Segunda volta das presidenciais guineenses ensombrada pela saida da Missang
11 de abril de 2012A segunda volta das eleições presidenciais guineenses está agendada para o próximo dia 29 de abril, anunciou esta quarta-feira (11.04) a Comissão Nacional de Eleições.
Concorrem Carlos Gomes Júnior, o candidato mais votado no primeiro turno e até agora primeiro-ministro da Guiné-Bissau, e Kumba Ialá que mantem a recusa em concorrer à segunda volta por considerar os primeiros resultados fraudulentos.
O ambiente eleitoral na Guiné-Bissau está a ser marcado pelo anúncio de Angola de retirar do país a Missang, a missão angolana de apoio à reforma do setor militar.
Retirada da Missang traz incertezas
O ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chicoti, convocou os chefes da diplomacia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para se reunirem até sábado, em Luanda, com o objetivo de discutir a situação na Guiné Bissau e tomar uma posição conjunta sobre os últimos desenvolvimentos da Missang no país.
Em entrevista à DW-África, Vincent Foucher, da International Crisis Group (ICG), em Dacar, no Senegal, disse que é evidente que a retirada da Missang da Guiné Bissau, abre uma fase de incertezas políticas.
Segundo Vincent Foucher, “muitos pensam que o país ficará fragilizado, principalmente quando se sabe que várias pessoas consideram a Guiné-Bissau como uma parceira privilegiada dos angolanos que lhe dão uma espécie de proteção incluindo a proteção militar”.
Ainda que se desconheça, para já, a data de retirada da Missang, “é evidente que esta nova incerteza para o país conjugada com o desfecho do atual processo eleitoral é muito por enquanto” para o país, considera Vincent Foucher do ICG.
Possibilidade de uma força internacional de paz na Guiné
A persistente instabilidade interna na Guiné Bissau é um assunto que tem preocupado a comunidade internacional.
Segundo alguns observadores poderá estar em discussão no seio do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a constituição de uma força internacional de manutenção da paz, cuja tarefa seria acompanhar o processo de reforma das Forças Armadas guineenses e a fiscalização e controlo do narcotráfico.Uma força que, a ser formada, deverá incluir contingentes oriundos da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), da CPLP e da União Africana.
A necessidade desta força não é de agora. De acordo com Vincent Foucher da ICG “há muito tempo que se fala da necessidade de uma força internacional para a Guiné-Bissau. Mas, na realidade, a Missang entrou em Bissau como uma alternativa a um projeto de força composta pela CEDEAO e a CPLP, algo que preocupou muito o exército guineense, embora finalmente esses militares tenham decidido aceitar a missão que não é uma força de manutenção da paz mas uma missão de cooperação militar”, explica o especialista.
Missão essa que funcionou como “uma alternativa precisamente porque os militares guineenses sempre desconfiaram da chegada ao país de uma força internacional”, afirma Vincent Foucher.Por isso, “não é de estanhar que se recomece a falar de uma força internacional mas como anteriormente existe uma recusa do exército guineense tudo indica que desta vez não será diferente”, prevê o especialista.
Pulso firme para a Guiné
O especialista do International Crisis Group Vincent Foucher interroga-se, “será que os atores internacionais vão querer forçar a situação e impor uma decisão ao exército guineense?”, e responde em seguida “é uma possibilidade”. Isto porque, na sua opinião, “a CEDEAO em relação ao Mali adota uma atitude muito firme, talvez no caso da Guiné Bissau haja também uma posição firme”, admite. Vincent Foucher acautela ainda que “precisamos ver como tudo isso vai evoluir, mas deve-se ser prudente”.
O especialista deixou claro que a ida da Missang para a Guiné Bissau se prende com uma decisão das autoridades de Luanda de reforçar a sua presença diplomática mas também económica no continente africano.Por isso, na opinião de Vincent Foucher, “a saída da Missang é uma espécie de fracasso para Angola que investiu recursos importantes neste processo, mas que talvez não tenha sido suficiente para criar um consenso sobre as condições aceitáveis por todos quer a nível interno da Guiné-Bissau como a nível internacional”, explica.
Uma longa lista de preocupações
O especialista da International Crisis Goup, Vincent Foucher, diz que a sua organização está alarmada no que concerne à situação na região ocidental do continente africano.
“Temos razões para uma grande preocupação porque o que se passa no Mali é inquietante;sabe-se que a estabilização é complexa na Costa do Marfim; temos a Libéria e a Serra Leoa que saem de um longo conflito e que também se encontram em processos eleitorais um pouco tensos; na Guiné Conacri também existe uma grande tensão eleitoral com uma dimensão comunitária significativa; e portanto como a Guiné-Bissau faz parte de toda esta rede o que acontecer tem evidentemente uma dimensão sub-regional importante”, admite Vincent Foucher.
Autor: António Rocha
Edição: Glória Sousa / Helena Ferro de Gouveia