São Tomé: Sindicato fala em atentado à liberdade de imprensa
Lusa
13 de maio de 2022
Presidente do Sindicato dos Jornalistas São-Tomenses, Hélder Bexigas, classificou como "atentado à liberdade de imprensa" a tentativa de agressão a um jornalista que cobria a Gala do Mês da Cultura na capital do país.
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"É um atentado à liberdade de imprensa. Temos no nosso país, até este momento, uma democracia e não existe esse impedimento da liberdade de imprensa, liberdade de expressão e eu gostaria que continuássemos assim", disse ao canal público Televisão São-Tomense (TVS) o dirigente sindical.
Em causa está a tentativa de agressão e de roubo de material de trabalho por um elemento da segurança do ministro do Turismo e Cultura, Aerton Rosário, quando o jornalista Josimar Afonso, ao serviço da RSTP - Rádio Somos Todos Primos, um órgão digital privado, cobria a primeira edição do evento, no sábado (07.05).
O jornalista estava a filmar a conversa entre o ministro do Turismo e Cultura com um dos atores mais inconformados, procurando saber o que se motivou o protesto, quando um segurança do governante tentou impedir a continuação da gravação e retirou à força a câmara das mãos de Josimar Afonso, ao mesmo tempo que exigia que este apagasse o registo.
Segundo o segurança, o jornalista não podia filmar o ministro a não ser que este autorizasse previamente a recolha de imagens e ameaçou "consequências futuras" se o material gravado fosse divulgado publicamente, disse à Lusa Josimar Afonso, que é também correspondente da agência de notícias portuguesa em São Tomé e Príncipe e trabalha para o órgão público Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe e para a RDP-África.
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Ameaça após protesto
A ameaça verbal de agressão e o roubo do material de trabalho, posteriormente devolvido ao jornalista por pressão de populares e demais camaradas de outros órgãos de comunicação social que testemunharam o incidente, veio na sequência de protestos de atores e grupos culturais que criticavam a ausência de referências ao teatro e atores na gala e, sobretudo, o não terem tido oportunidade atuar no evento apesar do convite nesse sentido.
O evento decorreu nas instalações do Arquivo Histórico e entre a assistência estava o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.
Foto: DW/A. Juma
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A RSTP divulgou na segunda-feira no seu portal as imagens gravadas e outros órgãos de comunicação estrangeiros noticiaram o sucedido, tendo o secretário de Estado da Comunicação Social, Adelino Lucas, afirmado que desconhecia o que ocorrido.
Nas declarações à Lusa, Josimar Afonso disse que a divulgação pública das imagens não teve qualquer consequência até agora e que foi contactado telefonicamente por Adelino Lucas para saber o que se tinha passado.
Um assessor do ministro Aerton Rosário contactou igualmente Josimar Afonso para lhe comunicar que o governante tinha interesse em falar com o jornalista, mas até agora não houve qualquer desenvolvimento desse interesse.
Nas declarações que fez à TVS, Hélder Bexigas disse ter tomado conhecimento do corrido pelas redes sociais.
"Para mim é um ato deplorável tendo em conta que o profissional estava lá a fazer o seu trabalho e acredito que ele não devia ser, digamos, ser agredido como foi", afirmou.
"Para mim é um ato condenável e as nossas autoridades deveriam ou devem ter atenção a esses aspetos, porque somos nós os jornalistas que levamos as informações para os telespetadores, para os ouvintes, para os leitores. Se não o fizermos ou se não fizermos os trabalhos, ninguém fica a saber", acrescentou.
Hélder Bexigas apelou às autoridades e aos seguranças que não impeçam os jornalistas de fazerem o seu trabalho.
"Por isso, neste momento, eu apelo às autoridades, aos seguranças que impedem os jornalistas quando ele está a fazer o seu trabalho, porque ele está lá a cobrir um evento, alguém o enviou. Ele não foi fazer de sua livre e espontânea vontade e isso está no direito" à liberdade de imprensa, vincou.