A seca afetou, nos últimos cinco anos, mais de um milhão de angolanos e, só entre 2015 e 2016, causou danos diretos de 259,8 milhões de euros.
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A seca, que afeta o sul de Angola desde 2011/2012, tem aumentado o número de casos de subnutrição, com a província do Cunene a passar, nesse período, de 1.357 casos para 9.999, em 2015.
Os dados constam do relatório, a que a agência Lusa teve hoje acesso, de Avaliação das Necessidades Pós-Desastre (PDNA na sigla em inglês), que analisou a seca em Angola no período entre 2012-2016.
O PDNA foi realizado, entre 11 de julho e 19 de agosto de 2016, pelo Governo angolano, com assistência técnica das Nações Unidas, nas províncias prioritárias do Cunene, Huíla e Namibe, todas no sul do país.
Chuva insuficiente
O documento sublinha que desde a campanha agrícola de 2011/2012, que a região sul tem vivido uma situação de seca, tendo recebido chuvas esporádicas durante este período, que trouxeram "um certo alívio", contudo, não suficiente para a recuperação daquelas províncias.O Cunene, Huíla e Namibe situam-se na zona agroecológica árida e semiárida no sul de Angola, que se caracteriza por desertos, savanas e florestas, estando em geral sujeita a secas e cheias frequentes.
A seca voltou a marcar presença no calendário agrícola de 2015/2016, tendo esta sido a estação mais seca em 35 anos registada na região da África Austral, aponta o relatório.
Nas províncias do Cunene e da Huíla, aproximadamente 68% dos agregados familiares dedicam-se à agricultura, especificamente à plantação de cereais (massango e massambala), sendo igualmente a pecuária um importante meio de sustento, com destaque para o gado bovino.
1.139.064 pessoas afetadas
Segundo os últimos números fornecidos pelo Governo angolano para o PDNA, atualmente existem 1.139.064 pessoas afetadas pela seca nas três províncias - 755.930 (Cunene), 205.507 (Huíla) e 177.627 (Namibe).
O relatório revela que a situação geral nas áreas afetadas tem vindo a deteriorar-se, com o aumento dos casos de subnutrição, abandono familiar, violência doméstica, produção de carvão, bem como pelo agravamento da desflorestação e a degradação contínua dos recursos hídricos na região.A informação revela que na província do Cunene, a mais afetada pela seca, os casos de subnutrição passaram, em 2011, de 1.357, para 9.999, em 2015, enquanto que na Huíla foram registados, 105 casos, em 2011, passando, em 2015, para 1.969, mas com um pico maior, em 2014, quando atingiu os 6.044 casos.
A campanha agrícola de 2011/2012 foi marcada por um défice pluvial superior a 60%, face a anos normais, segundo uma avaliação do Ministério da Agricultura, realizada entre abril e maio de 2012.
A seca sazonal afetou a maior parte do país, mas sobretudo as províncias do Bengo, Cuanza Sul, Benguela, Huíla, Namibe, Cunene, Moxico, Bié, Huambo e Zaire.
No período 2014/2015, o relatório indica que a falta de chuvas foi severa e generalizada, sobretudo na primeira fase da estação e prolongou-se até final de abril de 2015, sendo este considerado o período mais seco nos últimos 25 anos nas províncias do Cunene e do Namibe e o segundo para a Huíla.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.