Separatistas dos Camarões denunciam detenção de líderes
Sella Oneko | Moki Kindzeka | cvt | DPA | Reuters
9 de janeiro de 2018
Segundo separatistas anglófonos, Ayuk Tabe Julius e pelo menos outros seis líderes foram detidos na Nigéria na semana passada. Autoridades não confirmam as detenções. A sociedade civil apela ao diálogo.
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Ayuk Tabe Julius, o homem que os separatistas chamam de Presidente do estado independente da Ambazónia, terá sido detido na semana passada em Abuja, na Nigéria, juntamente com, pelo menos, seis membros do seu Governo interino.
O líder separatista e os seus apoiantes estariam num hotel da capital nigeriana para participar num encontro. Segundo o porta-voz do "Estado da Ambazónia", Chris Anu, "homens armados invadiram o hotel e raptaram-nos".
De acordo com os separatistas e alguns meios de comunicação social da Nigéria, o serviço de inteligência do país estaria por trás das detenções. Mas as autoridades camaronesas e nigerianas não confirmam estas alegações.
"Não houve detenções em Abuja", afirmou um oficial do serviço de inteligência nigeriano à agência de notícias AFP. A fonte, que pediu para não ser identificada, admitiu, no entanto, que camaroneses foram presos na fronteira com os Camarões em dezembro.
"Pensámos que a maior parte fossem refugiados, mas as autoridades dos Camarões protestaram, dizendo que os detidos eram parte de grupos separatistas", informou o oficial à AFP.
No mês passado, as tropas camaronesas atravessaram a fronteira em busca dos separatistas sem pedir autorização às autoridades nigerianas. O Alto Comissário da Nigéria nos Camarões, Lawan Abba Gashagar, encontrou-se, entretanto, com o Presidente Paul Biya e os dois concordaram em colaborar na luta contra grupos armados.
Depois dos grupos separatistas declararem a independência simbólica da região da Ambazónia, em outubro, eclodiram protestos, reprimidos pelo Governo camaronês. Grupos internacionais de defesa dos direitos humanos dizem que, nos últimos meses de 2017, entre 20 e 40 pessoas foram mortas em confrontos. Segundo a Amnistia Internacional, pelo menos 500 pessoas foram detidas desde o anúncio da independência.
Separatistas dos Camarões denunciam detenção de líderes
Região marginalizada
Na região, as opiniões dividem-se quanto às ações dos separatistas. O empresário Evaristus Njie disse à DW que os apoia, porque a região anglófona é marginalizada. Pede, por isso, a libertação imediata de todos os líderes detidos na Nigéria e nos Camarões.
"O Governo tem afirmado que está a dialogar com os separatistas. Mas como podem afirmar que estão a dialogar para que a paz volte, enquanto, ao mesmo tempo, os prendem. Não é bom", afirma.
O estudante universitário Emmanuel Wiysahnyuy é, no entanto, a favor das detenções dos líderes da Ambazónia e apela ao regresso à normalidade.
"O Governo está a fazer tudo o possível para os prender, para que a paz possa regressar às regiões noroeste e sudoeste dos Camarões".
Camarões: Valorizar a língua local
No noroeste dos Camarões, os alunos da primeira classe têm aulas em inglês, apesar de a maioria não dominar a língua. Por isso, algumas escolas começaram a leccionar em kom, o idioma local.
Foto: DW/H. Fischer
Aprender a escrever a própria língua
No noroeste dos Camarões, os alunos costumam ter aulas em inglês, apesar de não dominarem a língua. As crianças têm de aprender a ler e a escrever uma língua estrangeira a partir da primeira classe - é um desafio enorme. Por isso, em algumas escolas, os professores começaram a ensinar em kom, a língua materna dos alunos.
Foto: DW/H. Fischer
Histórias do dia-a-dia
Com as aulas na língua materna, os alunos fazem progressos muito mais rapidamente do que noutras escolas. Vários linguistas fizeram livros na língua local, que incluem expressões da região e histórias que os alunos conhecem do seu dia-a-dia. Assim, compreendem mais facilmente o que aprendem na escola.
Foto: DW/H. Fischer
Inglês como língua estrangeira
As crianças começam a aprender inglês na segunda classe. Nessa altura, já sabem ler e escrever em kom. O inglês só tem algumas letras diferentes da língua local.
Foto: DW/H. Fischer
O despertar da curiosidade
As crianças que aprendem inglês na segunda classe participam muito mais ativamente nas aulas do que os que começaram a aprender logo na primeira. Percebem as perguntas e não têm medo de dar respostas erradas. Nota-se que os alunos têm vontade de aprender e lêem tudo o que lhes passa pelas mãos.
Foto: DW/H. Fischer
Sem medo da vara
Quem se diverte nas aulas aprende mais, e quem aprende mais diverte-se mais nas aulas. "Com as aulas na língua materna, os professores batem muito menos nos alunos", diz Kain Godfrey Chuo, coordenador do projeto. Os castigos corporais são comuns nos Camarões. Se os alunos se portam mal, arriscam-se a que os professores lhes batam com uma vara.
Foto: DW/H. Fischer
Competências dos professores
Muitos professores da região também não falam inglês corretamente, e isso prejudica as aulas. Ensinar na língua local é, também por isso, uma mais-valia.
Foto: DW/H. Fischer
'English first" a partir da quarta classe
Só a partir da quarta classe é que as aulas começam a ser só em inglês. Os alunos têm até essa altura para compreender as bases da matemática, bastando apenas traduzi-la para inglês. Isso faz com que os alunos resolvam os problemas muito mais depressa do que se tivessem, primeiro, aprendido a fazer contas numa língua estrangeira.
Foto: DW/H. Fischer
Uma base sólida
Seis anos depois, ao terminar a escola primária, os alunos que tiveram aulas na língua materna costumam ter melhores notas do que aqueles que começaram a aprender em inglês na primeira classe. As aulas na língua materna criam uma base sólida para ter sucesso na escola e, mais tarde, na vida profissional.