Senegal confirma bombardeamentos na região de Casamança
Lusa
31 de maio de 2021
O Exército do Senegal confirmou este domingo (30.05) que realizou operações militares e bombardeamentos na região sul de Casamança, no sul do Senegal, que se ouviram na Guiné-Bissau.
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"Por volta das 03:00 da manhã ouvimos detonações muito fortes muito perto da fronteira senegalesa. Ouvimos os tiros em intervalos regulares até às 07:00", disse Quecuto Djaura, residente de São Domingos, cidade da Guiné-Bissau a cerca de 20 quilómetros de distância, citado pela agência France-Presse.
Os bombardeamentos visaram posições do líder rebelde Cesar Atoute Badiate, chefe de uma das fações do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), de acordo com os meios de comunicação senegaleses.
O porta-voz do Exército confirmou as operações, mas não forneceu mais pormenores. "As operações estão em curso, o objetivo é criar as condições para que as pessoas regressem a casa", disse o responsável, referindo-se à consequências das décadas de conflito, que obrigaram muitas pessoas a sair de suas casas.
Um conflito antigo
Casamança, separada da maior parte do Senegal pela Gâmbia, é palco de um dos mais velhos conflitos africanos, desde que os independentistas se levantaram com um armamento rudimentar, depois da repressão de uma manifestação do MFDC, em dezembro de 1982.
Esta é a minha cidade: Ziguinchor
03:19
Depois de ter causado milhares de vítimas e abalado a economia, o conflito persiste em baixa intensidade, com momentos de tensão alta, como em janeiro de 2018, quando foram massacrados 14 homens perto de Ziguinchor.
O Exército lançou no final de janeiro operações para dar segurança ao regresso das pessoas deslocadas, responder a abusos contra civis, que atribuiu ao MFDC, e combater o tráfico de madeira e canábis.
Em abril, representantes do Estado senegalês e da rebelião pró-independência da região de Casamança reuniram-se em Cabo Verde, segundo o Centro para o Diálogo Humanitário.
A reunião entre delegações de Dacar e do comité provisório do MFDC teve lugar na capital cabo-verdiana, Praia, em 8 e 9 de abril, afirmou no seu portal a organização especializada na mediação de conflitos armados. Esta é a primeira vez que conversações entre as duas partes são tornadas públicas desde as realizadas em Roma, em outubro de 2017.
Casamança: Um conflito (quase) esquecido
A região de Casamança, no sul do Senegal, é um foco de conflito há 30 anos - embora oficialmente prevaleça a paz. Com uma nova operação militar, o Exército tem tomado medidas contra os refúgios dos grupos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Nova ofensiva do Exército
No início de fevereiro de 2021, soldados do Governo senegalês participaram numa operação para encontrar rebeldes em Casamança. A região no sudoeste do Senegal é palco de um conflito em ebulição desde os anos 80. Embora ultimamente a situação se mantenha relativamente calma, em janeiro deste ano o Governo lançou uma nova ofensiva contra os refúgios dos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Rebelião sangrenta
O círculo vicioso de violência começou em 1982, quando os líderes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), que até então lutavam pacificamente pela independência da região, foram presos. Nos anos seguintes, o grupo radicalizou-se e, a partir de 1990, recebeu apoio militar vindo de território guineense. Também a vizinha Gâmbia é cada vez mais arrastada para o conflito.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Negociações falhadas
Houve várias tentativas de um cessar-fogo nos anos 90, que não duraram muito tempo, em parte porque o braço armado do MFDC continuou a fragmentar-se. Apesar de várias tentativas do fundador do MFDC, Augustin Diamacoune Senghore, para alcançar um acordo com o Governo do Senegal, só entre 1997 e 2001 centenas de pessoas foram mortas e milhares tiveram de fugir.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Momento histórico
Em abril de 2001, o então Presidente senegalês Abdoulaye Wade (à direita) viajou para Ziguinchor, em Casamança, um ano após a sua tomada de posse. O novo chefe de Estado queria negociar um caminho para a paz com o líder separatista Augustin Diamacoune Senghore (à esquerda), mas como o acordo contornava a questão da autonomia, volta a ser rejeitado pelos rebeldes.
Foto: Seyllou Diallo/AFP
Violência apesar do acordo de paz
Em 2004, o líder rebelde Augustin Diamacoune Senghore (à direita) e o ministro do Interior Ousmane Ngom (à esquerda) assinaram um tratado de paz duradouro. Embora o conflito político estivesse resolvido, alguns grupos de dissidentes do MFDC continuaram a lutar. E a violência em Casamança intensifica-se.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
A paz torna-se uma questão eleitoral
Em 2012, o concorrente Macky Sall venceu as eleições presidenciais contra Abdoulaye Wade. Uma das suas promessas era trazer finalmente a paz a Casamança. Durante a campanha, Macky Sall enviou o popular músico senegalês Youssou Ndour a Casamança.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Violência latente
Apesar de todos os esforços de paz, a violência continuou nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2018, 13 jovens foram mortos e vários ficaram feridos num massacre perto da capital regional de Ziguinchor. Até agora, muitas pessoas deslocadas não regressaram às suas casas por terem medo.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Quotidiano em Casamança
Apesar dos recorrentes surtos de violência, os habitantes de Ziguinchor, a principal cidade da região de Casamança, prosseguem a sua vida quotidiana. Com mais de 200.000 habitantes, Ziguinchor é o principal centro comercial de Casamança e uma base importante para o Exército senegalês.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Atrás dos rebeldes
Segundo informações oficiais, soldados do Exército já capturaram várias bases rebeldes, incluindo um bunker subterrâneo, durante a última operação militar que arrancou no início de fevereiro de 2021. Desta forma, o Governo espera acabar também com as atividades criminosas através das quais os grupos rebeldes se financiam.