Seca agrava risco de insegurança alimentar em Moçambique
Lusa
24 de maio de 2018
Partes do centro e sul de Moçambique devem enfrentar maiores dificuldades no acesso a comida a partir de junho, devido à seca, segundo as previsões de uma rede de alerta para riscos de fome.
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Apesar de o grau de alerta não chegar ao nível de emergência, como já aconteceu em 2016, há sinais de escassez ao nível da agricultura de subsistência, da qual depende a maioria dos moçambicanos.
"Devido a uma fracassada campanha agrícola de 2017/18, os agregados familiares mais pobres não têm acesso a rendimento aos níveis habituais no interior de Gaza, Inhambane, norte de Maputo, sul de Tete e partes das províncias de Manica e Sofala", refere a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (FEWS Net, sigla inglesa).
Culturas de resiliência à seca em Moçambique
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A situação faz com que estas zonas estejam sob stress, o segundo nível de alerta numa escala de cinco, face ao risco de insegurança alimentar.
"Indicadores de crise (terceiro nível de alerta) já são visíveis no distrito de Chigubo, na província de Gaza, e devem surgir em junho nas áreas semiáridas do Sul e do Centro", que são, no essencial, as zonas já em stress. Chigubo é "o distrito mais vulnerável, por ter menor quantidade de recursos hídricos", acrescenta.
Uma avaliação rápida em áreas remotas da província de Gaza, a Sul, concluiu que "na maioria das áreas não houve colheita principal ou que o seu rendimento está significativamente abaixo da média".
Preços estabilizaram
Apesar do cenário, os preços dos alimentos básicos estabilizaram ou seguem em sentido descendente, acrescenta o documento.
"Os preços do grão de milho, em abril, ficaram 23% a 26% abaixo da média de cinco anos e dos preços do ano passado respetivamente".
A rede FEWS Net foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) em 1985 para apoio à tomada de decisões na gestão de apoio humanitário.
O risco de insegurança alimentar é classificado de acordo com uma escala de cinco níveis: risco mínimo, stress, crise, emergência e fome.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.