Grupo de ativistas está a levar a cabo campanha de auto-retrato com o lixo para chamar a atenção aos governantes sobre o perigo que os resíduos espalhados pelas ruas representam para a saúde pública e o meio ambiente.
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Os cidadãos em Luanda estão cada vez mais agastados com as grandes quantidades de resíduos sólidos que se registam espalhados por todos os cantos da capital angolana.
"É insustentável e inadmissível a quantidade de lixo amontoado que há aqui em Viana. Nos coloca numa posição de fragilidade, olhando para as terríveis consequências que podem advir daí nessa época de chuva", lamenta Aldino Pascoal, em declarações à DW África.
Também Mendes Dumbo, outro residente da capital angolana, desabafa:
"Nós aqui no Kilamba Kiaxi estamos mal. Veja só, lixo tipo comboio", afirma apontando para o extenso amontoado de resíduos a perder de vista.
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Auto-retrato com o lixo
Esta semana, um grupo de ativistas lançou uma campanha em Luanda denominada "Selfie-lixo" para denunciar o estado precário do saneamento básico no país.
A iniciativa propõe tirar uma foto junto ao lixo, na qual o participante na campanha indica o seu nome, rua, bairro e a província onde a fotografia foi tirada. Depois, encaminha ao mentor a fotografica com as informações, que são publicadas na rede social Facebook. e o que não falta são montes e mais montes de lixo espalhado.
Hervey Madiba, um dos mentores da campanha, explica os objetivos da iniciativa.
"Pensamos que os nossos governantes não vêem o lixo, esse grave problema de saúde pública e do meio ambiente nas nossas ruas. Então, podemos ajudar-lhes mostrando as nossas fotos", disse.
Muitos internautas estão a participar da campanha. Neidy Correia, por exemplo, mostra a situação no Kilamba Kiaxi:
O projeto que começou em Luanda já se estendeu até a capital da província do Namibe, uma das cidades do litoral sul de Angola.
"Tenho a certeza absoluta que essa campanha vai resultar em alguma coisa. Só para termos uma noção, a campanha foi criada dia 24 e já temos publicações até de Moçâmedes, um foto tirada na Escola 11 de Novembro", relata Madiba.
Não é a primeira vez que Luanda fica inundada com lixo. Também não é a primeira vez que ativistas levam a cabo uma campanha do gênero.
"Infelizmente, estamos na nossa segunda edição. Por se tratar de uma questão de saúde pública, gostaríamos que essa fosse a nossa última campanha", diz o mentor da iniciativa.
A primeira edição da campanha contra o lixo em Luanda foi em 2015. Quase seis anos depois, lança-se outra campanha pela mesma razão: o lixo.
Trilha sonora especial
Mas Em 2018, foi publicada a música intitulada "Cidade Lixuosa", uma composição de Dino Ground e Mr. Telles. O tema com coro de Maima Fernandes, acompanha a campanha deste ano.
Hervey Madiba não quer que a sociedade faça confusão sobre a iniciativa.
"As pessoas ainda têm medo de participar em campanhas como estas. Por isso, fazemos questão de deixar bem claro que é apenas mais um ato de cidadania e não um ato político", garante.
Espera-se que, com essa campanha e com a realização do concurso público para novas operadoras de limpeza, o lixo em Luanda tenha os dias contados.
Na última terça-feira (23.03), Joana Lina governadora da província de Luanda, reconhecendo o problema, pediu desculpas públicas aos citadinos e pediu paciência.
Moradores de Luanda convivem com lixo e mau cheiro nas ruas
A época das chuvas começou e a água espalha os resíduos acumulados nas ruas para todos os cantos da capital angolana. O lixo a céu aberto aumenta o risco de paludismo, a principal causa de morte em Angola.
Foto: Manuel Luamba/DW
Cidadãos deitam lixo fora logo pela manhã
Logo pela manhã, cidadãos deitam resíduos sólidos em contentores. A expectativa desses moradores é de que as operadoras de recolha do lixo façam o seu serviço durante o dia ou à noite. O que acontece, entretanto, é que o dia seguinte chega e o lixo permanece intato nos contentores ou no chão. Fala-se em dívidas de milhões de kwanzas que o Governo Provincial de Luanda teria com as empresas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Lixo transborda nos contentores
Os poucos contentores existentes nas ruas de Luanda - quer sejam na periferia, quer sejam na cidade - estão totalmente abarrotados de lixo. Por falta de espaço, os resíduos sólidos caem no chão.
Foto: Manuel Luamba/DW
Aproveitam-se das "montanhas de lixo"
Nem todas ruas de Luanda têm contentores para o depósito de lixo. Muitos cidadãos colocam-no no chão. Algumas pessoas aproveitam-se da existência do lixo como uma espécie de esconderijo para fazer as suas necessidades. É muito comum flagrar alguns citadinos a urinar atrás das "montanhas de lixo".
Foto: Manuel Luamba/DW
Zonas privilegiadas
Há zonas onde existe uma recolha tímida de lixo. Consequentemente, os contentores destas áreas encontram-se vazios. A DW África constatou isso no Bairro Popular, junto ao famoso Hospital da Fé. Aparentemente as autoridades precisam investir mais para ampliar significativamente a recolha a fim de beneficiar toda a capital, não somente algumas poucas zonas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Um risco para a saúde pública
O lixo visto por todos os cantos poderá se transformar num problema de saúde pública. As chuvas já começaram a cair e algumas doenças já estão cada vez mais presentes. O paludismo, por exemplo, é a maior causa de morte em Angola e o número de casos desta doença poderá aumentar em consequência do lixo nas ruas. A chuva gera pequenos charcos de água em locais onde há lixo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Um atentado ao meio ambiente
A inexistência ou escassez de recolha de lixo tem levado os cidadãos a uma velha prática: a queima do lixo. Ao incinerar os resíduos, o fumo acaba por se tornar nocivo à saúde e faz com que o ambiente à volta seja insuportável para alguns transeuntes. Apesar de não ser em grande quantidade, a queima de lixo não deixa de ser um atentado ao meio ambiente.
Foto: Manuel Luamba/DW
Até nas valas de drenagem
O lixo em Luanda não escolhe o local. Até nas poucas valas de drenagem que a capital angolana tem há resíduos sólidos. A vala do Kariango - que sai do município do Cazenga em direção à cidade - é um exemplo disso. O lixo acaba por obstruir o escoamento da água, o que pode provocar inundações nas ruas.
Foto: Manuel Luamba/DW
O "Senado da Câmara"
O "Senado da Câmara" é umas das maiores valas de drenagem à céu aberto de Luanda. O curso de água também é extremamente afetado pelos resíduos sólidos, que impedem o fluxo normal de água. A acumulação de poluentes neste local acaba por intoxicar o ambiente e colocar em causa a saúde pública.
Foto: Manuel Luamba/DW
Meio de sobrevivência
Se para alguns os amontoados de lixo constituem um risco para a saúde pública, para outros é um meio de sobrevivência. Idosos e jovens encontram no lixo comida, bidões e objetos para comercialização. É um sinal de que resíduos deitados nas ruas podem beneficiar as pessoas em projetos cuidadosos de reciclagem e de aproveitamento de comida. Mas aqui o lixo ainda não está relacionado à economia.