É a opinião do jornalista angolano Ilídio Manuel. A retirada de Samakuva dará lugar a uma luta pela liderança, em que já se perfilam vários nomes.
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Depois de liderar a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) durante 15 anos, Isaías Samakuva, que havia apresentado a possibilidade de cessar o seu mandato, anunciou publicamente a sua intenção. Sugeriu a realização de um congresso extraordinário, assim como mandam os estatutos do partido do Galo Negro.
A Comissão Política do Partido "vai reunir para que, além de analisar o relatório da direção da campanha eleitoral, possa também, nos termos dos estatutos, ser ouvida quanto à realização de um congresso extraordinário para a eleição do novo presidente do partido", anunciou Isaías Samakuva.
À DW África, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, informou que a reação do principal partido da oposição angolana vai ser tornada pública esta quinta-feira (28.09).
Para o jornalista Ilídio Manuel, o anúncio do fim do "reinado" de Isaías Samakuva "pode ser um sinal de renovação no seio da própria UNITA". "O Galo Negro vai a votos e, nesse sentido, está a dar uma grande lição de democracia, contrariamente ao MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder], onde as coisas ainda são feitas por indicação", nota o jornalista angolano.
Na opinião do ativista Hitler Samussuku, o dirigente conseguiu reconquistar a sua popularidade, pois estava a perdê-la por ter admitido aceitação dos lugares no Parlamento. "Conseguiu-nos surpreender e conquistou a simpatia quer dos seus militantes quer dos apartidários, que começaram a identificar-se [com o partido] logo que o anúncio foi feito", acrescentou Samussuku.
Para o também especialista em Ciências Políticas, Isaías Samakuva mostrou que é homem de palavra ao decidir abandonar a direção do partido que dirige desde 2003, depois da morte do fundador Jonas Savimbi, em 2002.
Luta pela liderança
"A cessação de Samakuva na UNITA vai abrir uma luta de liderança", antevê o jornalista Ilídio Manuel. "Há várias correntes, umas defendem Adalberto Costa Júnior, outros defendem Paulo Lukamba "Gato" e há ainda uma terceira figura, Raúl Danda", explica o jornalista angolano.
Entre estes potenciais candidatos à liderança do partido fundado por Savimbi, "Adalberto Costa Júnior é a pessoa mais querida quer a nível interno quer a nível quer a nível externo do partido", no entender do ativista Hitler Samussuku
28.09. UNITA - Samakuva - Online - MP3-Mono
Para o ativista, a UNITA, sob liderança de Samakuva, contribuiu para estabilidade política que se vive em Angola. "A estabilidade e a paz não dependeram simplesmente de quem está no poder. Dependeu, em parte, de Isaías Samakuva. Porque se em vez dele tivéssemos um outro líder, que poderia não concordar com as irregularidades e partir para a violência, talvez o país não teria chegado" o ponto em que se encontra atualmente, diz o ativista angolano.
Apesar da UNITA estar ainda a "pagar a factura da guerra", avalia o jornalista Ilídio Manuel, o partido conseguiu durante os 15 anos de mandato de Samakuva recuperar a sua imagem, principalmente no casco urbano.
"Hoje a UNITA é a segunda maior força política em Angola, é o maior partido da oposição", tendo conseguido eleger 51 deputados para o Parlamento nas eleições de 23 de agosto, lembra Ilídio Manuel.
"Embora o seu desempenho tenha sofrido críticas, é preciso ver que a UNITA era uma estrutura militar que estava a fazer uma transição bastante difícil com a morte de Jonas Savimbi", em 2002. "Portanto há quem diga que poderia ter obtido melhores resultados ao longo dos processos eleitorais, mas é algo que não é muito fácil, tendo em conta o próprio contexto" angolano, conclui o jornalista angolano.
Angola: Resultados por províncias
Conheça os dados apresentados até agora pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), província por província, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos.
Total nacional: Vitória do MPLA
O MPLA vence as eleições gerais em Angola com 61,05% do total de votos e João Lourenço é eleito Presidente da República, segundo a CNE, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos. A UNITA obteve 26,72%, CASA-CE 9,49%, PRS 1,33%, FNLA 0,91% e APN 0,50%. Foram eleitos 150 deputados do MPLA, 51 da UNITA, 16 da CASA-CE, 2 do PRS e 1 da FNLA.
