São Tomé e Príncipe: Olinto Daio declina convite da ADI
Lusa | cvt
25 de novembro de 2018
Partido contava indicar Daio para assumir próximo Governo e agora vai "procurar outro nome". Antes, Trovoada havia recusado continuar à frente do Executivo. Oposição mantém decisão de chumbar ADI no Parlamento.
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Olinto Daio, indicado pela Ação Democrática Independente (ADI) para chefiar um eventual Governo são-tomense, declinou o convite, este süabado (24.11), alegando não encontrar na proposta do líder do partido, Patrice Trovoada, possibilidade de implementar valores que "dão sentido à vida" da população.
Em reação, o presidente do Ação Democrática Independente (ADI), disse este domingo (25.011) que o partido vai indicar, nos próximos dias, um novo nome para primeiro-ministro.
"A ADI vai procurar um outro nome, mas tem de reunir as estruturas [do partido], face a este elemento novo, que foi uma atitude pessoal do Olinto Daio", afirmou Patrice Trovoada, presidente do ADI e primeiro-ministro do Governo são-tomense em funções, até à nomeação de um novo executivo, o que deverá acontecer esta semana.
Justificativa
"Recentemente eu fui contatado pelo presidente da ADI propondo-me para chefiar o próximo XVII Governo. Os valores que acarinhamos enquanto nação - Família, paz, concórdia, hospitalidade, responsabilidade e respeito - são os que tornam São Tomé e Príncipe forte e dão sentido às nossas vidas e todos eles fariam parte do meu trabalho", disse Olinto Daio, no comunicado divulgado este sábado.
"Ora tendo analisado e ponderado, cheguei à conclusão de que esses valores não estão contidos nesta proposta de chefiar o Governo. Por isso, decidi em não aceitá-la", acrescentou.
Ministro da Educação, Cultura, Ciências e Comunicação do anterior Governo da ADI, Olinto Daio, liderou uma comissão do seu partido que pretendia estabelecer contatos com a sociedade civil e restantes partidos políticos com o objetivo de procurar uma estabilidade social e política, após as eleições legislativas em São Tomé e Príncipe de 7 de outubro.
A indicação de Olinto Daio para primeiro-ministro de um Governo da ADI foi decidida este mês pela direção do partido, depois de o seu presidente e anterior primeiro-ministro, Patrice Trovoada, ter recusado chefiar um próximo executivo, alegando que o seu afastamento seria necessário para alcançar um entendimento entre os partidos, já que defendia a necessidade de o país ter um governo de base alargada.
"No mesmo espírito de patriotismo e dever, e se o objetivo fosse aperfeiçoar a nossa união e aderirmos aos valores são-tomenses, eu estaria disposto, pois tenho um contributo para dar a este país que tanto me deu", sublinhou Olinto Daio.
O responsável diz acreditar, tal como "muitos são-tomenses também acreditam", que é possível serem "um só povo, alcançando o que é possível, construindo essa união perfeita".
Olinto Daio disse ainda que "o espírito de patriotismo e o dever que supera as diferenças de partidos e a ideologia" o levaram a aceitar o convite inicialmente, mas referiu que, depois de "analisar e ponderar" devidamente, recusou a proposta.
Auscultações presidenciais
O Presidente são-tomense recebeu, entre sexta-feira (23.11) e sábado (24.11), os partidos com representação parlamentar, depois da posse da nova Assembleia Nacional, na quinta-feira (22.11) passada e no âmbito das conversações para a formação do XVII Governo Constitucional, depois de demitir, por decreto, esta semana o Governo liderado pelo primeiro-ministro cessante, Patrice Trovoada.
A coligação PCD-UDD-MDFM elegeu cinco deputados na Assembleia Nacional (parlamento) e assinou com o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), com 23 assentos, um acordo de incidência parlamentar que lhes dá uma maioria absoluta de 28 deputados para formar o próximo governo.
A Ação Democrática Independente (ADI) foi o partido mais votado nestas eleições com a maioria simples de 25 deputados.
O presidente do MLSTP-PSD, Jorge Bom Jesus, garantiu, por seu lado, que a oposição constituída em nova maioria indigitado pelo chefe de Estado.
Após o encontro com Evaristo Carvalho, na sexta-feira, o presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), segundo partido mais votado, com 23 eleitos), Jorge Bom Jesus, havia dito acreditar que o Presidente vai chamar, na próxima semana, a ADI a formar Governo, garantindo que este executivo cairá no parlamento.
Já o Movimento Independente de Caué (MIC), que concorreu às legislativas no distrito ao sul de São Tomé, onde elegeu dois deputados, garantiu que vai dar o seu apoio ao "partido que tiver a maioria" no Parlamento.
"Nós não estamos inclinados, de momento não temos acordos com nenhum partido, seja a Ação Democrática Independente (ADI), nem o MLSTP-PSD mais a coligação, mas estamos disponíveis a colaborar para o bem de São Tomé e Príncipe", acrescentou António Monteiro, um dos dois deputados eleitos pelo MIC, sem referir explicitamente quem irá apoiar.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.