A Sala da Paz considera que, em geral, a votação em Moçambique decorreu em "ambiente calmo e ordeiro", mas lamenta as duas mortes em Nampula. Plataforma de observação eleitoral calcula que abstenção andará pelos 50%.
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Em entrevista à DW África, Gil Mulhovo, da Sala da Paz, faz um balanço positivo do dia das eleições em Moçambique, apesar dos dois óbitos e dos vários incidentes verificados. Duas pessoas morreram na província de Nampula. Uma das mortes, por baleamento, ocorreu em Nacala-Porto, enquanto a segunda aconteceu na cidade de Angoche.
Gil Mulhovo lamenta o sucedido e considera que houve "alguns excessos" da polícia em Nampula e na Zambézia. Além dos casos de boletins de voto já preenchidos que foram detetados no dia da votação, a Sala da Paz relata que vários observadores eleitorais foram impedidos de trabalhar em algumas assembleias de voto.
Em termos de abstenção, a plataforma calcula que, para já, esteja na casa dos 50%. A organização não-governamental (ONG) também promete continuar atenta ao período de apuramento de votos e a eventuais "constrangimentos".
DW África:No geral, qual é o balanço final que a Sala da Paz faz do processo eleitoral, que ficou manchado por duas mortes na província de Nampula durante a contagem de votos?
Gil Mulhovo (GM): Relativamente ao dia da votação, não obstante a ocorrência de alguns incidentes e violência, além de questões relacionadas também com alguma tentativa de algumas irregularidades que foram identificadas pela Sala da Paz, nós vimos que, no geral, o processo de votação decorreu num ambiente calmo e ordeiro. No entanto, houve claramente vários incidentes, nomeadamente a questão de alguns boletins de voto já preenchidos que foram identificados, sobretudo ao longo do período da manhã, e foram neutralizadas as pessoas que tinham os boletins. Temos a questão do baleamento pela polícia, na região de Nampula, e temos também, na mesma sequência, alguns ferimentos que foram causados a alguns eleitores.
DW África:Quando fala em casos de eleitores na posse de boletins de votos já marcados, boletins extra, está a falar daqueles boletins favoráveis à FRELIMO que foram encontrados na altura da votação? Isto era algo já previsível para a Sala da Paz?
GM: Na verdade, são casosque vamos identificando. Já tínhamos algumas dessas situações como situações de risco e fomos identificando. As pessoas foram neutralizadas. Apesar de serem casos isolados, são casos que nos preocupam bastante porque, de certa forma, retiram algum brio aos processos eleitorais do país.
DW África:E também há relatos de dificuldades vividas por observadores, que estavam devidamente identificados e que acabaram por ser impedidos de trabalhar em algumas províncias, como Cabo Delgado, Tete ou Inhambane.
GM: Verificámos, de facto, situações em que os nossos observadores foram impedidos, sobretudo no momento da contagem, de fazer observação do processo em algumas assembleias de voto. Em Tete, na região de Cahora Bassa, dois dos nossos observadores foram detidos, mas depois foram soltos em seguida. Nós notamos também, com algum pesar e insatisfação, que alguns dos nossos observadores, apesar de devidamente identificados, na região da Zambézia e Nampula, foram impedidos [de trabalhar]. Mas tudo isso deu-se mais no momento da contagem.
Sala da Paz: Abstenção a rondar 50% em dia de votação calma
DW África: E como avalia a atuação da polícia? Há notícias de agressões e até ameaças de morte por parte de alguns agentes contra escrutinadores.
GM: Nós não conseguimos captar as ameaças de morte por via da nossa plataforma, mas o que notamos é que, de facto, existem alguns casos provocados pela aglutinação de eleitores depois de votarem, na região norte. Para nós, o baleamento em Nampula era realmente desnecessário e acreditamos que a polícia podia ter feito melhor. Nampula e Zambézia foi onde conseguimos identificar alguns casos onde até a polícia chegou a usar gás lacrimogéneo para poder dispersar eleitores. Portanto, apesar de notarmos que no resto do país a polícia fez um bom trabalho, reconhecemos que nessas regiões existiram alguns excessos.
DW África:A Sala da Paz está a acompanhar também a contagem de votos. Como é que está a decorrer o apuramento eleitoral? Acha que o ambiente é menos tenso do que em eleições anteriores?
GM: Exatamente. E comparando com as eleições anteriores, está a decorrer com alguma acalmia, não obstante, de facto, reconhecermos que existem alguns incidentes. Mas comparando com o ambiente tenso que se foi criando desde o período da campanha, achamos que há, de facto, uma relativa acalmia, sobretudo também à medida que vão saindo os resultados e até ao momento ainda não tivemos grandes registos de reações violentas ou de agressões. Nós continuamos a fazer o apuramento.
Moçambique: Sala da Paz denuncia "ilegalidade" em Tete
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DW África:Portanto, a Sala da Paz vai certamente continuar atenta ao apuramento dos votos?
GM: Com certeza. Continuamos a fazer a observação do período de apuramento. Devo recordar que grandes constrangimentos normalmente acontecem na fase do apuramento. Infelizmente, é assim que tem sido, desde as eleições de 2014.
DW África:Em termos de abstenção, a Sala da Paz quer comentar as previsões? O Centro de Integridade Pública (CIP), por exemplo, prevê uma abstenção superior a 50%.
GM: A abstenção que estamos a ter é de cerca de 50%, que nos coloca nos mesmos níveis que foram atingidos em 2014. Pensamos que se calhar, pelos dados que estamos a ter, não vai variar tanto a avaliação final. Mas, por enquanto, está ligeiramente acima de 50%. O número mais alto foi nas eleições de 2004, quando a abstenção foi de 64% e depois fomos descendo.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.