Líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido do país, Daviz Simango, prometeu acabar com a "democracia armada" vigente em Moçambique, se for eleito em outubro Presidente da República .
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Em Moçambique, Daviz Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o segundo maior partido da oposição formalizou nesta quarta-feira (12.06.) a sua candidatura às presidenciais de 15 de outubro no Conselho Constitucional. Caso a candidatura seja validada, será a terceira vez que Simango concorre à Presidência da República, depois de o ter feito em 2009 e 2014. Recorde-se, que as candidaturas para as eleições gerais encerram a 15 de julho. Antes desse prazo, o Conselho Constitucional terá de verificar a legalidade das propostas, para a sua validação ou rejeição
Nos últimos anos o MDM experimentou uma ascensão extraordinária nas eleições autárquicas, mas no último pleito sofreu igualmente derrocadas históricas. Neste contexto, como o partido de Daviz Simango entra para as eleições gerais deste ano? Falamos com Daviz Simango, que prometeu acabar com a "democracia armada" no país caso vença.
DW África: Qual será uma das primeiras medidas que irá tomar caso vencer o pleito eleitoral de outubro próximo?
Daviz Simango (DS): Fomos forçados a ter uma lei de descentralização de modelo armado e chega-se hoje à conclusão que afinal de contas os governadores que vão dirigir não irão ter os poderes desejados como deveriam ter. Por outro lado, continuamos a assistir assassinatos e violações dos direitos humanos tudo porque afinal há muitas armas espalhadas pelo país e essas armas têm donos que fazem a transação comercial, vende essas armas em detrimento da proteção da vida humana. Portanto, tudo o que quero fazer neste momento é salvar vidas, garantir o respeito pela vida humana e para isso é preciso rápidamente adotar uma solução de diálogo direto, aberto, envolvendo toda a sociedade civil, todos os atores interessados para que de facto não haja nada escondido em torno deste aspeto.
DW África: Alianças estratégicas para aumentar a base eleitoral do MDM entra nas equações do seu partido?
DS: O que sei é que o partido tem os seus órgãos e mesmo anteriormente o congresso definira uma espécie de coligação. Portanto, o MDM está a preparar-se para concorrer e eventualmente depois das eleições poderá haver algum interesse pós-eleitoral por causa dos assentos na Assembleia da República ou então, uma eventual necessidade de ser garantida a solidez em determinadas matérias. Naturalmente o MDM irá apoiar aquilo que é do interesse do povo.
Se for eleito Presidente de Moçambique Daviz Simango promete acabar com "democracia armada" no país
DW África: E já houve algum interesse manifestado por parte de outras formações políticas nesse sentido?
DS: Não gostamos de aventuras e nem queremos ser aventureiros. Pode ter havido um ou outro que queira manifestar algum interesse mas de uma forma limitada, sem bases de apoio. Portanto, o MDM com muito sacrifício consentido nesses anos todos construiu uma base política sólida e quer ampliá-la. É importante que todos aqueles que queiram juntar-se ao MDM que tragam também as suas bases para que de facto possamos estar juntos e podermos caminhar ou avançar com uma plataforma comum. Mas, o MDM neste momento não tem nenhuma ação na manga, não tem nenhum acordo seja com quem for porque o que nos interessa é melhorar a plataforma das nossas bases e garantir de facto que ela participe nas eleições e possa trazer frutos ou seja votos da população.
DW África: A derrapagem do MDM nas eleições autárquicas não intimidou ou amedrontou o partido para este processo que vai acontecer em outubro próximo, as eleições gerais?
DS: Não e nem tão pouco...É verdade que passamos por um período extremamente difícil, em que as pessoas nos atiravam pedras, as Tvs, as rádios e os jornais só falavam do MDM de uma forma muito negativa e hoje assistimos a situações muito piores vividas pelos nossos partidos opositores. A imprensa já não escreve, os comentadores já não falam... a bola virou para o outro lado e todo o mundo está calado. Estamos seguros que toda aquela manobra dilatória no sentido de desacreditar o MDM não surtiu efeito porque o MDM é forte e tratou-se sómente de uma tentativade para retardar a marcha do MDM. Mas atualmente estamos bem acordados e sabemos o que vamos fazer nessas eleições de outubro.
