Em São Tomé e Príncipe, ex-primeiro-ministro, Patrice Trovoada, terá sido financiador do golpe de Estado de 2003. Assembleia Nacional criou uma comissão de inquérito para investigar denúncias.
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A Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe criou uma comissão de inquérito para investigar as denúncias de Peter Lopes. Segundo o ex-mercenário do extinto Batalhão Búfalo, na África Sul, o ex-primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, terá sido o financiador do golpe de Estado ocorrido em 2003 nas ilhas, e que visava eliminar fisicamente os antigos Presidentes Manuel Pinto da Costa e Fradique de Menezes e o ministro da Defesa, Óscar de Sousa.
A comissão parlamentar de inquérito vai investigar o eventual envolvimento do ex-primeiro ministro são-tomense. O grupo foi criado na quinta-feira passada (14.02), com 30 votos a favor das bancadas do partido no poder MLSTP/PSD e da coligação PCD-MDFM-UDD e 22 contra da Ação Democrática Independente (ADI).
OposiçãoO maior partido da oposição são-tomense insurgiu-se contra a iniciativa, alegando que a "intentona foi amnistiada em 2003", como lembrou Abnildo de Oliveira, líder da bancada da ADI. "Uma questão já amnistiada, não se entende o facto da Assembleia Nacional vir agora reabrir o processo. Nós estamos a favor de que as coisas sejam devidamente esclarecidas."
São Tomé e Príncipe: Golpe de Estado de 2003 sob investigação
Quem também contraria a decisão da Assembleia Nacional é Arlindo Ramos, antigo ministro da Defesa no governo da ADI (2014-2018) e atual deputado da bancada do maior partido da oposição. "Nós temos hoje uma sociedade muito crispada e não podem ser os deputados a contribuir para que esta crispação aumente ainda mais. Pelo contrário, devemos pautar por um comportamento que apazigue a sociedade", diz.
Para o MLSTP-PSD e a coligação PCD-MDFM-UDD, o golpe de Estado deve ser investigado. José Barros é deputado do partido no poder. "Se Patrice mandou matar, ele tem de assumir porque a vida pertence a Deus. O medo que tem é porque a prova é viva. Isso tem que ser investigado".
Danílson Couto, líder da bancada parlamentar do PCD, também aplaude a iniciativa. "Nós temos o hábito neste país de conviver com acusações e deixar por explicar. O povo de São Tomé e Príncipe merece consideração, o mínimo de respeito no sentido de clarificar todas as acusações que pairam sobre a classe política."
Golpe de Estado em 2003
O são-tomense Peter Lopes, residente na África do Sul, participou no golpe de Estado de 2003. Num vídeo publicado nas redes sociais em 2017, o antigo mercenário do extinto Batalhão Búfalo durante o Apartheid (África do Sul), acusou Patrice Trovoada de financiar o golpe. Disse ainda que o ex-primeiro-ministro são-tomense mandou eliminar os antigos Presidentes Manuel Pinto da Costa, Fradique de Menezes e o atual ministro da Defesa, Óscar Sousa.
"Ele estava envolvido e todo mundo sabe. As autoridades, os mais velhos políticos deste país tem a certeza e sabem, mas não tinham coragem de dizer. Mas todos sabiam que Patrice Trovoada estava 100% envolvido no financiamento do golpe de Estado de 2003."
Peter Lopes, que se encontra neste momento em São Tomé, disse à imprensa que o Ministério Publico não está interessado em averiguar a veracidade dos factos.
"Eu mandei uma carta à Procuradoria-Geral da República. Por que não me responderam? (…) Como souberam que eu ia dizer a verdade, e a verdade iria incomodar muita gente, o Tribunal simplesmente rasgou a minha carta."
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.