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Moçambique está pior no índice de desenvolvimento humano

15 de dezembro de 2020

Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) dá conta de ligeiras melhorias entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Moçambique perde uma posição.

Mosambik | Coronavirus | Hygiene in Schulen
Foto ilustrativaFoto: Luciano da Conceicao/DW

Moçambique é o pior país de língua portuguesa em África no Relatório de Desenvolvimento Humano 2020, lançado esta terça-feira (15.12) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O país desceu uma posição para 181º lugar, face a 2019, entre 189 países. Cabo Verde mantém-se como o primeiro país de língua oficial portuguesa em África no ranking, na 126ª posição, no mesmo lugar que no ano passado. Seguem-se São Tomé e Príncipe (na 135ª posição, 137ª em 2019), Angola (na 148ª posição, 149ª em 2019) e Guiné-Bissau (em 175º lugar, 178º em 2019).

Segundo o relatório, que resume dados para vários indicadores, Cabo Verde tem uma esperança média de vida à nascença de 73 anos e uma educação média de 6,3 anos. Existem cerca de 7,8 médicos por cada 10.000 habitantes. Por outro lado, 96,9% das pessoas em zonas rurais têm acesso a eletricidade. Por cada 1.000 nascimentos, 73,8 gravidezes ocorrem em mulheres entre os 15 e os 19 anos. No parlamento, 23,6% dos deputados são do sexo feminino.

A prevalência da mutilação genital feminina na Guiné-Bissau é de 44,9%, segundo a ONUFoto: picture alliance/dpa/EPA/UNICEF/HOLT

São Tomé e Príncipe tem uma esperança média de vida à nascença de 70,4 anos e uma educação média de 6,4 anos. Já por cada 1.000 nascimentos, 94,6 gravidezes ocorrem em adolescentes entre os 15 e os 19 anos. Por outro lado, apenas 14,5% dos parlamentares são do sexo feminino. No país, existem 0,5 médicos por cada 10 mil pessoas. Pelo menos 55,7% pessoas das pessoas em zonas rurais têm acesso a eletricidade. 34,5% da população vive abaixo do limiar da pobreza.

Em Angola, a esperança médica de vida à nascença é de 61,2 anos. Por cada 100.000 nascimentos registam-se 241 casos de morte materna. Por cada 1.000 nascimentos, 150,5 ocorrem em mulheres entre os 15 e os 19 anos. Apenas 30% dos deputados são do sexo feminino. Por cada 10 mil pessoas, existem 2,1 médicos. Apenas 3,8% das pessoas em zonas rurais têm acesso a eletricidade. A escolaridade média é de 5,2 anos. 47,6% das pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza.

Na Guiné-Bissau, a esperança média de vida à nascença é de 58,3 anos e a média de anos de escolaridade é de 3,6. Por cada 100.000 nascimentos, registam-se 667 mortes maternas. No entanto, por cada 1.000 nascimentos, 104,8 gravidezes ocorrem em adolescentes entre os 15 e os 19 anos. Apenas 13,7% dos parlamentares são do sexo feminino. Por cada 10.000 pessoas, existem 1,3 médicos disponíveis. Cerca de 24% das mulheres são casadas aos 18 anos e a prevalência da mutilação genital feminina é de 44,9%. 67,1 das pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza.

Em Moçambique, 41,2% dos assentos parlamentares são ocupados por mulheresFoto: Roberto Paquete/DW

Em Moçambique, a esperança média de vida à nascença é de 60,9 anos, sendo que a média da escolaridade ronda os 3,5 anos. Registam-se 289 mortes maternas por cada 100.000 nascimentos, sendo que por cada 1.000 nados vivos, 148,6 progenitoras tinham entre os 15 e os 19 anos. No Parlamento, 41,2% dos assentos são ocupados por mulheres. Por cada 10.000 pessoas, existem 0,8 médicos. Por outro lado, somente 8% das populações rurais têm acesso a eletricidade. Por último, 62,9% das pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza.

Trabalhar com a natureza

A "próxima fronteira” para as metas do progresso humano exigirá trabalhar “com e não contra a Natureza”, transformando ao mesmo tempo normas sociais, valores e incentivos governamentais e financeiros, defende o PNUD. Esta é uma das principais conclusões do documento que será apresentado numa sessão de alto nível coorganizada pela Suécia esta terça-feira (15.12).

Sob o tema "A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno", o relatório do PNUD, que assinala este ano o seu 30.º aniversário, observa que, pela primeira vez, “numa relação de 300 mil anos" em vez de ser o planeta a moldar os humanos, são os humanos que estão a moldar o planeta.

Uma floresta de factos

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"Este é o Antropoceno: a era dos humanos", frisa o relatório, que se propõe nesta edição analisar como a Humanidade pode caminhar nesta nova era e mostrar como as ações humanas e o respetivo impacto no planeta (como por exemplo, as emissões de gases com efeito de estufa e a pegada material dos países) interagem com as desigualdades entre as sociedades.

O economista português Pedro Conceição, que desde janeiro de 2019 é o diretor do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano, é o principal autor do documento.

Para o especialista, a forma como as pessoas estão a vivenciar as pressões em relação ao planeta Terra está ligada à forma como as sociedades funcionam e atualmente, segundo frisa no relatório, "sociedades fraturadas estão a colocar as pessoas e o planeta em rota de colisão".

A atual pandemia da Covid-19 é a mais recente grande crise que o mundo enfrenta e, segundo o PNUD, não será a última, "a menos que os humanos libertem o seu domínio sobre a Natureza".

"Os humanos têm mais poder do que nunca sobre o planeta. Perante as repercussões da Covid-19, o nível recorde das temperaturas e a desigualdade em espiral, chegou a hora de usar esse poder para redefinir o que entendemos por progresso, onde as nossas pegadas de carbono e de consumo não estão mais escondidas", declara, por sua vez, o administrador do PNUD, Achim Steiner, citado no relatório.

Neste sentido, o PNUD apresenta uma escolha difícil e decisiva para os líderes mundiais: "Tomar medidas ousadas para reduzir a imensa pressão que está a ser exercida sobre o ambiente e o mundo natural, ou o progresso da Humanidade irá estagnar".

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