Na Huíla, médicos e autoridades fazem um alerta: os hospitais precisam de reformas urgentes e mais pessoal. Setor da Saúde deve contar com mais 135 milhões de euros do que inicialmente previsto no Orçamento do Estado.
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Falta tudo na maternidade da capital da província, Lubango, segundo a diretora, Luísa Rodrigues. "A estrutura física está a degradar-se. Tem infiltrações em todos os lados, até no bloco operatório tem infiltrações. As paredes estão estragadas, nem se consegue pintar por causa das infiltrações. O teto em si tem infiltração, o teto falso está todo a cair. Quando chove, a ala debaixo é um desastre, as ratazanas de todo este bairro vêm parar todas aqui, apesar de fazermos a desinfestação", relata a directora.
Os problemas não terminam por aqui. A maternidade também tem falta de pessoal médico. "Não temos nenhum médico anestesista. A maternidade devia ter, pelo menos, dois técnicos de anestesia em cada equipa do banco de urgência. Neste momento, está a trabalhar um técnico de anestesia sozinho", conta Luísa Rodrigues.
Saúde em crise na província angolana da Huíla
A um quilómetro de distância da maternidade fica o Hospital Central do Lubango. O hospital foi reabilitado em 2012, mas também está com problemas. Os elevadores, por exemplo, estão avariados, segundo o diretor do gabinete provincial da saúde da Huíla, Eleutério Hivilikwa.
"Não há nenhum elevador a funcionar no hospital. Este hospital tem oito andares. Tirar um doente do primeiro andar ao sétimo andar tem sido uma dor de cabeça. Usa-se alternativas que são muito arriscadas. Muitas vezes, as famílias é que têm de carregar o doente na maca", conta.
Hospital em risco de ser fechado
Eleutério Hivilikwa teme que, se não for feito nada, o hospital possa ter de fechar daqui a um ano ou dois. "O Hospital Central do Lubango não foi reabilitado. As pessoas pintaram as paredes, pintaram alguns tubos, mas não foram mais ao fundo, porque é um hospital que filtra água em todo o canto e esta água vai destruindo quase tudo: as paredes e até os aparelhos", afirma.
Além disso, faltam medicamentos e há médicos russos que estão há dois anos sem salários, revela o diretor do gabinete provincial da saúde da Huíla. Conta que reecebeu uma carta do governador da Huíla, "emitida pela Missão Russa, a informar que a qualquer momento vai retirar os seus profissionais por falta de pagamento".
"Se estes especialistas russos saírem do hospital, teremos de fechar alguns serviços porque há especialidades que são asseguradas só por russo. Refiro-me à cirurgia geral, a neurocirurgia, a cirurgia pediátrica, anestesia então é um risco muito grande. E temos trabalhadores eventuais maior parte são eles então é uma grande ameaça", sublinha Hivilikwa.
O governador provincial da Huíla, João Marcelino Tyipinge, pede mais dinheiro para o setor da Saúde. "O problema fundamental é o orçamento, que é muito pouco. Portanto, é grave. São coisas que não se devem adiar, tem de se trabalhar com o Ministério [da Saúde]. Estes serviços têm de ser repostos", explica.
Em Angola, o setor da Saúde deverá contar, este ano, com mais 135 milhões de euros do que o previsto inicialmente no Orçamento Geral do Estado. A decisão foi tomada durante a discussão do Orçamento na Assembleia Nacional, que terminou na última quarta-feira (14.02).
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.