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São Tomé: ADI em crise após eleições legislativas

15 de dezembro de 2018

ADI cancela Conselho Nacional marcado para este domingo (16.12). Levy Nazaré, destituído do cargo de secretário-geral do partido, diz "temer pela vida" e denuncia ações de Patrice Trovoada no pós-eleições.

São Tomé und Príncipe Wahlkampf von ADI Partei
Comício da Ação Democrática Independente (ADI) nas eleições legislativas de 2018Foto: DW/R. Graca

A Ação Democrática Independente (ADI), atualmente o maior partido da oposição em São Tomé e Príncipe, cancelou o Conselho Nacional, agendado para este domingo (16.12), e que tinha como objetivo ultrapassar os problemas internos do partido, depois da comissão política ter decidido afastar, esta quarta-feira (12.12), Levy Nazaré das funções de secretário-geral – cargo este que vinha exercendo desde 2010, ou seja, há oito anos.

Apesar de ter resisitido à destituição, Levy Nazaré afirmou, este sábado (15.12) à Lusa, que abandonou o cargo. "Eu entreguei as chaves, afastei-me de tudo, hoje sou apenas um militante", disse Levy Nazaré, recusando-se a explicar porque mudou de ideias e decidiu acatar a decisão. 

Levy Nazaré, atual vice-presidente da Assembleia Nacional, considera "ilegal" esta decisão e afirma que "não é da competência da comissão política destituir o secretário-geral".

Entretanto, a comissão política da ADI nomeou o ex-presidente da Assembleia Nacional (2014-2018), José da Graça Diogo, para assumir interinamente a liderança desta força política até à realização do Congresso. Num comunicado  distribuído aos jornalistas, este sábado, a ADI anunciou que o Conselho Nacional, inicialmente marcado para domingo (16.12) já não se realizará e que a data do Congresso será posteriormente anunciada. 

Levy Nazaré vs Patrice Trovoada

Levy Nazaré, antigo secretário-geral da ADI, durante a campanha para as eleições legislativas de 2018.Foto: DW

Levy Nazaré, que era tido como testa de ferro na governação cessante (2014-2018), sente-se agora injustiçado pelo líder auto-suspenso do partido e antigo primeiro-ministro, Patrice Emery Trovoada. Em decalrações aos jornalistas esta semana, afirma que: "Sei que sou um alvo a abater dentro do partido, devido a algumas posições que venho tomando em nome de um ADI mais sólido, coeso e democrático, onde os seus militantes e dirigente possam ter o direito de se expressar".

Voltando a frisar que a sua demissão é uma ação orquestrada por Patrice Trovoada, apoiado pelos deputados (Arlindo Santos, Abnildo de Oliveira, Idalécio Quaresma, Domingos Boa Morte, Elísio Teixeira), o atual vice-presidente da Assembleia Nacional diz que o antigo primeiro-ministro são-tomense o quer "abater política e até mesmo fisicamente". "Fui informado pelo líder parlamentar da ADI, Abnildo de Oliveira, que Patrice Trovoada me quer abater como secretário-geral do partido e do cargo de vice-presidente da Assembleia", afirmou.

Já na quarta-feira (12.18), a comissão de gestão da ADI, encabeçada por José da Graça Diogo, tinha decidido "adiar o Conselho Nacional alargado previsto para este domingo (16.12)". No entanto, Levy Nazaré havia dito, posteriormente a esre comunicado da ADI, que a comissão política do partido iria organizar o Conselho Nacional alargado, encontro do qual sairia a data do Congresso eletivo.

"Não é do interesse de Patrice Trovoada que se faça a reunião do Conselho Nacional. Ele convidou-me para ir a Lisboa, este fim-de-semana, tratar de assuntos ligados ao partido”, deu conta Levy Nazaré, dizendo que  teme pela sua vida: "Temo pela minha vida, a verdade é que não foi falta de aviso, mas quem entra na política tem que estar disposto a isto. Eu nunca saí de São Tomé. Faço a política cá, nunca abandonei o meu povo".

Desavenças começaram depois das eleições

Levy Nazaré deu conta ainda que, desde que abandou o país, Patrice Trovoada só lhe ligou depois da sua eleição e que nunca o felicitou.  A maioria simples conquistada pela ADI nas eleições de 7 de outubro, de acordo com o segundo vice-presidente da Assembleia Nacional, é o motivo da desavença entre si e Patrice Trovoada.

Patrice Trovoada, ex-presidente da ADI, na cerimónia de 9 de janeiro.Foto: DW

"Durante o apuramento final das eleições no Tribunal Constitucional, em que havia um grupo de jovens contestatários em frente ao órgão, quis o Doutor Patrice Trovoada, ausente do país, que eu convocasse a população e militantes do partido para fazer pressão junto ao Tribunal Constitucional", explica Levy Nazaré, garantindo que recusou a ordem por motivos de responsabilidade. "Eu estava em São Tomé e nós estávamos a viver um clima tenso. Se levássemos o povo e os militantes da ADI para a rua, as pessoas iam morrer", disse.

"Patrice insistiu, insistiu e eu mantive-me firme e disse que não, porque se as pessoas morressem iriam sacar-se responsabilidades. Eu disse-lhe: senhor presidente dê então o senhor esta ordem, e ele não o fez", conta Levy Nazaré.  

A relação com Patrice Trovoada azedou ainda mais quando Levy Nazaré voltou a recusar as ordens do antigo primeiro-ministro para contrariar o comunicado final do Tribunal Constitucional e da missão de observação da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) sobre as eleições. "Eu disse que não era uma questão de honestidade intelectual e que, na minha opinião, as eleições do dia 7 de outubro tinham sido justas, livres e transparentes".

A indigitação de Álvaro Santiago, membro do partido, à liderança do governo minoritário da ADI foi também motivo de discórdia. Recorde-que esta decisão está na origem da suspensão das funções de Patrice Trovoada da liderança do partido.

Eleição para a Assembleia Nacional

Os contactos desencadeados por Levy Nazaré junto das forças da oposição MLSTP/PSD e PCD UDD (partidos no poder) para a sua eleição para a Assembleia Nacional, são vistos, no seio da ADI, como um ato "desleal e desonroso". Levy Nazaré confessou ter tido o apoio de quatro forças políticas para que fosse eleito, a 22 de novembro, para o cargo em questão. "Os vinte e cinco votos da ADI eram insuficientes para que o meu nome passasse", explicou.

O atual vice-presidente da Assembleia Nacional disse ainda que, depois do Congresso, vai passar à qualidade de militante de base do partido, e que o seu nome não constará em nenhuma das listas que vierem a concorrer.

Saliente-se que Levy Nazaré foi, em 2002, um dos fundadores do Movimento Geração Esperança que concorreu às eleições legislativas de março de 2006 e que recusou apoiar a candidatura de Fradique de Menezes e Patrice Trovoada às eleições presidências do mesmo ano.

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