10 milhões de euros para operacionalizar força em Moçambique
Lusa
28 de junho de 2021
O chefe da diplomacia angolana anunciou hoje o orçamento de 10 milhões de euros para o destacamento da força em estado de alerta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em apoio a Moçambique.
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Téte António, que participou numa reunião virtual extraordinária do Conselho de Ministros da SADC, disse no final do encontro que a reunião foi realizada no âmbito do cumprimento de uma decisão da cimeira de Maputo. Segundo o ministro das Relações Exteriores de Angola, o Conselho de Ministros, composto pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, "foi incumbido de trabalhar no orçamento da força que deve ser operacionalizada para apoiar a República irmã de Moçambique".
"Isto é o que foi analisado hoje, o orçamento é de 12 milhões de dólares no seu total, está subdividido em rubricas, fontes de financiamento", explicou o ministro. O governante angolano sublinhou que as fontes de financiamento desta força estão compostas por um fundo de contingência e contribuições dos Estados-membros que participam dos efetivos, que também deverão contribuir entre si com sete milhões de dólares (5,8 milhões de euros).
O ministro disse que ficou também determinado que, tendo em conta a situação que muitos países da região vivem, poderá ser feito recurso ao fundo de reserva da organização, "para permitir que não haja atrasos no cumprimento desta missão".
"Uma questão de sobrevivência"
"Como sabem é uma questão de sobrevivência da região, a situação em Cabo Delgado, em Moçambique, é uma situação grave, a qual a organização tem que fazer de imediato face e foi determinado o prazo de contribuições que é de 09 de julho, mas se houver um défice de contribuições dos Estados-membros, que estejam atrasados no depósito do montante que foi determinado por cada um dos países, pode-se recorrer ao fundo de reserva", frisou.
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Entretanto, ficou igualmente estabelecido que em caso de se recorrer ao fundo de reserva, a sua reposição "não deve ser feita muito tarde". "Porque não podemos ficar com uma região sem reserva e nós não sabemos como é que a conjuntura pode evoluir, amanhã podemos fazer recurso ao mesmo fundo, é preciso que este fundo seja alimentado", acrescentou.
Téte António salientou que Angola apresentou como proposta no encontro que sejam afinados os mecanismos da organização no sentido de respostas rápidas em situações de crise de emergência ou ameaças, quer sejam de paz e segurança, quer de calamidades naturais e outras.
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Situação de Moçambique "deve servir de lição"
"Uma das questões que a nossa delegação levantou é que [a situação de Moçambique] deve servir de lição para a região, no sentido de nós afinarmos os nossos mecanismos para que quando acontecerem crises dessas a região não esteja a fazer o mesmo exercício de reuniões e reuniões para responder à crise", indicou.
Na sequência da proposta angolana surgiram outras, avançou o ministro, que vão seguir os trâmites normais para se chegar a uma decisão. "Também foi abordada a questão da necessidade de a região aplicar o princípio da subsidiariedade, relativamente à União Africana, significa que quando a região age sobre uma crise está a fazê-lo também em nome da casa-mãe que é a União Africana, estamos mais perto da crise é normal que seja na África Austral, a SADC, na África Ocidental, como vimos várias vezes, a CEDEAO, também tem agido na base deste princípio, como podemos também utilizar os meios existentes na casa-mãe", frisou.
O chefe da diplomacia angolana destacou o caráter de obrigatoriedade das contribuições, por se tratar de uma questão de sobrevivência para a região. "Temos todos que ter essa consciência de que a região está sob ameaça, com crise em Moçambique e todos nós temos que responder prontamente a esta ameaça que nós conhecemos na África Austral", realçou.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.