No Senegal, após as violentas manifestações que abalaram o país nos últimos dias, a situação acalmou. Há pelo menos 500 detidos e 16 mortos. E o Governo tenta o diálogo para manter a ordem.
Sonko, que ficou em terceiro lugar nas presidenciais de 2019, foi condenado há dias a dois anos de prisão, acusado por corrupção de menores. Mas os seus apoiantes, na sua maioria jovens, acusam o Governo de manobras para tentar impedir a sua candidatura às eleições presidenciais de 2024.
Em protesto, saíram às ruas na última quinta-feira envolvendo-se em confrontos violentos com as autoridades policiais.
Pelo menos 500 detidos
Cerca de 500 pessoas estão detidas e a polícia denuncia a presença de forças ocultas entre os manifestantes.
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"As pessoas detidas durante estes acontecimentos são sobretudo indivíduos armados e perigosos. Entre elas, identificámos também menores e pessoas de nacionalidade estrangeira. A maioria das pessoas detidas estava na posse de cocktails Molotov e de armas brancas, bem como de armas de fogo de grande calibre", de acordo com Ibrahima Diop, Diretor da Segurança Pública.
Num comunicado de imprensa, o principal movimento da sociedade civil do Senegal, 'Y'en a marre', disse que a polícia não se pronunciou sobre o que mais preocupa os senegaleses.
Entretanto, várias organizações nacionais e internacionais pedem o fim das tensões. Biram Bass é membro da sociedade civil baseada em Dakar e diz que a situação não é boa "para o futuro dos nossos filhos e dos nossos irmãos".
"É lamentável. Isso poderia ter sido evitado", afirma Bass.
Diálogo contra a crise
O Presidente Macky Sall convocou uma reunião de emergência do seu partido. O Secretariado-Executivo Nacional e a Aliança para a República, o partido presidencial, deveriam reunir-se ontem, segundo a imprensa senegalesa.
O diálogo para resolver crise no país estava no topo da agenda do encontro.
A polícia nacional considera que as manifestações registadas no Senegal são subversivas à ordem pública e não uma forma de expressão de opinião.
Segundo Ibrahima Diop, "os ataques visam as infraestruturas essenciais do Estado, como as centrais de produção de água e eletricidade, os transportes públicos, bem como as empresas e os bancos".
"O objetivo destes ataques é perturbar a atividade económica do país e criar um clima de terror entre os nossos cidadãos", reforçou.
Falta de oportunidades
Mas, para o cientista político senegalês Moussa Diau, a falta de oportunidades para os jovens pode ter atiçado os ânimos.
"Muitos jovens que estão desempregados. Por isso, à mínima oportunidade, atacam o património público e invadem lojas porque têm fome. É uma forma de vingança da sociedade contra a forma como o poder político governa", avalia.
Apesar de uma relativa calmaria, vários manifestantes reunidos na Praça da Independência, em Dakar, gritavam esta segunda-feira que a resistência à opressão é um "dever moral e cívico".
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.