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Saída da Total: Empresas moçambicanas com "corda ao pescoço"

27 de abril de 2021

A decisão da petrolífera francesa Total de abandonar o projeto de gás de Afungi, norte de Moçambique, deixa os empresários moçambicanos de mãos atadas e com elevadas dívidas à banca por pagar.

Svrika Karidia
Svrika KaridiaFoto: Privat

A Reef Investimento, uma empresa do setor da construção civil, com sede em Pemba, era uma das subcontratadas da multinacional francesa Total no projeto de gás de Afungi, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

Antes mesmo de a Total anunciar a suspensão "por força maior" das suas operações na região, esta segunda-feira (26.04), a Reef já contabilizava vários prejuízos depois de o seu estaleiro, com vários equipamentos pesados, ter sido incendiado em março, no ataque terrorista a Palma.

Com o anúncio da saída a Total, "a vida vai ser muito difícil", diz Svrika Karidi, proprietário da empresa, revelando à DW África um prejuízo direto de mais de 4 milhões de dólares.

DW África: O significa este anúncio da retirada da Total de Afungi, em termos de prejuízos financeiros?

Svrika Karidi (SK): Como deve saber, o projeto de gás e petróleo é muito exigente, em termos de padrões de qualidade e segurança, então o meu investimento lá em Palma é de mais de quatro milhões de dólares, só em equipamentos. Recentemente, adquiri duas máquinas pesadas novas que ainda não começaram a trabalhar e custaram-me cerca de 650 mil dólares.

DW África: Teve de fazer alguns empréstimos bancários para a aquisição destes equipamentos?

SK: Sim. Todos estes investimentos foram feitos via leasing, empréstimos bancários e agora não sei o que fazer. Estou a pagar aos bocados, mensalmente pago dois milhões de meticais [cerca de 29 mil euros] e pensei que iríamos ter retornos se estivéssemos a trabalhar. Também construí um acampamento com 40 quartos lá, na esperança de que os meus trabalhadores iriam ficar em Palma. Agora não sei como vamos fazer.

DW África: Isto é um prejuízo enorme para as vossas contas como empresários?

SK: Vai ficar difícil, porque não sabemos se vai haver outro projeto onde possamos colocar as nossas máquinas ou encontrar uma forma de rentabilizar os nossos equipamentos. Também é só imaginar: quantas empresas estão agora a sair de Afungi para Pemba? Muitas e todas estas empresas estão agora à procura de novas oportunidades, porque precisamos de devolver o dinheiro ao banco. Não é só isso, nós precisamos de tirar as nossas máquinas de Afungi para cá, em Pemba, em segurança, mas apenas podemos fazê-lo via navio.

DW África: Com este anúncio da Total de abandonar o projeto de Afungi, e a Reef sendo uma empresa com 10 anos no mercado nacional, pensa voltar a fazer o seu trabalho nos moldes anteriores para tentar recuperar os prejuízos e pagar à banca?

Reef Investimento foi posta à vendaFoto: Privat

SK: Vamos ver o que vai acontecer. Agora tudo é prematuro, porque ainda não há garantias de segurança em Cabo Delgado. Hoje, as pessoas estão apenas a apontar o dedo à Total, dizendo que ela abandonou o país. Mas queriam que a Total fizesse o quê? Ela não tem culpa. Pode sair, porque também perdeu muito dinheiro e não há segurança para continuar.

Eu, depois deste ataque a Palma, já coloquei a minha empresa à venda. Tenho a Reef Investimento e um hotel, mas estou a vender tudo e a sair do país, porque não há segurança para continuar a investir aqui. Não gostaria de sair, porque vivo aqui há 15 anos, mas não as coisas não estão boas. Daqui a dois ou três meses não sei o que vai acontecer.

DW África: Quer abandonar o país por causa da segurança ou porque o ambiente de negócio já não lhe é favorável?

SK: O que me faz mais pensar em sair do país é a falta de proteção. No ataque a Palma, muitos dos nossos trabalhadores foram abandonados à sua sorte. Ninguém lhes providenciou evacuação. Foram deixados lá para morrer. Isso, para mim, mostra que ninguém tem amor ao próximo. Não tem nada a ver com o negócio, porque as coisas são assim, um dia pode estar bem e outro não, o ambiente do negócio é sempre assim.

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