Dois antigos chefes de Estado disputam a segunda volta das eleições presidenciais: Marc Ravalomanana, que obteve 35% dos votos na primeira volta do sufrágio, e Andry Rajoelina, que ficou à frente, com 39%.
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Os dois adversários disputam pela primeira vez uma eleição direta, após terem eliminado 34 candidatos na primeira volta, a 7 de novembro. Ambos prometem tirar Madagáscar da pobreza.
Ambos eram empreendedores de sucesso que se tornaram políticos e agora publicitam a sua própria carreira", comenta Marcus Schneider, chefe da Fundação alemã Friedrich Ebert em Madagáscar. "Eles dizem, 'olha o que eu fiz, como fiquei rico… Se for Presidente, farei o mesmo pelo país'."
A rivalidade entre Andry Rajoelina e Marc Ravalomanana é antiga. O duelo entre os dois dominou a política de Madagáscar durante mais de uma década.
Em 2007, Rajoelina foi eleito presidente da Câmara da capital Antananarivo após uma campanha contra os excessos do Presidente Ravalomanana, críticas que conquistaram a simpatia do eleitorado.
"O conflito político não se baseou nas rivalidades das duas personalidades, mas no facto de Marc Ravalomanana ter tendências megalómanas nos últimos anos de Governo. Ele marginalizou muitos outros políticos e empresários. Em 2009 não houve uma revolução popular contra Ravalomanana, mas sim uma revolta das elites políticas e económicas que se queriam livrar de um Presidente que monopolizava a vida política e económica", refere Schneider.
Candidatos diferentes, interesses diferentes
Rajoelina começou a trabalhar como DJ e era visto como um jovem empreendedor: surgiu como uma lufada de ar fresco que representava a renovação política. Tentou chegar ao poder por duas vezes. À segunda tentativa, fez-se acompanhar por militares.
A tomada de poder de Rajoelina mergulhou o país numa crise política. As sanções internacionais pressionaram o Governo de transição durante anos e só depois de numerosas tentativas de mediação se superou a crise com novas eleições.
Na altura, os dois adversários não disputaram a corrida que foi vencida por Hery Rajaonarimampianina. Apesar de se ter recandidatado este ano ao cargo, perdeu na primeira volta do sufrágio, com pouco mais de 8% dos votos.
Rajoelina e Ravalomanana representam interesses económicos diferentes num sistema em que as elites políticas e económicas estão fortemente entrelaçadas.
"Qualquer um que seja eleito Presidente pode fazer essa redistribuição. Pode satisfazer economicamente os seus amigos e partidários. Esta é uma motivação na qual as trincheiras ideológicas e programáticas dos dois concorrentes não são muito diferentes", comenta o especialista alemão Marcus Schneider.
Madagáscar escolhe novo Presidente
Sair da crise
Ravalomanana é considerado amigo dos Estados Unidos; já Rajoelina mantém contactos próximos com França, onde viveu nos últimos anos.
Ambos prometem combater a pobreza e criar perspetivas para a população, apesar de terem fracassado nesse objetivo em mandatos anteriores.
Para os 25 milhões de malgaxes, esta eleição é uma oportunidade para resgatar a estabilidade política e económica num dos países mais pobres do mundo. Mais de 77% da população vive com menos de dois dólares americanos por dia.
Mas, antes disso, será necessário apurar com clareza quem será o novo Presidente. Observadores acreditam que quem perder a votação desta quarta-feira poderá contestar os resultados. Após a primeira volta, Rajoelina contestou os valores apresentados pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), apesar de ter ficado à frente na contagem.
"É óbvio que, nesta segunda volta, há mais em jogo, no que diz respeito à transparência e à prestação e profissionalismo da CENI", afirma a jurista malgaxe Sahondra Rabenarivo em entrevista à DW.
A contagem dos votos e a publicação dos resultados durante a quadra festiva poderá fazer com que o público não esteja tão atento, comenta Rabenarivo, embora essa atenção seja crucial para a estabilidade no país. "O que precisamos é de sensatez e do espírito do Natal", conclui.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.