O ex-Presidente francês, Nicolas Sarkozy, é interrogado pelo segundo dia consecutivo por suspeitas de ter recebido dinheiro do ex-líder da Líbia, Muammar Kadhafi, para a sua campanha eleitoral de 2007.
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Nicolas Sarkozy passou a noite em casa e chegou esta manhã à Polícia Judicial de Nanterre para uma nova sessão de interrogatórios, de acordo com as agências de notícias. O ex-chefe de Estado foi detido na manhã de terça-feira (20.03), em Nanterre, nos arredores de Paris, para ser interrogado pela polícia no âmbito de uma investigação sobre o financiamento da sua campanha eleitoral em 2007.
O processo judicial teve origem num documento líbio, publicado em maio de 2012 no portal de informação Médiapart, revelando que o antigo Presidente francês teria recebido dinheiro do ex-líder da Líbia Muammar Kadafi.
"Trata-se do financiamento de uma campanha presidencial de alguém que se tornaria Presidente - Nicolas Sarkozy, em 2007 - por uma ditadura, com dinheiro de uma ditadura, dinheiro de Muammar Kadafi", afirma o jornalista Edwy Plenel, fundador do Médiapart. "Há suspeitas de corrupção, de financiamento ilegal de uma campanha, um enorme escândalo no Estado", sublinha.
Mercado de escravos na Líbia
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O regime de Muammar Kadafi terá transferido para Nicolas Sarkozy 50 milhões de euros - mais do dobro do limite legal de 21 milhões para o financiamento de campanhas. Os pagamentos violam também as regras francesas sobre financiamento estrangeiro e declaração das origens dos fundos de campanha.
Edwy Plenel garante que há provas. "Os juízes interrogaram agentes secretos, diplomatas, tradutores e todos confirmaram a veracidade do documento e dos factos: a promessa da ditadura líbia de financiar Sarkozy com 50 milhões de euros. Hoje sabemos que parte deste dinheiro foi transferido para a campanha de 2007", explica.
Ligações suspeitas
Quatro anos após a denúncia do Médiapart, em 2016, o empresário Ziad Takieddine, que foi ministro do Interior de Kadafi, afirmou ter recebido cinco milhões de euros em dinheiro entre o final de 2006 e início de 2007, de Tripoli para Paris, que entregou a Nicolas Sarkozy, que era então ministro do Interior, e ao seu diretor de gabinete, Claude Guéant. Sarkozy sempre negou as acusações, classificando-as como "manipulação e crueldade".
Sarkozy e os milhões de Kadhafi
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Para Thomas Borrel, porta-voz da ONG francesa Survie, que luta contra o neo-colonialismo francês em África, a detenção de Sarkozy significa que os magistrados têm provas suficientes para incriminar o ex-Presidente. "Se os juízes estão a embarcar nesta nova etapa contra um antigo Presidente da República, é porque certamente têm elementos muito concretos. Não é um ato em vão", conclui.
A justiça francesa recuperou a agenda do ministro do Petróleo de Kadafi, Choukri Ghanem, que morreu em 2012 em circunstâncias pouco claras, onde os pagamentos de dinheiro a Sarkozy eram mencionados. Um ex-colaborador do líder líbio que estava encarregue das relações com França, Bachir Saleh, também assegurou ao jornal "Le Monde" que Kadafi disse que "tinha financiado Sarkozy".
Mansão na Riviera
A justiça investiga ainda o caso da venda de uma mansão na Riviera Francesa, em 2009, por cerca de 10 milhões de euros, a um fundo líbio administrado por Bachir Saleh, também ex-tesoureiro do regime de Kadafi.
Os investigadores suspeitam que o empresário Alexandre Djouhri - que terá alegadamente servido de intermediário para os pagamentos entre Tripoli e a campanha de Sarkozy - seja o verdadeiro proprietário desta casa, que terá vendido a um preço "muito inflacionado".
A justiça francesa quer ouvir Bachir Djaleh e Alexandre Djouhri no âmbito das investigações. Djaleh, exilado na África do Sul, sobreviveu a uma tentativa de assassinato no final de fevereiro, em Joanesburgo. Djouhri foi detido em Londres em janeiro, por suspeitas de "fraude e branqueamento de capitais", e poderá ser extraditado para França em julho, a pedido de Paris.
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.