Saída ilegal de capital chegou a 9,5% do PIB angolano
24 de junho de 2013 Apesar de a economia de Angola ser extremamente dependente do setor petrolífero, o Banco Mundial prevê para o país um crescimento económico de 7,2% em 2013. Para o próximo ano, a instituição financeira aponta para um crescimento anual na ordem dos 7,5%.
Os cálculos constam do relatório "Angola Economic Update" de 2013, que prevê que este crescimento seja impulsionado "à custa do dinâmico crescimento da produção petrolífera e de preços de exportação elevados". Mas também a informação de que os setores industriais ainda não se modernizaram está incluída no estudo.
O início da produção de gás natural liquefeito poderá também acrescentar até dois pontos percentuais ao PIB angolano no primeiro ano, realça o relatório, que destaca o "impulso considerável" que poderá causar na economia do país. Contudo, apesar dos dados otimistas apresentados pelo Banco Mundial, a organização não-governamental norte-americana Global Financial Integrity revelou esta quarta-feira, numa conferência em Luanda, que mais de 350 milhões de euros saem ilegalmente do país por ano.
“Saídas ilegais de capital acentuam desigualdades sociais”
Tal significa, diz o porta voz da organização, E. J. Faga, que, nos últimos dez anos, foi possível contar-se a saída de cerca de cinco biliões de dólares (quase quatro biliões de euros), mas “este valor não inclui todo o dinheiro que sai ilegalmente do país”. Segundo Faga, trata-se de “dinheiro proveniente de negócios irregulares, em que as pessoas tentam retirar o máximo de dinheiro possível através de recibos falsificados”. E esta retirada de capital do país para evitar taxas, continua, “é responsável por 60% do dinheiro ilegal que circula no mundo”.
Para Alves da Rocha, "são as elites que mais beneficiam" destes movimentos de dinheiro. Segundo o analista, a corrupção em Angola representa 5% do PIB nacional e recorda-se de uma promessa feita há cerca de quatro anos pelo Presidente angolano: José Eduardo dos Santos “decretou tolerância zero relativamente à corrupção”. Até agora, contudo, diz Rocha, “ninguém sabe de nenhum caso que tenha sido identificado, julgado ou divulgado”.
"Quem beneficia são os amigos"
Observando os riscos de circulação de capital ilegal, por exemplo, o dinheiro que cidadãos angolanos aplicam em Portugal, “não é investimento, serve unicamente para enriquecer alguns portugueses”, diz Paulo de Morais, vice-presidente da associação cívica portuguesa Transparência e Integridade. Segundo Morais, o capital angolano que chega a Portugal destina-se maioritariamente à compra de participações em empresas que já existem, “a atividade económica portuguesa pouco beneficia dos capitais angolanos”.
Quem beneficia, diz, “são os amigos dos angolanos que estão disponíveis a alienar parte das empresas que têm em Portugal”. Isto porque, com a chegada de capital angolano a Portugal, “não tem havido novas empresas, nova agricultura, nova atividade nas pescas”. Pelo contrário, “há um conjunto de portugueses cúmplices dos detentores desses capitais angolanos”.