São Tomé justifica reconhecimento de "uma só China"
Juvenal Rodrigues (São Tomé)
22 de dezembro de 2016
O primeiro-ministro Patrice Trovoada justifica o reconhecimento da “existência de uma só China, representada, no Direito Internacional, pela República Popular da China”, para reposicionar o país no atual cenário mundial.
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Para o primeiro-ministro são-tomense a atual dinâmica mundial está a levar ao nacionalismo e ao protecionismo, mas também a mudanças radicais ao nível macroeconómico. Segundo Patrice Trovoada, São Tomé acaba de reagir a essas mesmas mudanças:
"Daí que temos de tomar em consideração os pesos específicos de grandes potências mundiais, dos grandes centros de decisão, para poder posicionar uma ilha pequena, isolada e sem grandes recursos. Uma coisa são os sentimentos e outra coisa é a 'realpolitik', os interesses do país e do Estado. E o Estado funciona em função dos seus interesses".
O chefe do governo são-tomense enumerou outros argumentos que levaram à tomada de decisão coordenada com o presidente da República, Evaristo Carvalho.
Taiwan passa a ter apenas dois aliados em África: Burkina Faso e a Suasilândia
STP TAIWAN DIPLOMATIE - MP3-Mono
Recorde-se que a República Popular da China hoje é o maior parceiro bilateral do continente africano com uma relação estratégica muito importante com a União Africana de que nós fazemos parte. A República Popular da China é a segunda economia mundial, é membro permanente do Conselho de Segurança. A República Popular da China coopera no quadro do Fórum Macau com todos os países membros da CPLP.
Para Taipé a decisão do executivo de Patrice Trovoada cortar as relações bilaterais pode ter razões financeiras. "O governo de São Tomé e Príncipe, com dificuldades financeiras excessivas e exigências para além daquelas que a República da China-Taiwan poderia satisfazer, ignorou 20 anos de relações diplomáticas amigáveis", diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros taiwanês.
O Taiwan está, pois, a perder peso a nível internacional: o número de países que reconhecem Taiwan caiu consideravelmente nas últimas décadas. Em África apenas o Burkina Faso e a Suasilândia continuam a reconhecer Taiwan. A nível mundial, apenas 21 países e governos mantêm atualmente relações oficiais com Taiwan e a maioria do mundo e das Nações Unidas não reconhecem formalmente a ilha.
São Tomé quer reatar relações com a República Popular da China
Patrice Trovoada admite que o reconhecimento do princípio de uma só China “poderá abrir a porta para o restabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China” e reforçar o intercâmbio comercial entre os dois países que já tem um peso considerável.
"São Tomé e Príncipe não pode discriminar e não pode ser discriminado, sobretudo porque a nossa visão de desenvolvimento passa por abertura, cooperação com todos, passa pelo posicionamento de São Tomé e Príncipe como uma plataforma de serviços no golfo da Guiné. A República Popular da China tem uma troca comercial de 200 mil milhões de dólares para o continente africano todos os anos. E mesmo a nível de São Tomé e Príncipe, depois de Portugal, a República Popular da China é o país com o qual temos maiores trocas comerciais. Precisamos de reposicionar São Tomé e Príncipe no contexto global".
O processo de transição será de 30 dias. O primeiro-ministro garantiu que foram acautelados aspetos relacionados com a permanência dos estudantes são-tomenses que estão em Taiwan, bem como os diversos projetos em curso nos domínios da Saúde, Energia e Agricultura, entre outros. As modalidades serão conhecidas dentro de dias.
As relações diplomáticas entre São Tomé e Príncipe e Taiwan foram estabelecidas em maio de 1997, por decisão do então chefe de Estado, Miguel Trovoada, pai do atual primeiro-ministro.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.