São Tomé suspeita que variante Ómicron já esteja no país
Lusa
28 de dezembro de 2021
São Tomé e Príncipe registou 24 casos de Covid-19 na última semana, elevando o total para 26 casos. O ministro da Saúde admite que a variante Ómicron já esteja no país e exorta a população a aderir à vacinação.
Publicidade
"Até agora pelos dados que nós recebemos ainda não houve presença de nenhuma amostra reveladora da variante Ómicron, mas notamos uma coisa: a estatística e epidemiologia já nos começam a alertar que o número de casos já tende a subir, sinal de que o alerta tem que ser redobrado," garantiu Edgar Neves.
"Sem querer alarmar ninguém" o ministro da saúde está convicto que só a variante Ómicron pode explicar o aumento de casos em mais de 90% em menos de uma semana.
"Tudo indica que [a variante Ómicron] vai entrar, se é que já cá não esteja" referiu, assegurando que "é praticamente impossível" evitar a entrada desta variante no país, uma vez que "não há nenhum país do mundo que se tenha protegido na totalidade e evitado a entrada do vírus."
Contudo, Edgar Neves garantiu que "as autoridades sanitárias e não só, estão a tomar as medidas todas em termos de controlo mais rigoroso possível nas portas de entrar e todo um conjunto de medidas de logística sanitária para que a probabilidade de entrada seja mínima."
Apelos à vacinação
"Mas tudo indica que iremos ter a variante Ómicron", reafirmou. Face ao aumento de casos e a ameaça da nova variante, o ministro da Saúde exortou a população a aderir ao processo de vacinação.
Covid-19: Vacinação arranca em São Tomé e Príncipe
02:09
"Temos que vacinar. Não é apelar. As pessoas têm que ser vacinadas sob pena de constituírem veículos de transmissão da doença," afirmou Edgar Neves.
O mês de dezembro, além de ser marcado pelas festividades do Natal e do ano novo, é também momento em que muitos turistas e emigrantes são-tomenses visitam o país.
Apesar de estar em vigor o estado de contingência com proibição de realização de festas e grandes aglomerações, estas medidas não têm sido devidamente acatadas pela população.
Publicidade
Prometido mais controlo
O ministro da Saúde prometeu maior controlo, tendo em conta aquilo que diz ter sido o exemplo do ano passado. "Nós no ano passado conseguimos dar um bom exemplo de controlo a nossa região e ao mundo, no sentido de reduzir estas grandes concentrações e este ano tudo iremos fazer, sobretudo quando sabemos que há esta variante de propagação muito mais rápida, por isso toda a sociedade tem que mobilizar" afirmou Edgar Neves.
São Tomé e Príncipe registou 15 casos positivos de Covid-19 nas últimas 72 horas, na ilha de São Tomé. De acordo com o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde de São Tomé e Príncipe, o país não registou qualquer morte nas últimas 24 horas.
O documento esclarece que foram realizados 233 testes RT-PCR na semana de 20 a 26 de dezembro, tendo registados 24 casos positivos. Com os dados mais recentes, o arquipélago conta com 3.759 casos de infeção pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, entre os quais 57 óbitos e 3.676 recuperações da doença.
O boletim divulgado pelo Ministério da Saúde refere que 87.536 pessoas já receberam a primeira dose da vacina, enquanto 55.475 já receberam as duas doses.
Jovem são-tomense ajuda sem-abrigo em Lisboa
Depois de passar por dificuldades como imigrante na capital portuguesa, Mirko Santiago tomou a iniciativa de recolher alimentos desperdiçados e distribuí-los aos sem-abrigo.
Foto: DW/Joao Carlos
Gesto de solidariedade
Mirco Djallu Vaz Santiago abraçou uma causa solidária. O jovem são-tomense de 26 anos chegou a Portugal em 2010 como turista e passou por inúmeras dificuldades como imigrante. Mesmo em situação irregular em Portugal, decidiu por conta própria ajudar os sem-abrigo espalhados pela capital portuguesa. Atualmente, abraça o desafio contra o desperdício.
Foto: DW/Joao Carlos
Contra o desperdício
Mirco Santiago trabalhava antes numa fábrica de bolos, que eram comercializados em supermercados. No trabalho, viu que muitos bolos iam diariamente para o lixo por não estarem em condições adequadas de comercialização. De modo a evitar o desperdício, achou por bem doar os bolos que recebia às pessoas carenciadas a viver nas ruas de Lisboa.
