Guterres e Sissoco discutem golpes de Estado em África
Lusa
24 de setembro de 2022
António Guterres reuniu-se com o Presidente da Guiné-Bissau para discutir a paz e a segurança na África Ocidental, onde ocorreram vários golpes de Estado nos últimos anos.
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"O secretário-geral e o Presidente discutiram os recentes desenvolvimentos na África Ocidental, incluindo as transições políticas e os esforços para enfrentar os desafios regionais de paz e segurança", referiu a ONU num comunicado divulgado na noite de ontem (23.09) sobre o encontro com o chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló, também presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Desde 2020, a região da CEDEAO, que conta 15 países-membros, tem assistido a uma onda de golpes de Estado, nomeadamente no Mali, na Guiné-Conacri e no Burkina Faso e alarmada com o risco de contágio a outras nações da zona tem multiplicado mediações e pressões para o regresso do poder aos civis nestes países.
"Sanções progressivas"
Reunidos numa cimeira extraordinária na quinta-feira à noite, em Nova Iorque, à margem da Assembleia-Geral da ONU, os dirigentes dos Estados da África ocidental decidiram aplicar "sanções progressivas" contra a junta militar no poder na Guiné-Conacri.
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A decisão foi tomada perante a inflexibilidade dos militares em reduzir o período de transição do poder para os civis, previsto em 36 meses, para 24.
Na quarta-feira, Sissoco Embaló tinha advertido que a junta militar na Guiné-Conacri poderia enfrentar "pesadas sanções" se insistisse em permanecer no poder por mais três anos.
A junta militar qualificou no mesmo dia as afirmações do presidente da CEDEAO como "mentiras grosseiras" e acusou-o de fazer "diplomacia fantoche".
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
07:57
Líderes da CEDEAO
Reunidos durante várias horas, os líderes da CEDEAO, com exceção do Mali, da Guiné-Conacri e do Burkina Faso, países dirigidos por juntas militares e suspensos da organização, exigiram também a libertação de 46 soldados da Costa do Marfim, detidos no Mali.
No encontro de sexta-feira, Guterres e Sissoco Embaló discutiram ainda a situação na Guiné-Bissau, "incluindo os esforços de recuperação socioeconómica em curso após a Covid-19".
"O secretário-geral reafirmou o empenho das Nações Unidas em continuar a apoiar as prioridades de construção da paz e desenvolvimento sustentável da Guiné-Bissau, bem como os esforços regionais mais amplos de paz e estabilidade", refere-se na nota da ONU.
Hoje, também os Estados Unidos manifestaram o compromisso de promover a paz, segurança e crescimento da Guiné-Bissau e em toda a região da África Ocidental, numa mensagem sobre o aniversário de 49 anos da independência do país africano.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.