a situação económica do país. "Os projetos estruturantes vão ter de arrancar", comentou, dando como exemplos o porto de águas profundas de Fernão Dias, o aeroporto, o alargamento da marginal e a requalificação da capital, um programa para garantir a soberania alimentar e nutricional, o turismo e os serviços.
"Só o crescimento económico é que vai permitir o recuo da pobreza, e, sobretudo, a criação de emprego jovem. Os programas sociais vão continuar também, vamos ter de apoiar a população para mitigação do impacto da Covid-19", prosseguiu.
Recuperação do hospital central Ayres de Menezes
Medidas no eixo social, englobando a saúde, educação e proteção social estão pensadas e a recuperação do hospital central Ayres de Menezes é outra prioridade, até porque, salientou: "a nova era do petróleo na nossa zona económica exclusiva vai arrancar e penso que os hospitais servem para os turistas, para a população, mas também para prestar serviços às plataformas".
Questionado sobre se está confiante que será viável explorar petróleo ao largo da costa são-tomense, o candidato garantiu que sim. "Deus não é tão injusto para dar petróleo a toda a sub-região e não dar a São Tomé e Príncipe. Nós acreditamos que, depois de tanto sofrimento, Deus e a natureza estão a reservar alguma boa nova para nós e será o petróleo de certeza", acrescentou.
No total, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem às legislativas, no mesmo dia em que decorrem eleições autárquicas e para o governo regional do Príncipe.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
Foto: João Carlos/DW
Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
Foto: João Carlos/DW
Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
Foto: João Carlos/DW
Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
Foto: João Carlos/DW
Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".