Salões de beleza móveis são aposta de jovens angolanos
José Adalberto (Huambo)
20 de julho de 2017
Chamam-lhes pedicuristas ou "moços que tratam das unhas". São geralmente homens, com idades entre os 15 e 35 anos e que encontraram na arte da pedicure e manicure uma forma de enfrentar as dificuldades financeiras.
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Os primeiros "salões móveis" começaram a percorrer o país em meados de 2007, segundo fontes da DW. Dez anos depois, os "pedicuristas" são uma realidade em todo o território nacional angolano.
Munidos de dois banquinhos, toalha e uma cesta com vários materiais - corta unhas, pé-de-cabra, lima, produtos de higiene e desinfetante -, os profissionais percorrem as estradas à procura de quem quer cuidar de si e não se quer deslocar a uma salão de beleza convencional. Dizem que prestam trabalho de qualidade a preços ao alcance de vários bolsos.
21.07.2017 'Salões ambulantes' - MP3-Mono
A DW África acompanhou o dia-a-dia de dois jovens que encontraram neste ofício o seu ganha-pão. A atividade entrou na vida de Celestino Panga, de 24 anos de idade, há cerca de quatro anos, na cidade vizinha do Huambo. Afirmando que foi influenciado por um amigo, o jovem explica que se começou a dedicar à pedicure "por falta de dinheiro". "Pedi ao meu irmão, que já desenvolvia a atividade, para me ensinar ", acrescenta.
Atividade rentável
Os preços praticados oscilam entre os 400 e 500 kwanzas, o equivalente a dois euros por cliente. Celestino Panga admite viver da atividade que considera rentável, sobretudo aos fins de semana, altura em que consegue faturar entre sete e dez mil kwanzas, ou seja, entre 36 e 51 euros. "Já nos ajuda muito. Há dias em que conseguimos fazer cinco, sete ou oito mil [kwanzas], como há também aqueles dias em que não conseguimos nem sequer 500 kwanzas" (2.5 euros), conta.
Ernesto Vieira, de 28 anos, deixou o seu trabalho na cidade do Cunene para se fixar no Bié. Tal como Celestino, encontrou na pedicure o seu sustento, bem como o da sua família. "Trato disto como o meu emprego, ganha-pão, e por isso, seguro-o com as duas mãos, porque é esta atividade a sobrevivência da minha família", que ficou no Cunene”, explica.
Clientes satisfeitos
"Rasta", é conhecido entre os amigos Ernesto Vieira, garante que a questão da higiene e a esterilização do material usado é uma preocupação constante sua e dos seus colegas. "Trocamos de lima, pé-de-cabra e, no final do trabalho, se o cliente quiser levar o material leva", afirma.
"Gostei do tratamento. Cobram mais barato e tratam muito bem", avalia Domingas Pedro, cliente dos pedicuristas, que reconhece a qualidade e o bom preço pelo trabalho realizado.
Na sua opinião, outros jovens que se encontram no desemprego devem abraçar este ofício, que pode ajudar a solucionar parte dos problemas financeiros que enfrentam.
O conceito africano da beleza
O conceito do que é belo em África é diverso e está em constante mudança. Máscaras centenárias mostram que muito do que foi tido como belo é hoje questionado – não apenas em África.
Foto: Dirndl à l´Africaine
Orgulho de ser negro
Colonialistas europeus pensavam que os africanos não era civilizados e, além disso, feios. Os africanos reagiram a essa arrogância. Enquanto alguns adotaram a moda e o estilo das elites urbanas europeias, outros se ativeram aos ideiais tradicionais de beleza. Na América do Norte e na África do Sul, desenvolveu-se o grito de protesto "Black is beautiful" (Ser negro é lindo, em inglês).
Foto: Getty Images/Hulton Archive
Cabelos sensíveis
Penteados são, geralmente, não apenas mera expressão de um estilo pessoal, mas também indicam a idade, origem e status de uma pessoa. De todos os tipos de cabelo, o africano é o mais sensível. Facilmente, ele fica seco e sem vida. Hoje em dia, tornou-se novamente popular deixar o cabelo natural, sem recorrer a cabelos sintéticos ou perucas.
Foto: DW/H. Fischer
Cremes de branqueamento
Óleos, cremes e maquiagem são para muitos africanos garantia de uma pele bonita e saudável. Cremes de branqueamento são populares em vários países. Mais de 75% das mulheres nigerianas clareiam a própria pele com cremes especiais. Em toda África, campanhas alertam para a presença de químicos fortes na composição dos cosméticos, que podem causar danos à pele.
Foto: DW/H. Fischer
Moda de protesto
Durante o período colonial, muitos congoleses queriam mostrar que poderiam ser como os europeus. A mera imitação da Moda de Paris evoluiu para um estilo único. Entre os anos 1970 e 1980, os chamados "Sapeurs", os homens extraordinariamente bem vestidos do Congo, passaram a usar as marcas de luxo ocidentais.
Foto: Getty Images/AFP/Junior D. Kannah
O que dita a moda na Tanzânia
Essa escultura também é parte da mostra "Africa's Top Models" em Hamburgo. Para o grupo étnico Maconde, na Tanzânia, um ideal de beleza feminino são os lábios grandes. Na boca é feito um orifício onde é colocado um alargador, que é trocado ao longo do tempo por outros maiores. Alargadores são também usados nas orelhas em alguns locais no Ocidente. Será que eles vão se tornar a próxima tendência?
Foto: DW/H. Fischer
Estilo à moda antiga
Pele avermelhada, cabelos trançados extravagantes e olhos semicerrados. Esta máscara de mais de 100 anos representa uma mulher bonita da etnia Chokwe, na República Democrática do Congo. Muitos povos africanos traduzem desde séculos o ambiente ao seu redor em forma de máscaras e figuras. Os artistas Chokwe faziam as máscaras inspirados em modelos, que eram proibidas de ver o resultado final.
Foto: DW/H. Fischer
Joias como objetos de proteção
Ouro, prata, pérolas, pedras preciosas, cobre, coral, couro e marfim são acessórios de beleza não apenas em África. Mas no continente africano elas carregam uma simbologia. As joias servem como proteção contra maldições e também como talimãs da sorte. Em algumas regiões, pessoas consideradas belas usam joias especiais para se proteger da inveja alheia.
Foto: DW/H. Fischer
Beleza como expressão de bons costumes
Na língua do grupo étnico Ibibio, da Nigéria, a palavra "mfon" significa "belo" e "moralmente bom". "Idiok" quer dizer "odioso" e "moralmente ruim". Os ancestrais da boa moral eram representados por belas máscaras: elas são simétricas, a cor da pele é clara, a testa é alta e as feições são delicadas. As máscaras de ancestrais imorais têm narizes tortos e são desfiguradas.
Foto: DW/H. Fischer
A verdadeira beleza vem de dentro
"Um rosto bonito e um belo vestido não constituem um belo caráter", diz um provérbio congolês. Em muitas culturas africanas, o pensamento é de que os que agem moralmente também são belos. Um comportamento reservado e a bondade altruísta são considerados em muitos lugares, especialmente na Índia, como expressão da "beleza interna".
Foto: DW/H. Fischer
A África é chique!
Não é apenas o Ocidente que exporta o seu conceito de beleza para o mundo. Designers africanos também conquistam as passarelas. Tecidos africanos e cortes tradicionais são populares em outros continentes. Ideais de beleza antigos, como os penteados trançados, são muito populares na Europa e Estados Unidos.