São Tomé e Príncipe: Moção de confiança ao Governo
Ramusel Graça
25 de junho de 2019
A moção de confiança no Parlamento de São Tomé e Principie foi aprovada, mas os protestos face ao estado da justiça fazem-se ouvir por parte da oposição. O primeiro-Ministro promete mudanças em breve.
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Em São Tomé e Príncipe aumenta o número de casos de prisão preventiva e de violação dos direitos humanos. Denunciou esta terça-feira a oposição no debate sob o estado da justiça, em que Jorge Bom Jesus, primeiro-ministro são-tomense defendeu que os problemas que a justiça enfrenta não nasceram com seis meses da sua governação, mas prometeu medidas para reverter a situação.
O primeiro-ministro, deixou entender que saiu reconfortado do debate parlamentar que deu lugar a uma moção de apoio apresentado pela bancada que sustenta o seu executivo.
A moção de confiança foi introduzida na mesa da Assembleia Nacional e pela bancada parlamentar do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), que suporta o Governo, a pedido do próprio executivo, que nos últimos meses tem sido acusado pela oposição de inação face ao aumento do desemprego e do custo de vida, além das críticas pela falta de combustíveis nos postos de abastecimento.
Pedido de demissão
Na última sessão parlamentar, o ex-líder da bancada parlamentar do partido Ação Democrática Independente (ADI), na oposição, Abnildo de Oliveira, pediu a queda do Governo de Jorge Bom Jesus, que acusou de estar a "violar a Constituição da República". Também um pedido de "debate urgente sobre o estado da justiça", foi introduzido na mesa da Assembleia Nacional pela bancada do ADI.
Com efeito, o maior partido da oposição ADI continua a não aceitar os moldes em que foi detido Américo Ramos antigo ministro do Plano e Finanças e assessor para assuntos financeiros do Presidente da República, acusado de vários crimes entre eles, o branqueamento de capitais.
Caos na justiça
Carlos Cassandra deputado da ADI pediu esclarecimentos ao governo no debate sobre o estado da justiça. "A polícia judiciária não tem competência para dar ordens para prender ninguém há casos de Doutor Américo e outros casos”, conta.Sem apontar nomes, Cassandra denunciou ainda que existem juízes incompetentes a administrar a justiça em São Tomé e Príncipe. "Como o senhor se sente perante um ato de um juiz, do supremo tribunal que copia despachos ainda mais de estrangeiros”.
São Tomé e Príncipe: Parlamento aprova moção de confiança ao Governo
Já o seu colega José António, relatou algumas anomalias existentes no seio do Supremo Tribunal. A justiça é alvo de críticas depois do vai r vem sobre o caso cervejeira Rosema, ora na posse dos irmãos Monteiros, ora nas mãos do empresário angolano Mello Xavier.
"Tem havido grupo de indivíduos que se encontram com os juízes, nós temos acórdãos que sobem para o tribunal antes mesmo, para os juízes indicados. Estamos num país onde o estado de direito vai muito mal”, denúncia José António. ReformasO atual governo elegeu o combate a justiça como uma das bandeiras de governação, mas o MLSTP acusa o Presidente de República Evaristo Carvalho de não colaborar, segundo o deputado do MLSTP/PSD António Barros.
"Quando a justiça quer agir vem automaticamente o Presidente da República ameaçar em derrubar o governo… quando se trata dum processo de justiça (….), a fazer intimidações o Presidente da República não esta a colaborar na luta contra a corrupção é por isso que a justiça não está bem”.
Jorge Bom Jesus promete reformas e medidas de combate à corrupção e não aceita que a justiça esteja mal em São Tomé e Príncipe. "Não estamos presos a uma visão fatalista da justiça, não consideramos que ela esteja de facto moribunda, o problema da justiça não nasceu com este governo neste escassos seis meses”.
Jorge Bom Jesus prometeu melhorias na justiça, numa sessão em que seu governo saiu reforçado depois de moção de confiança renovado pelos votos da maioria parlamentar e 26 contra do ADI e de um deputado do movimento independente de Caue.
"Precisamos de tempo para plantar, para regar e depois tempo para desfrutar e em seis meses não é possível. O governo num esforço titânico no uso da diplomacia conseguiu arrecadar acima de 15 milhões de dólares em pouco tempo e vamos continuar”.
Jorge Bom Jesus diz em reações nas redes sociais, sobre a durabilidade do seu governo não o deixava intranquilo.
Jovem são-tomense ajuda sem-abrigo em Lisboa
Depois de passar por dificuldades como imigrante na capital portuguesa, Mirko Santiago tomou a iniciativa de recolher alimentos desperdiçados e distribuí-los aos sem-abrigo.
