STP: Trovoada pede que comissão eleitoral respeite o povo
Lusa
27 de setembro de 2022
O líder da Ação Democrática Independente (ADI), que reivindica vitória por maioria absoluta nas legislativas de São Tomé e Príncipe, apela à calma e exorta o presidente da Comissão Eleitoral a "respeitar o povo".
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Através de um vídeo publicado esta terça-feira (27.09) nas redes sociais da ADI, Patrice Trovoada, antigo primeiro-ministro, criticou o presidente da CEN, juiz José Carlos Barreiros, por ter apenas anunciado o número total de votantes por candidatura e não a distribuição dos mandatos na Assembleia Nacional, na apresentação dos resultados provisórios na segunda-feira à noite, quase 30 horas após o fecho oficial das urnas.
"Essa atitude tem causado muita inquietação e muita revolta e pode conduzir o país a um estado de instabilidade política e social", considerou Patrice Trovoada.
"Alerto a comunidade internacional e todos os são-tomenses que estão interessados no Estado de Direito democrático e na paz social e no respeito escrupuloso da vontade do povo em democracia para estarem atentos e para usarem de todas as influências para levar o senhor presidente da Comissão Eleitoral Nacional a respeitar a lei", disse.
O líder da ADI deixou um apelo: "José Carlos Barreiros, respeite o povo", e afirmou que "nunca, mas mesmo nunca, em São Tomé e Príncipe" se assistiu "a tais comportamentos".
"Peço a todos os são-tomenses e particularmente aos militantes do ADI para conservarem a calma, a serenidade, e para não deixarem de respeitar a lei, as pessoas e os bens, sobretudo deixar a imprensa nacional e internacional circular e deixar também os observadores estrangeiros fazerem o seu trabalho", disse.
"Nós sabemos com quem estamos a lidar e sabemos que temos a maioria absoluta", insistiu.
ADI reivindica vitória com maioria absoluta
Na segunda-feira de manhã, Patrice Trovoada afirmou que as projeções do partido, com base nos editais das mesas de voto, apontam para uma vitória por maioria absoluta, com 30 dos 55 deputados ao parlamento são-tomense, e disse que irá chefiar o próximo executivo.
Na sua mensagem de hoje, o líder da ADI salientou que a "Comissão Eleitoral Nacional tem na sua posse o mapa dos resultados, que foram fruto da introdução dos dados vindos das atas, feita essa introdução pelos técnicos nacionais, conferidos pela assistência técnica estrangeira que assiste a CEN e esses dados pouco diferem dos dados apresentados pelo ADI".
Os dados da CEN, acrescentou, apontam para 29 deputados para a ADI, "ou seja, maioria absoluta", e atribuem 18 mandatos ao Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD, atualmente no poder), seis eleitos ao Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista-Partido de Unidade Nacional, conhecido como 'movimento de Caué', enquanto o Basta, que concorreu pela primeira vez às legislativas, terá dois lugares no parlamento.
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Anúncio "tardio"
Segundo Patrice Trovoada, "o anúncio feito de uma maneira tardia ontem [segunda-feira], unicamente do número de votantes, só serve para confundir as pessoas".
"Nós estamos numa eleição legislativa, por escrutínio proporcional. Por isso os números globais de votante a nível nacional, que são números atribuídos a cada partido, não podem dar uma ideia de maioria absoluta. São sim os votos por distrito, pelo método de Hondt, que permitem definir quantos mandatos tem cada um dos partidos participantes", explicou.
"Cabe unicamente ao senhor presidente da comissão, José Carlos Barreiros, anunciar esses resultados", sustentou Patrice Trovoada, que explicou que as assembleias distritais de apuramento, dirigidas também por um magistrado, deverão agora dar os resultados distritais, "tomando em consideração se há ou se não há reclamação feitas das mesas de voto e constando das atas".
O líder partidário referiu que "depois, e só depois, caberá ao Tribunal Constitucional a última verificação e o anúncio oficial dos resultados". "Este é o processo, assim manda a lei, e eu espero que o senhor juiz José Carlos Barreiros, que não está acima das leis, se comporte como manda a lei, com dignidade, com responsabilidade, porque tudo o que poderá advir dessa atitude será da sua inteira, mas mesmo inteira, responsabilidade", acrescentou.
O apuramento final dos resultados e posterior validação pelo Tribunal Constitucional deverá estar concluído no início da próxima semana, disseram à Lusa fontes ligadas ao processo.
O presidente da CEN escusou-se na segunda-feira a revelar quantos mandatos foram atribuídos a cada partido no parlamento, afirmando que alguns partidos já tinham apresentado as suas projeções (nomeadamente a ADI e o MLSTP) e que "há divergências", pelo que remeteu a distribuição de lugares para o Tribunal Constitucional.
O movimento Basta, criado cerca de três meses antes das eleições, teve 6.874 votos, enquanto o Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista (MCI), que concorreu a estas eleições coligado com o Partido de Unidade Nacional (PUN), e que detinha dois deputados na legislatura anterior, obteve 5.120 votos.
O Movimento Democrático Força da Mudança/União Liberal (MDFM/UL) conquistou 1.601 votos; a União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD) recebeu 731 votos; o Partido Cidadãos Independentes para o Desenvolvimento de São Tomé e Príncipe (CID-STP) teve 472 votos; o Muda teve 389; o Partido Novo teve 352; o Movimento Social Democrata/Partido Verde de São Tomé e Príncipe (MSD/PVSTP) obteve 271 votos e o Partido de Todos os Santomenses (PTOS) 195. A taxa de abstenção foi de 34,33%, adiantou José Carlos Barreiros.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
Foto: João Carlos/DW
Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
Foto: João Carlos/DW
Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
Foto: João Carlos/DW
Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
Foto: João Carlos/DW
Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".