STP: Suspenso juiz que devolveu Rosema a irmãos Monteiro
Lusa
12 de janeiro de 2019
Juiz é acusado de "contrariar e desobedecer" ao acórdão do Supremo Tribunal de Justiça são-tomense que devolveu a cervejeira Rosema ao empresário angolano Mello Xavier.
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O Conselho Superior dos Magistrados Judiciais de São Tomé suspendeu o juiz António Gentil Bonfim Dias, do Tribunal de Lembá, por desobedecer a um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça sobre a cervejeira Rosema, segundo uma deliberação.
A deliberação, datada do dia 10 e que a agência Lusa teve hoje acesso, determina a suspensão de António Gentil Bonfim Dias "do exercício de funções de Juiz de Direito do Tribunal de Primeira Instância de São Tomé e Príncipe, devendo o mesmo proceder a entrega da viatura bem como as chaves do gabinete, aos serviços administrativos dos Tribunais".
A deliberação nomeou o juiz José Carlos Barreiros para acumular as funções no Tribunal de Lembá.
Em maio passado, o juiz António Dias emitiu uma sentença numa providência cautelar interposta pela advogada dos irmãos Monteiros, Celiza de Deus Lima, que anulou o efeito do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de 21 de abril e restituiu "imediatamente" a fábrica de cerveja à Sociedade Irmãos Monteiro.
Acusado de "contrariar e desobedecer" ao acórdão do STJ que devolveu a cervejeira Rosema ao empresário angolano Mello Xavier, a deliberação do Conselho Superior dos Magistrados Judiciais "dá por finda a acumulação serviço" deste juiz no Tribunal de Lembá, norte do país, onde se encontra instalada a Rosema.
O documento é assinado por sete dos seus membros, entre eles o presidente do STJ, Silva Gomes Cravid e os juízes conselheiros, Frederico da Glória, Alice Carvalho e Silvestre Leite, que retomaram funções há cerca de duas semanas, depois de exonerados e compulsivamente reformados pela legislatura anterior através de uma resolução parlamentar.
Processo disciplinar
A deliberação ordena ainda que seja instaurado "um processo disciplinar contra António Gentil Bonfim Dias por contrariar e desobedecer o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça e a deliberação 10/2018 de 8 de 05 de 2018".
Foi também ordenado a abertura de um processo "para averiguar factos alegados pelo advogado" da cervejeira Rosema, Guilherme Pósser da Costa, cujo conteúdo não mencionou.
A 21 de abril, a cervejeira Rosema foi devolvida ao empresário angolano Mello Xavier através de um acórdão do STJ de São Tomé após longa batalha judicial. Porém, cerca de duas semanas depois, a 10 de maio, a empresa voltou à posse dos irmãos Monteiro.
António Bonfim Gentil Dias decidiu anular o efeito do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça e restituiu "imediatamente" a fábrica a Sociedade Irmãos Monteiro. O juiz ordenou que fosse "solicitada a intervenção policial" caso houvesse "recusa e desobediência do requerido para cumprimento da decisão judicial".
O Parlamento são-tomense aprovou cerca de duas semanas depois com 31 votos a favor e seis contra um projeto de resolução que "exonera e aposenta compulsivamente" três juízes do presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o presidente.
Esses juízes são Silva Cravid, presidente do Supremo Tribunal de Justiça e os juízes conselheiros, Frederico da Gloria e Alice Vera Cruz, todos que decidiram em acórdão sobre a devolução da fábrica ao empresário angolano.
A advogada da cervejeira Rosema convocou para segunda-feira (14.01) uma conferência de imprensa sobre o caso Rosema que mais uma vez promete dominar a audiência no país.
São Sebastião: A fortaleza que conta a história de São Tomé
Erguido contra os ataques dos corsários, no século XVI, o forte de São Sebastião defende hoje a história de São Tomé e Príncipe. Museu Nacional retrata os 500 anos da colonização portuguesa e a luta pela independência.
Foto: DW/Ramusel Graça
Um forte transformado em museu
Construído em 1545 pelos portugueses para defender a ilha dos corsários holandeses e franceses, o forte de São Sebastião, na baía de Ana Chaves, em São Tomé, é hoje o Museu Nacional. Um repositório da memória coletiva são-tomense que se espalha por diversas salas dedicadas à história e cultura do país, desde a escravatura à independência, passando pela agricultura e pela religião.
Foto: DW/Ramusel Graça
Os "guardiões" da fortaleza
As estátuas de João de Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva guardam a entrada da fortaleza. São os nomes ligados ao descobrimento das ilhas de São Tomé, a 21 de dezembro de 1470, e do Príncipe, a 17 de janeiro de 1471. As estátuas foram retiradas das praças e jardins de São Tomé logo após a independência, em 1975.
Foto: DW/Ramusel Graça
Canhões contra as ameaças
Este é um dos canhões usados no forte de São Sebastião para defender a ilha dos ataques dos corsários nos séculos XVII e XVIII.
Foto: DW/Ramusel Graça
Marcas de 500 anos de colonização
No interior do forte, o acervo do Museu Nacional inclui marcas da história e da cultura do país, dominado pelos colonos portugueses durante 500 anos. Um exemplo é esta sala de jantar de uma roça, simbolizando a forma como viviam os antigos patrões das plantações de cacau e café, base da economia são-tomense até à independência. A loiça e talheres apresentam o brasão da roça.
Foto: DW/Ramusel Graça
Trabalhos forçados
No sentido contrário dos aposentos dos proprietários surge este quarto simbolizando a vida dos serviçais - naturais de Angola, Moçambique e Cabo Verde levados para São Tomé e Príncipe para trabalharem nas roças - e dos trabalhadores nativos "contratados". São Sebastião conta a história de São Tomé como entreposto de escravos e retrata os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores.
Foto: DW/Ramusel Graça
Símbolos da resistência
Amador Vieira é uma das figuras históricas em destaque nas salas do Museu Nacional. Simboliza a luta contra a colonização portuguesa, depois de liderar a revolta dos escravos de 1595. A insurreição ficou marcada pelos combates contra as tropas do governador e pela destruição de infraestruturas e ferramentas usadas na exploração da cana do açúcar.
Foto: DW/Ramusel Graça
Do museu para as ruas
Figura preponderante no combate ao domínio colonial, Amador Vieira está também representado no centro da capital são-tomense.
Foto: DW/Ramusel Graça
Padroeiro dos marinheiros
São Jorge, santo padroeiro dos marinheiros, é a imagem de destaque à entrada da capela da fortaleza de São Sebastião. Simboliza a trajectória que dos navegadores portugueses até à descoberta das ilhas. Demonstra também a forte influência da colonização no modo de vida dos são-tomenses: o catolicismo é a religião da maioria da população.
Foto: DW/Ramusel Graça
Herança religiosa
"A marca do colonizador é grande. Vemos a presença portuguesa em quase tudo", diz o historiador Carlos Neves, apontando o exemplo da religião católica, introduzida em São Tomé e Príncipe pelos colonos. O Museu Nacional dedica uma sala à arte sacra. E a 1,2 km do forte de São Sebastião está a Sé Catedral de São Tomé e Príncipe, que remonta ao século XVI.