Dura há semanas o braço-de-ferro entre o Presidente de São Tomé e Príncipe e o primeiro-ministro por causa da mudança de governador no Banco Central. Evaristo Carvalho acusa Jorge Bom Jesus de usurpar os seus poderes.
Publicidade
Afinal, quem tem poderes para nomear o governador do Banco Central? O desentendimento dura há semanas. O primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom Jesus, nomeou a 7 de janeiro passado um novo governador do Banco Central, Américo Barros. Mas o Presidente Evaristo Carvalho acusa o chefe do Governo de ter usurpado os seus poderes com esta nomeação.
O descontentamento foi tornado público numa carta enviada por Evaristo Carvalho ao primeiro-ministro: "Não pode vossa excelência ignorar, de forma de substância para exoneração do governador do Banco Central e a nomeação do novo governador. Só um decreto promulgado pelo Presidente da República, observando os pressupostos legais impostos pelos legisladores, pode ter força executória para o efeito."
No mês passado, Evaristo Carvalho instou o primeiro-ministro a voltar atrás na sua decisão.Mas Jorge Bom Jesus diz que não fez nada de mal e que o anterior governador do Banco Central também já tinha sido nomeado, em 2015, pelo Governo.
Governantes de São Tomé em guerra por causa do Banco Central
"O ato de nomeação por via de resolução insere-se irrepreensivelmente nas competências do Governo. O artigo 111º, alínea C, da Constituição consagra, apesar dos decretos-leis e decretos, a existência do novo ordenamento jurídico de outros atos normativos que podem ser produzidos na execução das atividades politicas económicas e administrativas do Governo com validade jurídica e força executória plena, que é no caso em presença a resolução", lembrou o secretário de Estado para a Comunicação Social, Adelino Lucas, numa carta enviada ao Presidente que leu aos jornalistas.
O antigo governador do Banco Central, Hélio D'Almeida, foi nomeado em 2015 pelo então Governo da Ação Democrática Independente (ADI), liderado pelo ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada.
Agora, o partido no poder, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), nomeou um seu vice-presidente para o cargo. O MLSTP/PSD alegou, na altura, que a anterior administração do Banco Central era suspeita "na atribuição, com falta de transparência, de fundos públicos a altos dirigentes da instituição, no âmbito do processo de destruição das notas velhas".
A polémica nova família da dobra
O desentendimento entre o Presidente são-tomense e o primeiro-ministro acontece numa altura em que foram descobertos no Porto de São Tomé quatro contentores de notas de 200 e 100 mil dobras.
A nova família da dobra entrou em circulação há um ano. Porém, no final de 2018, os deputados do partido no poder MLSTP/PSD e da coligação PCD-MDFM-UDD alertaram o Governo para a necessidade de se averiguar a proveniência de enormes de quantidades de notas de 200 dobras - normalmente, pouco usadas - por parte de turistas que visitam São Tomé e Príncipe e dizem ter feito câmbio em Portugal.
A coligação PCD-MDFM-UDD, por intermédio do seu presidente Arlindo Carvalho, pediu ao chefe de Estado para colaborar com o Governo "na clarificação de vários crimes e vários atos de má-gestão praticados pelo governo da ADI, que apresentam vários indícios de criminalidade."
Entre as irregularidades apontadas esto "a adjudicação do concurso público da finalização das obras do novo edifício do Banco Central" e "o pagamento de elevadas quantias a título de gratificação sem fundamento legal aos gestores demitidos do referido banco."
São Sebastião: A fortaleza que conta a história de São Tomé
Erguido contra os ataques dos corsários, no século XVI, o forte de São Sebastião defende hoje a história de São Tomé e Príncipe. Museu Nacional retrata os 500 anos da colonização portuguesa e a luta pela independência.
Foto: DW/Ramusel Graça
Um forte transformado em museu
Construído em 1545 pelos portugueses para defender a ilha dos corsários holandeses e franceses, o forte de São Sebastião, na baía de Ana Chaves, em São Tomé, é hoje o Museu Nacional. Um repositório da memória coletiva são-tomense que se espalha por diversas salas dedicadas à história e cultura do país, desde a escravatura à independência, passando pela agricultura e pela religião.
Foto: DW/Ramusel Graça
Os "guardiões" da fortaleza
As estátuas de João de Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva guardam a entrada da fortaleza. São os nomes ligados ao descobrimento das ilhas de São Tomé, a 21 de dezembro de 1470, e do Príncipe, a 17 de janeiro de 1471. As estátuas foram retiradas das praças e jardins de São Tomé logo após a independência, em 1975.
Foto: DW/Ramusel Graça
Canhões contra as ameaças
Este é um dos canhões usados no forte de São Sebastião para defender a ilha dos ataques dos corsários nos séculos XVII e XVIII.
Foto: DW/Ramusel Graça
Marcas de 500 anos de colonização
No interior do forte, o acervo do Museu Nacional inclui marcas da história e da cultura do país, dominado pelos colonos portugueses durante 500 anos. Um exemplo é esta sala de jantar de uma roça, simbolizando a forma como viviam os antigos patrões das plantações de cacau e café, base da economia são-tomense até à independência. A loiça e talheres apresentam o brasão da roça.
Foto: DW/Ramusel Graça
Trabalhos forçados
No sentido contrário dos aposentos dos proprietários surge este quarto simbolizando a vida dos serviçais - naturais de Angola, Moçambique e Cabo Verde levados para São Tomé e Príncipe para trabalharem nas roças - e dos trabalhadores nativos "contratados". São Sebastião conta a história de São Tomé como entreposto de escravos e retrata os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores.
Foto: DW/Ramusel Graça
Símbolos da resistência
Amador Vieira é uma das figuras históricas em destaque nas salas do Museu Nacional. Simboliza a luta contra a colonização portuguesa, depois de liderar a revolta dos escravos de 1595. A insurreição ficou marcada pelos combates contra as tropas do governador e pela destruição de infraestruturas e ferramentas usadas na exploração da cana do açúcar.
Foto: DW/Ramusel Graça
Do museu para as ruas
Figura preponderante no combate ao domínio colonial, Amador Vieira está também representado no centro da capital são-tomense.
Foto: DW/Ramusel Graça
Padroeiro dos marinheiros
São Jorge, santo padroeiro dos marinheiros, é a imagem de destaque à entrada da capela da fortaleza de São Sebastião. Simboliza a trajectória que dos navegadores portugueses até à descoberta das ilhas. Demonstra também a forte influência da colonização no modo de vida dos são-tomenses: o catolicismo é a religião da maioria da população.
Foto: DW/Ramusel Graça
Herança religiosa
"A marca do colonizador é grande. Vemos a presença portuguesa em quase tudo", diz o historiador Carlos Neves, apontando o exemplo da religião católica, introduzida em São Tomé e Príncipe pelos colonos. O Museu Nacional dedica uma sala à arte sacra. E a 1,2 km do forte de São Sebastião está a Sé Catedral de São Tomé e Príncipe, que remonta ao século XVI.