Alterações climáticas: Save the Children pede ações urgentes
Mimi Mefo | Lusa | rl
3 de dezembro de 2019
O mais recente relatório da organização Save the Children mostra que, só este ano, mais de 1.200 pessoas perderam a vida devido a desastres naturais na África Oriental e Austral.
Publicidade
Só em Moçambique, o ciclone Idai, que atingiu o centro do país em março, provocou mais de 600 mortos. No total, diz a Save the Children, mais de 1.200 pessoas perderam a vida em 2019 na sequência de desastres naturais.
Os números são alarmantes, segundo Thomas Lay, diretor de emergências da organização na região: "O relatório analisou dez países da África Oriental e Austral e concluiu que 33 milhões de pessoas, das quais 16 milhões são crianças, sofrem, atualmente, de insegurança alimentar, devido às consequências das alterações climáticas".
A organização lança ainda o alerta: o número de pessoas deslocadas na sequência de desastres naturais poderá duplicar até ao final deste ano. Afinal, só em 2019, fenómenos naturais como ciclones, inundações e deslizamentos de terra abalaram vários países do continente africano. Para além de Moçambique, o Zimbabué, Malawi, Quénia, Sudão e Somália também foram afetados.
É portanto necessária, diz Thomas Lay, uma resposta urgente por parte dos líderes globais ao impacto das alterações climáticas, que devem colaborar com os líderes africanos para que estes "sejam capazes de lidar com a situação".
"Os líderes africanos precisam de reconhecer o que está a acontecer e precisam de coordenação apropriada", sublinha.
De olhos postos na COP25
O relatório da Save the Children que, entre outros, mostra que a crise climática está a agravar a "desigualdade e pobreza" na África Oriental e Austral,foi divulgado esta segunda-feira (02.12), dia do arranque, em Madrid, da 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP25).
Alterações climáticas: Save the Children pede ações urgentes
"Enquanto líderes mundiais se reúnem para a COP25, pedimos que tomem decisões firmes para reduzir o impacto das mudanças climáticas e para garantir que as vidas e o futuro das nossas crianças são protegidos", afirma Ian Vale, diretor da Save the Children para a África Oriental e Austral.
O arranque do evento ficou marcado pelos sucessivos pedidos de ações urgentes em prol do clima. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lembrou que "milhões de jovens em todo o mundo" têm pedido aos líderes mundiais que "façam mais" e que "precisamos de uma mudança rápida e profunda na forma como fazemos negócios, como geramos energia, como construímos cidades ou como nos movimentamos".
"Se não mudarmos urgentemente o nosso modo de vida”, garante o secretário-geral da ONU, "vamos colocar-nos em risco".
O primeiro dia da COP25 ficou ainda marcado pelo discurso de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, que subiu ao palco para deixar claro que, apesar da retirada do seu país do Acordo de Paris no mês passado, os Estados Unidos continuam "envolvidos na luta contra as alterações climáticas".
Destaque ainda para a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que anunciou em Madrid que em março apresentará uma lei para tornar a transição climática irreversível na União Europeia, "o que supõe dotar de uma perspetiva climática todos os setores económicos". A medida implica uma energia limpa e acessível, o desenvolvimento da economia circular e desenhar uma estratégia de biodiversidade.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.