A África do Leste atravessa uma das piores crises de sempre causada pela seca.
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Burhan Semakula conhece bem a fauna e a flora do Uganda. É professor no distrito de Luwero no sul do país. E não tem dúvidas. A situação é mesmo problemática: "As plantas secaram. Isto significa que é muito difícil conseguir comida”. Semakula explica que a sobrevivência do gado também está em causa: "Tivemos de mudar os animais de lugar para salvá-los da seca. Está tanto calor que parte da população depende da ajuda do Estado e de várias organizações não governamentais".
O ministro ugandês das Finanças Matia Kasaija, já avisou que a estiagem pode ter consequências nefastas na economia e obrigar a uma redução de gastos e maior investimento nos apoios alimentares para evitar a morte de milhares de cidadãos: "Este fenómeno criou uma situação de crise humanitária: cerca de 12 milhões de pessoas estão a precisar de ajuda alimentar e é esperado que a atual seca agrave ainda mais a já difícil situação na região".
O pior está por vir
Em 2015 e 2016, todos os países foram atingidos pelo fenómeno climático El Niño. Schukri Ahmed, da agência das Nações Unidas para a alimentação FAO, diz que a situação "resultou numa crise humanitária”. E uma vez que não se avista o fim da seca, "é muito provável que a crise se agudize”, diz Ahmed.
Nos próximos meses, a seca deverá atingir o pico máximo. No Quénia, por exemplo, a conjuntura poderá piorar, pois há mais de um ano que não chove em algumas áreas desta nação da África Oriental. As regiões mais afetadas são as do nordeste, explica o especialista em Desenvolvimento Titus Mung'ou: "Estamos a tentar encontrar maneiras para dar melhor formação às pessoas, especialmente aos agricultores para que se adaptem às alterações climáticas”.
06.01.2017 Seca em África - MP3-Mono
Educação sofre com a seca
Mung'ou salienta que os agricultores devem começar a armazenar o máximo de alimentos possível durante as estações chuvosas e iniciar mais cedo a fase de plantação e fertilização: "Os especialistas em climatologia deviam também trabalhar lado a lado com os agricultores. A mensagem é: protege o teu bosque e vais conseguir sobreviver enquanto agricultor”.
Na Etiópia, o impacto da seca alastrou-se à educação. Duas escolas tiveram de fechar nos arredores de Negash Ullala por falta de alunos. As populações nómadas mudaram de região em busca de capim para os animais. Estima-se que mais de 52 mil alunos e 186 escolas tenham sido afetados pelas migrações provocadas pela seca severa.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.