Bengo
MPLA 66,92%; UNITA 24,67%; CASA-CE 5,6o%; FNLA 1,24%; PRS 0,94%; APN 0,62%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Benguela
MPLA 61,51%; UNITA 27,60%; CASA-CE 8,95%; PRS 0,90%; FNLA 0,62%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: ato de massas da CASA-CE em Benguela)
Foto: DW/N. S. D´Angola
Bié
MPLA 57,44%; UNITA 38,26%; CASA-CE 1,79%; PRS 1,05%; FNLA 0,86%; APN 0,61%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: ato de campanha do PRS no Cuito)
Foto: DW/M. Luamba
Cabinda
É a província que apresenta os resultados mais equilibrados, com os dois principais partidos da oposição a terem mais votos juntos do que o partido que sem mantém no poder. MPLA 39,75%; CASA-CE 29,33%; UNITA 28,18%; PRS 1,05%; FNLA 0,90%; APN 0,78%. O MPLA e a CASA-CE elegem dois deputados cada e a UNITA apenas um.
Foto: DW/C. Luemba
Cuando Cubango
MPLA 73,20%; UNITA 21,53%; CASA-CE 2,87%; PRS 1,13%; FNLA 0,85%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Norte
Aqui a CASA-CE surge na frente da UNITA: MPLA 77,59%; CASA-CE 10,48%; UNITA 7,91%; FNLA 1,89%; PRS 1,56%; APN 0,57%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Sul
MPLA 76,46%; UNITA 14,70%; CASA-CE 5,97%; PRS 1,23%; FNLA 1,11%; APN 0,53%. O MPLA elege cinco deputados.
MPLA 58,19%; UNITA 35,90%; CASA-CE 3,42%; PRS 1,21%; FNLA 0,77%; APN 0,50%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: registo eleitoral no Huambo, em março)
Foto: DW/J.Adalberto
Huíla
MPLA 76,56%; UNITA 12,39%; CASA-CE 8,38%; PRS 1,24%; FNLA 0,95%; APN 0,47%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: João Lourenço durante a campanha no Lubango)
Foto: DW/A. Vieira
Luanda
Na província de Luanda, o partido no poder e o maior da oposição estão próximos. MPLA 48,17%; UNITA 35,44%; CASA-CE 14,64%; FNLA 0,76%; PRS 0,60%; APN 0,38%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois.
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Norte
Nesta província, a CASA-CE, o segundo maior partido da oposição, aparece em quarto lugar na votação. MPLA 66,66%; UNITA 22,93%; PRS 5,14%; CASA-CE 3,44%; FNLA 1,05%; APN 0,77%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Sul
Aqui o partido no poder vence com um diferença de menos de 5%. E a CASA-CE também aparece no quarto lugar, depois do PRS. MPLA 45,96%; UNITA 41,06%; PRS 9,62%; CASA-CE 2,11%; FNLA 0,79%; APN 0,47%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: centro de Saurimo)
Foto: DW/Sul D'Angola
Malanje
MPLA 76,53%; UNITA 10,78%; CASA-CE 8,88%; PRS 1,95%; FNLA 1,28%; APN 0,58%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: barragem hidroelétrica de Capanda)
Foto: DW/G. C. Silva
Moxico
Aqui, mais uma vez, o PRS aparece em terceiro lugar, seguido pela CASA-CE em quarto. MPLA 74,48%; UNITA 18,90%; PRS 2,78%; CASA-CE 2,73%; FNLA 0,73%; APN 0,39%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Namibe
No Namibe, a CASA-CE surge em segundo lugar na votação, mas o partido no poder tem maioria absoluta dos votos. MPLA 76,48%; CASA-CE 15,61%; UNITA 5,56%; PRS 1,07%; FNLA 0,73%; APN 0,54%. O MPLA elege quatro deputados e a CASA-CE um. (Foto: pavilhão multiuso do Namibe)
Foto: DW/A. Vieira
Uíge
MPLA 71,36%; UNITA 18,55%; CASA-CE 6,19%; FNLA 1,62%; PRS 1,50%; APN 0,78%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: B. Ndomba
Zaire
MPLA 51,31%; UNITA 26,67%; CASA-CE 18,12%; FNLA 1,73%; PRS 1,21%; APN 0,96%. O MPLA elege três deputados, a UNITA e a CASA-CE apenas um. (Foto: oleodutos da Sonnagol na província do Zaire)