Foto: DW/Joao Carlos
Gesto de solidariedade
Mirco Djallu Vaz Santiago abraçou uma causa solidária. O jovem são-tomense de 26 anos chegou a Portugal em 2010 como turista e passou por inúmeras dificuldades como imigrante. Mesmo em situação irregular em Portugal, decidiu por conta própria ajudar os sem-abrigo espalhados pela capital portuguesa. Atualmente, abraça o desafio contra o desperdício.
Foto: DW/Joao Carlos
Contra o desperdício
Mirco Santiago trabalhava antes numa fábrica de bolos, que eram comercializados em supermercados. No trabalho, viu que muitos bolos iam diariamente para o lixo por não estarem em condições adequadas de comercialização. De modo a evitar o desperdício, achou por bem doar os bolos que recebia às pessoas carenciadas a viver nas ruas de Lisboa.
Foto: Instagram/@tchezboy
Para os que mais necessitam
Na sua rotina entre o trabalho e a casa, o jovem de São Tomé e Príncipe tratou de identificar quem seriam os potenciais beneficiários da sua ação humanitária. Partilhou a ideia pelas redes sociais e encontrou muitos apoiantes entre os seus seguidores no Facebook e no Instagram. Mirco Santiago lamenta o volume de alimentos, ainda em bom estado de consumo, que são deitados ao lixo.
Foto: DW/Joao Carlos
Mãos à obra
Não conformado com a situação, Mirco Santiago meteu mãos à obra. Saiu à rua e fez algo de útil pelos outros. Ao longo da semana, nos dias destinados à recolha de lixo, desloca-se por meios próprios aos locais onde sabe que há desperdício, que lhe é doado. E recolhe pequenas quantidades.
Foto: Instagram/@tchezboy
Organização das embalagens
Mirco Santiago recolhe vários alimentos. Na casa onde vive, em Loures, tem a preocupação de conservar os alimentos, como frango, entrecosto, salsicha, pão e bolos de carne. Depois, no dia seguinte, aquece os produtos e organiza a composição das embalagens. A distribuição é feita até antes da uma da manhã, porque tem de apanhar o metro para regressar à casa.
Foto: Instagram/@tchezboy
Abandonados
No Largo de São Domingos, no Rossio, pernoitam muitos sem-abrigo, alguns incomodados com o facto de terem sido abandonados à sua sorte. É o caso de Ana Maria, nascida no Alentejo, que partilha o local onde dorme no chão. Ana Maria viveu dois anos sozinha na rua antes de encontrar o companheiro João Paulo.
Foto: DW/Joao Carlos
"Queremos trabalho"
O companheiro de Ana Maria veio de São Tomé num avião militar quando tinha 11 meses. O pai era militar e a mãe empregada doméstica. Técnico de impressora de offset, acabou por ficar desempregado. Foi assim que veio parar à rua. "Queremos trabalho", reclama. João Paulo recusa o rendimento mínimo, mas não recusa a ajuda de Mirco Santiago, pessoa que, para ele, nunca será esquecida.
Foto: DW/Joao Carlos
"Devia haver mais pessoas assim"
Faz agora um ano que este homem, que pediu para não ser identificado, vive na rua. O motivo foi uma separação dolorosa. Ao referir-se a Mirco Santigo, diz: "Tem um nome de santo". O sem-abrigo elogia a iniciativa do jovem são-tomense. "Devia haver mais pessoas assim. Há muito poucas. Como ele só conheço mais um senhor", sublinhou.
Foto: DW/Joao Carlos
Continuar a alimentar sorrisos
Atualmente, Mirco Santiago não tem emprego. Participa apenas como figurante numa novela durante o dia. À noite, apesar de alguns entraves e de haver instituições que fazem doações na capital, o jovem está decidido a continuar com este gesto, admitindo a possibilidade de vir a distribuir comida quente confecionada em casa. Quer assim alimentar o sorriso das pessoas que vivem nas ruas da cidade.
Foto: DW/Joao Carlos
Serviços de barbearia
A higiene e a saúde dos sem-abrigo também inquietam o jovem são-tomense. Mirco Santiago pediu ajuda a um amigo cabo-verdiano, Patrick Fernandes, que se disponibilizou a cortar o cabelo de pessoas que vivem nas ruas. "Também já passei por muita coisa. É uma boa atitude da parte dele", sublinha Mirco, que espera contar com o apoio de outros amigos.
Foto: DW/Joao Carlos
Amigo aceitou o desafio
O brasileiro Neto Guerra, barbeiro de profissão, também aceitou o desafio de cuidar do cabelo dos sem-abrigo, sempre que possível. É para ele e Mirco Santiago uma espécie de retribuição pelas ajudas que também receberam no passado quando enfrentaram dificuldades.
Foto: DW/Joao Carlos
"Ficamos com outro aspeto"
João Paulo, que vive nas ruas de Lisboa, critica o sistema social português e agradece o gesto solidário destes jovens. "Esta oportunidade chegou em boa hora", afirma. "Ficamos com outro aspeto".