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CulturaSão Tomé e Príncipe

STP: Alda Espírito Santo, em risco de esquecimento?

5 de maio de 2022

Grupo de são-tomenses na diáspora quer dignificar o nome de Alda Espírito Santo, em todas as suas facetas, para evitar que a figura do nacionalismo africano seja esquecida. "É preciso fazer muito mais", defendem.

São Tomé e Príncipe Alda Espírito Santo
Foto: João Carlos/DW

Alda Espírito Santo foi uma das fundadoras do nacionalismo são-tomense, uma figura da política e da cultura que transcendeu o mundo da língua portuguesa e que esteve desde sempre ligada às lutas pelas independências das ex-colónias em África. Pelo seu vasto legado, Inocência Mata, professora são-tomense na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, defende em declarações à DW que esta "tão grada figura da História Moderna de São Tomé e Príncipe" não deve ser esquecida.

"Figuras como Alda Espírito Santo podem sim cair no esquecimento se as comunidades de onde emanam nada fizerem", alertou.

Alda Espírito Santo (ao centro), em Lisboa, PortugalFoto: Privat

Silêncio do Governo

A professora de literaturas africanas lamenta "algum" desinteresse do Estado são-tomense em dignificar o nome da sua conterrânea, que foi ministra da Informação e Presidente da Assembleia Nacional na I República, durante a vigência do regime de partido único. 

"Não se fez nada. Propus em 2019 a este Governo repetidas vezes assinalar a década do desaparecimento de Alda Espírito Santo. Escrevi à ministra da Educação, até ao primeiro-ministro. Nem se dignaram a acusar a receção das minhas mensagens", adiantou.

Ilidiacolina Vera Cruz é dirigente da 'Mén Non', associação de mulheres são-tomenses em Portugal, e co-organizadora de um evento realizado no dia 30 de abril, no Centro Cultural de Cabo Verde, em homenagem a Alda Espírito Santo.

"Acho que muito pouco se fez. Alda Espírito Santo deixou-nos um legado tão grande que acho de uma ingratidão muito grande a forma como se lida com isto desde a sua morte", comentou.

Ilidiacolina Vera Cruz, dirigente da 'Mén Non', associação de mulheres são-tomenses em PortugalFoto: João Carlos/DW

Por isso, Inocência Mata, parceira da homenagem, defende a celebração da sua obra através de ações concretas. "Publicar ou reeditar a sua obra, criar uma casa-museu na sua casa da Chácara. Significa assinalar determinadas datas a ela associadas com eventos; significa proceder à institucionalização de datas relacionadas à sua vida; significa estudar a sua obra e incluir a sua poesia nos programas escolares; significa, enfim, lembrá-la em modo quotidiano ou mesmo ritualístico para que gerações vindouras são-tomenses venham a saber da sua grandeza e da singularidade", sugeriu.

A académica são-tomense concorda ainda com a prevista institucionalização do 30 de abril, dia de nascimento de Alda Espírito Santo, como 'Dia Nacional da Cultura' em São tomé e Príncipe.

Preparar o centenário

Se fosse viva, Alda Graça – como também era conhecida – teria completado 96 anos no dia 30 de abril. Em 2026, quando se assinalarem os 100 anos do seu nascimento, os são-tomenses na diáspora querem mais visibilidade para a figura da poetisa.

"Esperemos que o país comece a preparar-se para assinalar o centenário de Alda Espírito Santo em 2026 para não acontecer como no centenário de Francisco José Tenreiro, por ventura o mais ilustre são-tomense do século XX, que passou com uma total ausência de qualquer comemoração em 2021", asseverou Inocência Mata.

Homenagem a Alda Espírito Santo, realizada no dia 30 de abril, no Centro Cultural de Cabo Verde, em LisboaFoto: Privat

António Quintas, embaixador de São Tomé e Príncipe em Portugal, também reconhece que "é preciso fazer muito mais" por Alda Espírito Santo e informou que se pretende erguer uma estátua em homenagem à política na capital são-tomense, em parceria com a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e o envolvimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). 

"Nota-se também que há um aceitar do reconhecimento do papel que ela desempenhou em todos os momentos", referiu. "Digo isto para deixar claro que, apesar de tudo, há essa vontade", acrescentou.

Casa onde viveu Alda Espírito Santo, na Chácara, São Tomé e PríncipeFoto: João Carlos/DW

Casa-museu?

O diplomata são-tomense associou ao referido projeto a hipotética ideia de transformação da casa onde viveu Alda Espírito Santo num museu que poderia congregar todo o seu espólio, tendo enaltecido a sua ligação ao Centro de Estudos Africanos e à Casa dos Estudantes do Império em Portugal. 

Entretanto, uma fonte bem informada em São Tomé deu a conhecer à DW que, no dia 30 de abril, além de uma tertúlia em parceria com a Santa Casa da Misericórdia, a Direção de Cultura depositou uma coroa de flores na União Nacional dos Escritores e Artistas São-tomenses (UNEAS).

Na Universidade de São Tomé houve uma palestra sobre a vida da poetisa, prevendo-se que a 7 de maio decorra uma gala comemorativa organizada pelo Ministério do Turismo e Cultura. 

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