Senegal: Pelo menos quatro mortos em manifestações
Lusa | DW (Deutsche Welle)
6 de março de 2021
A detenção do opositor, cuja custódia policial foi prolongada, continua a provocar onda de raiva em todo o país, principalmente em Dakar e Casamança. Governo garantiu que vai "restaurar a ordem" no país.
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A detenção de Ousmane Sonko, popular entre os jovens e visto como um forte opositor ao Presidente Macky Sall, desencadeou, esta semana, uma onda de manifestações no Senegal. Esta sexta-feira (05.03), e depois do tribunal ter decidido prolongar a custódia policial de Ousmane Sonko até domingo (07.03), os seus apoiantes voltaram às ruas para protestar.
O Governo anunciou, entretanto, que pelo menos quatro pessoas morreram, na sequência dos confrontos entre a polícia e os manifestantes e garantiu "restaurar a ordem" por todos "os meios necessários".
"O Governo lamenta a perda de quatro vidas humanas", durante uma ocorrência que o executivo considerou estar "relacionada com o crime organizado e a insurreição", disse o ministro do Interior, Antoine Félix Abdoulaye Diome, durante uma declaração transmitida pela televisão, citada pela France-Presse (AFP).
O governante acrescentou que o Executivo vai mobilizar "todos os meios necessários para restaurar a ordem" e acusou Ousmane Sonko de "lançar apelos à violência" e à "insurreição".
Ousmane Sonko, que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2019 e é visto como um dos principais concorrentes das eleições presidenciais de 2024 , foi formalmente detido, esta quarta-feira (0.3.03) sob a acusação de perturbação da ordem pública, quando se dirigia ao tribunal onde foi intimado a responder a acusações de violação. Foi presente a um juíz, esta sexta-feira (05.03), e viu a sua custódia ser prolongada por mais dois dias.
Desde a detenção, as escaramuças com a polícia têm vindo a abalar o país. Na capital Dakar, vários distritos têm sido palco de saques e pilhagens de lojas.
A violência está também a abalar Casamança, no sul do país, de onde provém a família de Ousmane Sonko. Ao nosso correspondente em Casamança, vários jovens que participam nas manifestações para a libertação do opositor, dizem acreditar que Ousmane Sonko está a ser vítima de uma conspiração para o afastar da corrida presidencial de 2024.
Ben Michel Kanfondy, um jornalista da estação de rádio local Sud-FM, conta que "há fumo em praticamente todo o lado: as lojas estão a ser incendiadas e edifícios públicos estão a ser destruídos. O país está em perigo. A estabilidade do país está ameaçada".
Ben Michel Kanfondy apela ao Presidente Macky Sall para que intervenha e "tome uma decisão sensata".
António Guterres "muito preocupado"
Também, esta sexta-feira (05.03), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres exortou todas as partes a evitarem qualquer nova escalada da violência.
"As manifestações devem permanecer pacíficas e as forças de segurança e policiais devem agir sempre em conformidade com os direitos humanos internacionais", em particular "permitir que os manifestantes expressem a sua opinião e vontade", disse o porta-voz, Stéphane Dujarric.
Casamança: Um conflito (quase) esquecido
A região de Casamança, no sul do Senegal, é um foco de conflito há 30 anos - embora oficialmente prevaleça a paz. Com uma nova operação militar, o Exército tem tomado medidas contra os refúgios dos grupos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Nova ofensiva do Exército
No início de fevereiro de 2021, soldados do Governo senegalês participaram numa operação para encontrar rebeldes em Casamança. A região no sudoeste do Senegal é palco de um conflito em ebulição desde os anos 80. Embora ultimamente a situação se mantenha relativamente calma, em janeiro deste ano o Governo lançou uma nova ofensiva contra os refúgios dos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Rebelião sangrenta
O círculo vicioso de violência começou em 1982, quando os líderes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), que até então lutavam pacificamente pela independência da região, foram presos. Nos anos seguintes, o grupo radicalizou-se e, a partir de 1990, recebeu apoio militar vindo de território guineense. Também a vizinha Gâmbia é cada vez mais arrastada para o conflito.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Negociações falhadas
Houve várias tentativas de um cessar-fogo nos anos 90, que não duraram muito tempo, em parte porque o braço armado do MFDC continuou a fragmentar-se. Apesar de várias tentativas do fundador do MFDC, Augustin Diamacoune Senghore, para alcançar um acordo com o Governo do Senegal, só entre 1997 e 2001 centenas de pessoas foram mortas e milhares tiveram de fugir.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Momento histórico
Em abril de 2001, o então Presidente senegalês Abdoulaye Wade (à direita) viajou para Ziguinchor, em Casamança, um ano após a sua tomada de posse. O novo chefe de Estado queria negociar um caminho para a paz com o líder separatista Augustin Diamacoune Senghore (à esquerda), mas como o acordo contornava a questão da autonomia, volta a ser rejeitado pelos rebeldes.
Foto: Seyllou Diallo/AFP
Violência apesar do acordo de paz
Em 2004, o líder rebelde Augustin Diamacoune Senghore (à direita) e o ministro do Interior Ousmane Ngom (à esquerda) assinaram um tratado de paz duradouro. Embora o conflito político estivesse resolvido, alguns grupos de dissidentes do MFDC continuaram a lutar. E a violência em Casamança intensifica-se.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
A paz torna-se uma questão eleitoral
Em 2012, o concorrente Macky Sall venceu as eleições presidenciais contra Abdoulaye Wade. Uma das suas promessas era trazer finalmente a paz a Casamança. Durante a campanha, Macky Sall enviou o popular músico senegalês Youssou Ndour a Casamança.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Violência latente
Apesar de todos os esforços de paz, a violência continuou nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2018, 13 jovens foram mortos e vários ficaram feridos num massacre perto da capital regional de Ziguinchor. Até agora, muitas pessoas deslocadas não regressaram às suas casas por terem medo.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Quotidiano em Casamança
Apesar dos recorrentes surtos de violência, os habitantes de Ziguinchor, a principal cidade da região de Casamança, prosseguem a sua vida quotidiana. Com mais de 200.000 habitantes, Ziguinchor é o principal centro comercial de Casamança e uma base importante para o Exército senegalês.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Atrás dos rebeldes
Segundo informações oficiais, soldados do Exército já capturaram várias bases rebeldes, incluindo um bunker subterrâneo, durante a última operação militar que arrancou no início de fevereiro de 2021. Desta forma, o Governo espera acabar também com as atividades criminosas através das quais os grupos rebeldes se financiam.