Horas depois do fecho das urnas, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) anunciou que venceu as legislativas. Segundo a Comissão Eleitoral, a afluência foi inédita.
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A Comissão Eleitoral Nacional só deverá divulgar os resultados das legislativas esta segunda-feira de manhã. No entanto, de madrugada, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) já cantava vitória.
"Conforme os dados provisórios chegados ao gabinete de campanha do MLSTP-PSD, gostaríamos de dizer ao povo são-tomense e ao mundo que o MLSTP ganhou as eleições legislativas de 2018", anunciou o diretor de campanha do partido, Osvaldo Vaz.
Antes, o partido no poder em São Tomé e Príncipe, a Ação Democrática Independente (ADI), já admitira que perdera a maioria absoluta. Contudo, ainda esperava conseguir formar Governo.
"Vamos aguardar os resultados calmamente", disse, durante o dia, o primeiro-ministro cessante Patrice Trovoada, que foi vaiado pelos eleitores depois de exercer o seu direito de voto.
Afluência em massa
Ao todo, cerca de 90 mil eleitores foram chamados às urnas para elegerem um novo Parlamento e novas assembleias distritais e regionais. A Comissão Eleitoral Nacional (CEN) diz que nunca registou uma afluência às urnas tão grande às primeiras horas do dia.
"Nunca vimos, falei com os coordenadores em todos os distritos e da região autónoma do Príncipe e dizem-me que há filas de cento e tal pessoas", disse Ambrósio Quaresma, porta-voz da CNE.
A missão de observação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), chefiada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor- Leste, Zacarias da Costa, também observou filas em várias assembleias: "Em alguns sítios houve filas de 40 a 60 pessoas, noutras houve poucas filas. Durante o dia, as pessoas foram participando. Quisemos percorrer todas as assembleias de voto. Aqui, em Água Grande, tem 83 assembleias e cobrimo-la totalmente", disse.
São Tomé: MLSTP-PSD reivindica vitória nas eleições
"Acordo de princípio" para formar Governo
Segundo a CEN, a votação decorreu, em geral, "com normalidade". No entanto, terá de ser repetida no próximo domingo na Roça Rosema, distrito de Lembá (noroeste), porque a população impediu o acesso uma mesa de voto, em protesto contra a falta de água, estradas e energia. Além disso, a polícia teve de disparar tiros para o ar na cidade Guadalupe, a 12 quilómetros da capital, "porque houve uma enchente de pessoas e os ânimos começaram a exaltar-se".
O primeiro-ministro cessante votou nessa cidade. Patrice Trovoada é o cabeça de lista da ADI no círculo eleitoral de Lobata e estava expectante em relação aos resultados. "É um momento de reflexão. É um momento para nós, os políticos, de muita ansiedade", disse no domingo aos jornalistas.
Concorrente direto ao cargo de primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, presidente do MLSTP-PSD, exerceu o seu direito de voto nos arredores da capital de São Tomé e Príncipe: "Nós sentimos que a população, amordaçada há quatro anos, está cansada e quer virar de página", afirmou.
Bom Jesus salientou ainda que o MLSTP-PSD tem um "acordo de princípio" com a coligação formada pelo Partido da Convergência Democrática (PCD), a União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD) e o Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM) para formar um novo Governo.
"Ao longo destes quatro anos, o país bipolarizou-se. A oposição criou afinidades", explicou. "Há um acordo de princípio que nós respeitaremos, até porque o nosso lema é 'São Tomé e Príncipe para todos.' Queremos contar com todas as competências válidas deste país."
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.