Foto: Instagram/@tchezboy
Para os que mais necessitam
Na sua rotina entre o trabalho e a casa, o jovem de São Tomé e Príncipe tratou de identificar quem seriam os potenciais beneficiários da sua ação humanitária. Partilhou a ideia pelas redes sociais e encontrou muitos apoiantes entre os seus seguidores no Facebook e no Instagram. Mirco Santiago lamenta o volume de alimentos, ainda em bom estado de consumo, que são deitados ao lixo.
Foto: DW/Joao Carlos
Mãos à obra
Não conformado com a situação, Mirco Santiago meteu mãos à obra. Saiu à rua e fez algo de útil pelos outros. Ao longo da semana, nos dias destinados à recolha de lixo, desloca-se por meios próprios aos locais onde sabe que há desperdício, que lhe é doado. E recolhe pequenas quantidades.
Foto: Instagram/@tchezboy
Organização das embalagens
Mirco Santiago recolhe vários alimentos. Na casa onde vive, em Loures, tem a preocupação de conservar os alimentos, como frango, entrecosto, salsicha, pão e bolos de carne. Depois, no dia seguinte, aquece os produtos e organiza a composição das embalagens. A distribuição é feita até antes da uma da manhã, porque tem de apanhar o metro para regressar à casa.
Foto: Instagram/@tchezboy
Abandonados
No Largo de São Domingos, no Rossio, pernoitam muitos sem-abrigo, alguns incomodados com o facto de terem sido abandonados à sua sorte. É o caso de Ana Maria, nascida no Alentejo, que partilha o local onde dorme no chão. Ana Maria viveu dois anos sozinha na rua antes de encontrar o companheiro João Paulo.
Foto: DW/Joao Carlos
"Queremos trabalho"
O companheiro de Ana Maria veio de São Tomé num avião militar quando tinha 11 meses. O pai era militar e a mãe empregada doméstica. Técnico de impressora de offset, acabou por ficar desempregado. Foi assim que veio parar à rua. "Queremos trabalho", reclama. João Paulo recusa o rendimento mínimo, mas não recusa a ajuda de Mirco Santiago, pessoa que, para ele, nunca será esquecida.
Foto: DW/Joao Carlos
"Devia haver mais pessoas assim"
Faz agora um ano que este homem, que pediu para não ser identificado, vive na rua. O motivo foi uma separação dolorosa. Ao referir-se a Mirco Santigo, diz: "Tem um nome de santo". O sem-abrigo elogia a iniciativa do jovem são-tomense. "Devia haver mais pessoas assim. Há muito poucas. Como ele só conheço mais um senhor", sublinhou.
Foto: DW/Joao Carlos
Continuar a alimentar sorrisos
Atualmente, Mirco Santiago não tem emprego. Participa apenas como figurante numa novela durante o dia. À noite, apesar de alguns entraves e de haver instituições que fazem doações na capital, o jovem está decidido a continuar com este gesto, admitindo a possibilidade de vir a distribuir comida quente confecionada em casa. Quer assim alimentar o sorriso das pessoas que vivem nas ruas da cidade.
Foto: DW/Joao Carlos
Serviços de barbearia
A higiene e a saúde dos sem-abrigo também inquietam o jovem são-tomense. Mirco Santiago pediu ajuda a um amigo cabo-verdiano, Patrick Fernandes, que se disponibilizou a cortar o cabelo de pessoas que vivem nas ruas. "Também já passei por muita coisa. É uma boa atitude da parte dele", sublinha Mirco, que espera contar com o apoio de outros amigos.
Foto: DW/Joao Carlos
Amigo aceitou o desafio
O brasileiro Neto Guerra, barbeiro de profissão, também aceitou o desafio de cuidar do cabelo dos sem-abrigo, sempre que possível. É para ele e Mirco Santiago uma espécie de retribuição pelas ajudas que também receberam no passado quando enfrentaram dificuldades.
Foto: DW/Joao Carlos
"Ficamos com outro aspeto"
João Paulo, que vive nas ruas de Lisboa, critica o sistema social português e agradece o gesto solidário destes jovens. "Esta oportunidade chegou em boa hora", afirma. "Ficamos com outro aspeto".