Moçambique pede ajuda para reconstrução e resiliência
O Governo moçambicano precisa de 2,8 mil milhões de euros para reconstruir zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Conferência de doadores arranca a 31 maio na Beira. Setor social e infraestruturas são prioridades.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
2,8 mil milhões de euros para reconstruir o país
Para reconstruir as áreas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, o Governo moçambicano precisa de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros). É esse montante que o Executivo vai pedir aos doadores internacionais, na conferência que terá lugar entre 31 de maio e 1 de junho, na cidade da Beira, a mais atingida pelo Idai.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Infraestruturas e setor social são prioridades
Segundo o Executivo, o dinheiro angariado servirá para responder às necessidades dos setores social, produtivo e infraestruturas. A maioria fatia será canalizada para a reconstrução no centro de Moçambique, devastada em março pelo ciclone Idai. A verba restante será usada para colmatar os prejuízos causados pelo ciclone Kenneth, em abril, na região norte.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Onyodi
Conferência de doadores na Beira
É esperada a presença de mais de 700 participantes no encontro da Beira. A autarquia vai apresentar aos doadores um orçamento de 890 milhões de dólares (795 milhões de euros) para financiar o Plano de Reconstrução e Resiliência. Quando apresentou o plano, o edil Daviz Simango alertou para a necessidade de melhorar as redes de comunicação, energia e estradas, severamente afetados durante o ciclone.
Foto: DW/A. Sebastião
Plano de Reconstrução e Resiliência
"O município, por si só, não tem capacidade para custear a reconstrução" da Beira, disse o autarca Daviz Simango durante a apresentação do Plano de Reconstrução e Resiliência. A maior fatia das verbas será destinada à habitação (246 milhões de euros), seguindo-se o setor económico e negócios (181 milhões de euros) e drenagem (173,6 milhões de euros).
Foto: DW/A. Kriesch
Proteção costeira também é prioridade
Para a reconstrução de infraestruturas de proteção costeira, o município da Beira vai precisar de 81 milhões de euros. Os planos passam pela construção de esporões e de um muro com mais de 10 quilómetros. Para o saneamento estão previstos 43,8 milhões de euros, para as infraestruturas rodoviárias outros 33 milhões de euros e para os edifícios públicos 10,7 milhões de euros.
Foto: DW/A. Kriesch
"Infraestruturas resilientes" para evitar inundações
Para Daviz Simango, o grande desafio na cidade da Beira é criar "infraestruturas resilientes" que estejam preparadas para ventos fortes ou inundações. "Temos de nos adaptar às várias mudanças climáticas", diz o edil. O banco alemão para o desenvolvimento KfW financia, desde 2016, um projeto para evitar inundações durante o período de chuvas fortes e marés altas.
Foto: DW/A. Kriesch
Ajuda para 1,85 milhões de pessoas
Segundo os números mais recentes da ONU, ainda há 1,85 milhões de pessoas a precisar de ajuda em Moçambique. Até 30 de abril, ainda só tinham sido angariados 22% dos 3,1 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) necessita para financiar a sua operação em Moçambique. Faltam recursos para assegurar apoio básico e instalações para os deslocados internos.
Foto: DW/M. Mueia
Preocupações e riscos
O ACNUR está preocupado com a integridade física dos deslocados instalados em centros de acolhimento temporários. Além de problemas de sobrelotação, a agência da ONU para os refugiados também tem alertado para problemas na organização e distribuição de ajuda humanitária, que representam "riscos de discriminação e abusos", sobretudo em casos de crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
Foto: DW/M. Mueia
Idai e Kenneth em números
O ciclone Idai que atingiu o centro de Moçambique em março provocou 603 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, além de ter originado 146 mil deslocados internos. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou 250.000 pessoas.