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PolíticaRuanda

Blinken vai a África reforçar alianças

Martina Schwikowski
4 de agosto de 2022

Duas questões dominam a viagem do Secretário de Estado norte-americano Antony Blinken a África: A guerra na Ucrânia e a paz que tarda no leste do Congo. Washington vai também exigir mais apoio aos aliados africanos.

Secretário de Estado Antony Blinken
Foto: Kevin Lamarque/AP Photo/picture alliance

Na sua segunda viagem oficial a África desde que tomou posse, no ano passado, como secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken visita, a partir de domingo (07.08) e durante cinco dias, três países cuidadosamente selecionados em conformidade com as prioridades de Washington. O chefe da diplomacia americana chega à África do Sul no domingo; segue depois para a República Democrática do Congo e o vizinho Ruanda.

Em tempos de crescente tensão geopolítica, Blinken procura reforçar os laços com tradicionais aliados do seu país. Para o analista político sul-africano Daniel Silke, esta visita é mais um exemplo para guerra diplomática global em curso em África entre a Rússia, os Estados Unidos e a China.

"As três grandes potências competem pela atenção de África, tanto do ponto de vista político-diplomático como em termos de exportação de matérias-primas", disse Silke à DW.

Expandir a influência em África

Imediatamente antes de Blinken estiveram em visita oficial a várias nações africanas o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov e o Presidente francês Emmanuel Macron. Tal como Blinken, o seu objetivo foi alargar a influência no continente africano.

O Quénia foi uma dos países visitados pelo chefe da diplomacia norte-americana Blinken (esq.) na primeira viagem a África em 2021 Foto: Simon Maina/AFP/Getty Images

A decisão do Presidente dos EUA Joe Biden de enviar o seu Secretário de Estado aos países em questão mostra que está ciente que a política africana de Washington pode não estar no bom rumo.

Os três países são antigos aliados dos Estados Unidos. Mas, em março, a África do Sul absteve-se de votar uma resolução das Nações Unidas exigindo a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia. Segundo o analista Silke, Pretoria envia mensagens "muito contraditórias" que fazem o Governo liderado pelo Congresso Nacional Africano (ANC) "parecer um fraco aliado dos EUA, e até mesmo da República Democrática do Congo e do Ruanda".

A África do Sul sob pressão

Blinken não deixará de pressionar a África do Sul a assumir uma posição mais crítica, especialmente face à guerra de agressão da Rússia na Ucrânia e à subida de tom da China em relação a Taiwan.

A visita insere-se numa nova estratégia do governo dos EUA a ser preparada há um ano e que será desvendada por Blinken na África do Sul, afirmou à DW Alex Vines, chefe do programa africano no centro de pesquisa londrino Chatham House. "Esta estratégia visa concentrar melhor os esforços do Governo dos EUA em África, incluindo a forma de conter a China e a Rússia no continente", disse Vines.

O agravamento da insegurança alimentar em África preocupa Washington Foto: Dong Jianghui/dpa/XinHua/picture alliance

Segundo o Departamento de Estado em Washington, a viagem de Blinken vai focar uma série de questões urgentes, como o reforço da cooperação na saúde, o combate à criminalidade, comércio, investimento e energia, mas também a segurança alimentar.

Muitos países do mundo estão a sofrer consequências negativas pela quebra de fornecimento de cereais da Ucrânia em guerra. As Nações Unidas alertam para a possibilidade da pior crise da fome em África em décadas. A representante dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, encontra-se em périplo pelo Gana, Uganda e Cabo Verde, para colher informações em primeira mão sobre a insegurança alimentar desencadeada pelo conflito europeu.

A paz que não chega ao leste do Congo

Uma das questões centrais para Blinken em África é a situação de insegurança na República Democrática do Congo (RDC). "O principal objetivo da visita a Kinshasa e Kigali é abordar os recentes confrontos armados no leste do Congo e o ressurgimento do grupo armado M23", diz Vines.

O Governo de Washington está preocupado com a violência crescente desde 2021 e o resultante agravamento da tensão entre os seus dois aliados, RDC e Ruanda. Kinshasa acusa Kigali de apoiar as milícias M23 na província do Kivu Norte.

A morte de civis às mãos das tropas de paz MONUSCO na RDC desencadeou protestos violentosFoto: Moses Sawasawa/AP Photo/picture alliance

Em finais de julho, pelo menos cinco civis morreram após um titoteio protagonizado por soldados da missão de paz da ONU, MONUSCO. Vários capacetes azuis foram detidos por terem aberto o fogo contra civis, o que levou a protestos violentos em Goma. 

"Não queremos a MONUSCO no Congo porque estão a matar os nossos compatriotas. Ao mesmo tempo estão no país grupos armados, inclusive do estrangeiro. Depois vem a MONUSCO e mata-nos a nós. Basta!", disse a Rebecca Kabuo, membro do movimento social, Lucha, à agência noticiosa Associated Press. O Governo de Kinshasa delibera se deve permitir a presença continuada de forças internacionaisde manutenção da paz no país.

Os Estados Unidos participam na MONUSCO, pelo que este poderá também ser um assunto durante a visita do chefe da diplomacia de Washington. Para além de reuniões com políticos em Kinshasa, Blinken vai também reunir-se com representantes da sociedade civil. A intenção, diz o seu ministério em comunicado, é ajudar a preparar o caminho para uma eleição presidencial pacífica e justa na RDC em 2023. Tendo em conta a violência persistente naquele país da África Central, o objetivo parece ainda muito longínquo.