Sahel necessita de apoio urgente contra crise mais profunda
Lusa
26 de março de 2024
O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que "é necessário um apoio urgente para que se evite uma crise mais profunda no Sahel" e elogia o Mali por continuar a aceitar refugiados.
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"O Mali é um dos vários países que oferecem um refúgio seguro aos mais de 1,1 milhões de refugiados e requerentes de asilo que atravessaram as fronteiras internacionais para escapar à guerra, à perseguição e a outros perigos generalizados e ameaçadores para a vida no Sahel e noutros locais de África", declarou na segunda-feira (25.03) o ACNUR através de um comunicado de imprensa.
A Alta Comissária-adjunta do ACNUR para a Proteção, Ruvendrini Menikdiwela, esteve, a semana passada, numa visita de uma semana ao Mali e ao Togo.
Terminada a visita, elogiou a "abordagem generosa do Mali em relação aos refugiados, mantendo as suas fronteiras abertas e oferecendo-lhes, uma vez registados, os mesmos direitos que os malianos, incluindo o acesso a serviços como os cuidados de saúde e a educação", segundo o comunicado do ACNUR, que a cita.
No entanto, Menikdiwela advertiu que esta ajuda humanitária pode escassear se não houver um "apoio internacional imediato e sustentado".
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Apoio imediato urgente
Segundo Menikdiwela, o Mali e outros países da região africana do Sahel estão sob uma pressão "alarmante" devido às deslocações forçadas e precisam de apoio imediato e adicional para evitar uma crise humanitária ainda mais grave.
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"Os riscos no Mali e nos países vizinhos, muitos dos quais estão agora a enfrentar as suas próprias crises de deslocação, são alarmantes", afirmou.
O Mali acolhe atualmente cerca de 66.793 refugiados, "ao mesmo tempo que se debate com as necessidades urgentes de mais de 354.000 pessoas deslocadas internamente", segundo os dados do ACNUR.
Os refugiados que acolhe, principalmente do Burkina Faso e do Níger, incluem um afluxo significativo de 40.000 do Burkina Faso só nos últimos três meses, fugidos da turbulência e da instabilidade no seu país.
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"Desafios enormes" no Sahel
O Sahel enfrenta "desafios enormes", tais como múltiplos conflitos, inflação dos preços, escassez de ajuda humanitária e efeitos das alterações climáticas, referiu a agência das Nações Unidas.
"No total, cerca de 4,8 milhões de pessoas no Sahel foram recentemente obrigadas a fugir das suas casas para procurar segurança noutros locais", indicou.
Em 2024, o ACNUR precisa de 331,4 milhões de dólares (cerca de 306 milhões de euros) "para manter o apoio às suas operações no Sahel central (Burkina Faso, Mali e Níger) e para atender às necessidades urgentes das populações deslocadas à força", sublinhou. Todavia, no final de fevereiro havia apenas um financiamento de 16%, "o que ameaça a continuidade dos serviços vitais", lamentou.
Os golpes de Estado no Mali (24 de maio de 2021), Níger (26 de julho de 2023), Burkina Faso (06 de agosto de 2023) derrubaram governos eleitos democraticamente e conduziram ao poder juntas militares.
Viagem a partir de Agadez
Todas as semanas, milhares de pessoas atravessam o deserto do Sahel rumo à Europa. A meio da viagem, muitos param em Agadez, a maior cidade do centro do Níger.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Sala de espera
Vêm do Benim e estão cansados. Num centro para refugiados, em Agadez, estes homens aproveitam para dormir. Eles aguardam o transporte que os levará ao norte do continente africano, passando pelo deserto e pela fronteira com a Líbia, até chegar ao Mar Mediterrâneo. Destino final: Europa.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
A cidade dos guetos
Agadez serve de sala de espera aos refugiados da África Ocidental. Migrantes da Nigéria, Senegal, Gana ou Mali vivem nos cerca de 70 guetos que existem por aqui, separados geralmente por país de origem. Estima-se que, em 2015, cem mil refugiados atravessaram o Níger a caminho do norte.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
À entrada do cemitério
"O deserto foi sempre um cemitério para migrantes", diz Rhissa Feltou, edil da cidade localizada no centro da região do Sahel. Ele ouve frequentemente as histórias dos viajantes sobre cadáveres à beira da estrada ou esqueletos encontrados na areia. O tráfico de pessoas é uma importante fonte de rendimento por aqui. A cidade já quase não tem turistas.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Pedir proteção divina
Antes de seguir viagem, muitos buscam a benção de um imã numa das mesquitas de Agadez. Os viajantes não são só ameaçados pelo calor e areia, mas também pelos ladrões e radicais islâmicos estacionados no deserto.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Coragem e desespero
"É assustador", diz Fousseni Ismael, de 16 anos. "Mas tenho de vencer o medo. Na vida, precisamos de ser corajosos." O jovem do Benim pretendia seguir viagem pelo deserto, a bordo de uma carrinha, nessa noite.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Seguir em frente, apesar de tudo
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), morrem tantas pessoas na travessia do deserto, a caminho do norte do continente, como no Mar Mediterrâneo, rumo à Europa. Na mochila, estes homens do Benim levam apenas o essencial. Às vezes, os migrantes levam anos a chegar à Europa.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Água para três dias
Ao todo, 19 homens partilham o espaço nesta pequena carrinha. A viagem até ao sul da Líbia dura três dias. Para evitar que a água para beber evapore, os recipientes são protegidos com sacos molhados. Os "passadores", na cabine do veículo, arriscam até 30 anos de prisão. Pelo menos é o que estipula uma nova lei, instituída sob pressão da União Europeia.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Falta de segurança e corrupção
Alguns polícias tiram proveito do transporte de pessoas pelo deserto. Muitas vezes, os veículos são parados e os refugiados chantageados e roubados. Mais arriscado ainda é para quem se senta na beira dos carros. Os homens seguram-se apenas em pedaços de madeira fixados ao veículo. Cair no meio do deserto seria morte certa. E isso muito antes de alcançar o Mar Mediterrâneo.