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Seca em Angola pode provocar um "genocídio silencioso"

Mariana Estarque27 de junho de 2013

A Caritas angolana está a coordenar uma campanha para a arrecadação de água e alimentos para as vítimas da seca no sul de Angola. Segundo a organização humanitária, mais de 1,5 milhão de pessoas sofrem com a estiagem.

A seca já dura há dois anos em AngolaFoto: picture alliance/Anka Agency International

A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), lançou uma campanha dia 23 de junho 2013, coordenada pela Caritas angolana, para arrecadar alimentos e água para distribuir pelos angolanos afectados pela seca. Segundo a organização, 1,5 milhões de pessoas estão em situação de crise no país. As províncias mais atingidas pela estiagem, que dura há dois anos, são Cunene, Huíla, Namibe, Benguela e Cuando Cubango. Na região, muitas famílias vivem da agricultura e da pecuária.

A Caritas ainda não tem informações precisas se a seca resultou em mortes, mas afirma que muitas pessoas estão a alimentar-se de raízes e frutos silvestres, que estão a causar diversos problemas de saúde. Eusébio Amarante, Vice-Director Geral da Caritas de Angola, aponta as doações mais necessárias. "Neste momento faz muito falta alimentação não perecível e também estamos a pedir àgua". Eusébio apela aos que tiverem "vasilhas, reservatórios ou cisternas que podem ajudar a transportar àgua", que respondam ao apelo, pois podem ajudar muitas vítimas da seca.

O Vice-Presidente da Caritas Angola, pede a doação urgente de àguaFoto: Fotolia/FG

"A entrega de ajuda deve ser contínua"

É também possível doar dinheiro, através de um depósito bancário directo na conta da Caritas. Segundo Amarante, há uma necessidade de auxílio contínuo e abrangente, e por este motivo, o porta-voz da CEAST, José Manuel Imbamba, conta que a campanha se estenderá por dois meses. "É o tempo em que as chuvas deveriam começar no nosso país" e relembra que, "a entrega da ajuda deve ser contínua", porque a necessidade é muita e são diversas as vítimas, afirma o porta-voz da CEAST.

Para Imbamba, o executivo angolano tem feito o possível para apoiar as vítimas das diferentes regiões afetadas pela seca, apesar de afirmar, que esse esforço ainda não chega. "O esforço que está a ser feito é o possível", porque segundo Imbamba, "Angola está a ser reconstruída, os desafios são enormíssimos nestes poucos anos de paz, já se fez muito e está-se a fazer muito", apesar de concluir dizendo que "ainda não é suficiente".

Maior apoio do governo é essencial

Muitas pessoas estão a alimentar-se apenas de raízes e frutos silvestres.Foto: Fotolia/PHOTOERICK

O padre Pio Wacussanga, da paróquia de Gambos, município de Huíla, afirma por seu lado que a população, principalmente de idosos, já está bastante fragilizada. O padre alerta que, em breve, a região pode passar por um "genocídio silencioso" e cobra uma maior ação do governo central. "Gostariamos de ver nesta região afetada pela seca, a presença mínima do próprio Vice-Presidente da República para vir fazer um levantamento da situação", apela. Para padre Pio, "poderemos assistir ao início de um genocídio involuntário mas silencioso", pois não acredita que a "situação da fome seja resolvida". Na sua opinião é pouco provável que "venha a chover bastante no próximo ano agrícola para corrigir a falta de alimentos".

Wacussanga afirma que a seca gerou movimentos migratórios, diminuiu a frequência dos alunos nas escolas, além de causar um aumento dos casos de cólera. Para o padre Pio, os governos provinciais têm se esforçado, mas não possuem recursos suficientes para solucionar a crise.

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