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Se a guerra "não é iminente", porque pede a Ucrânia armas?

Nick Connolly (Kiev) | Ben Knight
8 de fevereiro de 2022

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirma que o risco de uma invasão russa é "o mesmo de sempre". Mesmo assim, pede apoio ao Ocidente.

Foto: Ukrainian Defense Ministry Press Service/AP Photo/picture alliance

Moscovo já destacou aproximadamente 100 mil tropas para a fronteira a leste e norte da Ucrânia e também para a Crimeia. A movimentação de tropas começou no final de 2021, e os EUA avisaram que o número de tropas russas pode aumentar muito rapidamente para 175 mil.

Analistas dizem que, cada vez mais, as tropas estão na posse do equipamento necessário para uma invasão da Ucrânia. Este tipo de preparação inclui o abastecimento de reservas de sangue para os hospitais de campanha russos, perto da fronteira ucraniana.

Ao mesmo tempo, a Rússia tem realizado exercícios militares na Bielorrússia com o que a NATO estima serem 30 mil tropas russas adicionais.

Em resposta, a Ucrânia pediu e começou a receber armas de países ocidentais nas últimas semanas: sistemas antitanque dos EUA e do Reino Unido, além de munições e mísseis antiaéreos dos países bálticos. A União Europeia anunciou que iria ajudar com mil milhões de euros.

A questão principal é se esta é apenas uma estratégia de Vladimir Putin para provocar medo - numa tentativa de concentrar a atenção do Ocidente na sua exigência de que a Ucrânia nunca seja autorizada a aderir à NATO - ou se o líder russo pretende mesmo invadir o país. E, caso isso aconteça, será algo localizado ou uma invasão em grande escala?

Civis temem uma guerra na Ucrânia

03:38

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Como iniciaram as tensões?

A 2 de fevereiro, a Casa Branca anunciou que o termo 'iminente' já não seria usado para descrever a ameaça russa. Isto porque sugere alguma certeza acerca das intenções de Putin. A palavra incomodara Kiev.

"Sou o Presidente da Ucrânia, estou no terreno e acho que entendo a situação melhor do que qualquer outro Presidente", afirmou Volodymyr Zelensky aos jornalistas, numa tentativa de explicar o discurso mais cuidadoso da Ucrânia.

Enquanto os EUA falavam de uma séria ameaça de invasão russa, Zelensky disse que o risco de o seu país ser invadido não era maior do que antes. O chefe de Estado ucraniano disse que a única coisa que mudara era a atenção súbita que o problema estava a receber da imprensa internacional.

Foi uma afirmação surpreendente, tendo em conta que vários líderes ucranianos, incluindo o próprio Zelensky, passaram anos a avisar o Ocidente que não deve subestimar a ameaça que a Rússia apresenta para a soberania ucraniana. E não só, Kiev elaborou também uma longa lista de armas que gostaria de comprar ao Ocidente para impedir um ataque russo.

Para o politólogo Volodymyr Fesenko, as diferenças entre Kiev e Washington prendem-se com "estilo e ênfase", acima de tudo.

A presença de tropas nas fronteiras aumenta desde que a Rússia anexou a Crimeia, em 2014. E em todas as primaveras e verões há exercícios militares de larga escala.

Como tal, diz Fresenko, os ucranianos já aprenderam a viver com o constante risco de invasão. Tudo o que se fala acerca de guerra já foi debatido no passado, não é nada de novo.

"A guerra ainda está para vir, mas a guerra dos média já está a ser combatida e tem um impacto negativo na economia ucraniana", disse Fesenko à DW.

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Como se resolveram situações semelhantes?

Não é a primeira vez que a Rússia usa tropas para espicaçar o clima de tensão com a Ucrânia. Foi o caso em abril e março de 2021, quando a Marinha russa fez exercícios no Mar Negro com dezenas de milhares de tropas.

Isto causou alguma preocupação na comunidade internacional, mas na altura o receio de uma guerra iminente era menor, uma vez que a Rússia não tinha os meios logísticos posicionados para uma invasão, nem fizera exigências concretas. A situação foi resolvida de imediato, durante uma cimeira entre o Presidente norte-americano, Joe Biden, e o homólogo russo, Vladimir Putin. A Rússia parou as manobras que levaram as suas tropas para as fronteiras com a Ucrânia.

Desta vez, parece pouco provável que a situação possa ser resolvida com uma mera oferta de diálogo. A Rússia entrou nas negociações com uma série de exigências, incluindo a proibição da entrada da Ucrânia na NATO e um compromisso da organização de retirar tropas e material bélico da Europa do Leste.

A NATO recusou. Sendo assim, resta apenas a hipótese de aceder à outra exigência russa: controlar mísseis de alcance intermédio na Europa. No entanto, mesmo que essa condição seja aceite, analistas temem que isso não chegue para pôr fim ao conflito.

Qual o custo para a Ucrânia?

Apesar de não haver guerra entre os dois países, as conversas acerca da possibilidade de um conflito armado já afetam a Ucrânia. Os investidores internacionais perderam a confiança no país, e é por isto que o Presidente Zelensky pretende amenizar a retórica.

A moeda nacional da Ucrânia, a hryvnia, tem-se mantido à tona com uma perda de valor de apenas 10%, comparando ao euro. Isto graças à ajuda do banco central, que já gastou mais de mil milhões de euros para impedir que baixe o valor. Mas há indícios que apontam para uma paragem nos investimentos de empresas internacionais. As empresas parecem seguir o exemplo de embaixadas ocidentais, que estão a retirar parte dos seus funcionários da capital ucraniana.

Primeiro-ministro Boris Johnson, do Reino Unido (à esq.), durante encontro em Kiev com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em 1 de fevereiro de 2022Foto: Peter Nicholls/AP Photo/picture alliance

Quantificar todas estas perdas é difícil, mas os analistas avisam que uma insegurança duradoura pode congelar permanentemente o desenvolvimento económico do país.

Há um lado bom para a Ucrânia?

Em apenas uma semana, os líderes da Turquia, Reino Unido e Países Baixos foram até Kiev com promessas de material militar. Foi uma demonstração de apoio sem precedentes que, em circunstâncias normais, seria celebrada pela Ucrânia como uma vitória diplomática.

Mas as armas disponibilizadas até agora e as promessas de futuras entregas dos EUA e de outros países da NATO continuam a ser um apoio modesto, pelo menos quando comparado com o apoio que os Estados Unidos oferecem a Israel ou ofereceram ao Afeganistão, antes da ocupação talibã.

Relativamente à entrada na NATO, a aliança recusa-se a fechar a porta à Ucrânia. Porém, não mostra qualquer vontade de deixar entrar o país a curto ou médio prazo.

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