Separatistas intensificam ações violentas nos Camarões
Henry-Laur Allik
23 de janeiro de 2020
Confrontos entre grupos separatistas nos Camarões fazem reféns dezenas de civis. Comandante do Exército camaronês adverte os rebeldes: "Se não depuserem suas armas, vamos atacá-los e esmagá-los".
Publicidade
No início da semana, a voz de um dos líderes do movimento separatista circulou em áudio pelas redes sociais nos Camarões. O homem identifica-se como general Chacha e ameaça que quiser se opor a sua causa.
"Se qualquer um de vocês tentar traí-la [a luta], eu, Chacha, vou procurar essa pessoa até encontrar. O Governo está a tentar capturar-me, mas não vai conseguir. Eu ainda estou aqui e não estou a fugir. Estou a lutar", ouve-se no áudio.
Chacha seria um dos combatentes separatistas da região administrativa de Bui, no noroeste dos Camarões. Na gravação que circula pelas redes sociais, ele sublinha que as Forças de Restauração do Sul dos Camarões vão continuar a lutar pela autodeterminação.
O áudio foi tornado público no domingo passado (23.01). No mesmo final de semana, alegados apoiantes de Chacha compartilharam vídeos de cerca de 40 supostos combatentes de outros grupos. Seis deles foram encontrados mortos, inclusive Efang – um dos líderes do grupos.
Conflito entre rebeldes
Os supostos guerrilheiros teriam sido presos por trair o movimento de Chacha. O porta-voz dos rebeldes das Forças de Defesa Anglófonas, Tapang Ivo Tanku, confirmou que os combatentes sequestrados e mortos eram integrantes do seu grupo.
"Nossos soldados foram primeiramente sequestrados por Chacha, que os matou. Trata-se de um crime de guerra, um crime contra a humanidade, que viola as convenções de Genebra. É exatamente isso o que o regime do vizinho Camarões quer ver na Ambazônia."
Tanku também acusa as forças armadas dos Camarões de infiltrarem-se em grupos que lutam pela independência.
O general de brigada Valere Nka, comandante do exército dos Camarões, diz que as suas tropas são profissionais e não vão negociar com quem chama de "impostores". O militar diz que vai eliminar todos os combatentes que se recusarem a se render e entregar as suas armas.
"Quero lançar um alerta aos chamados generais, aos falsos generais, Chacha, Tiger, Field Marshal e todos os outros. Nós já conhecemos os seus esconderijos e paradeiro. Nós vamos intensificar as operações militares e, se não depuserem as suas armas, vamos atacá-los e esmagá-los", ameaça o general.
O levante das aldeias
Separatistas intensificam ações violentas nos Camarões
Os confrontos dos últimos dois meses entre grupos separatistas em todas as cidades e vilarejos da unidade administrativa de Lebialem levam os camaroneses anglófonos a questionar se os combatentes estão a lutar por um Estado independente, que chamam de Ambazônia, ou se por seus interesses pessoais.
Desde dezembro passado, moradores de comunidades anglófonas dos Camarões atacaram pelo menos dez zonas dominadas por rebeldes. Os civis acusam separatistas de destruir casas de civis, saquear e matar pessoas inocentes.
Civis em revolta dizem que não sabem mais em quem confiar, pois os militares cometem crimes semelhantes contra a população.
Claudette Mangha, deslocada da região de Bui, diz que combatentes como Chacha a fizeram perder a confiança na luta por um Estado independente.
"Se ele está lá para nos proteger, como ele sozinho matou 23 dos seus combatentes? Eu não confio nele, porque ele já demonstrou que não é um líder. É o fim da luta, na minha opinião. Aquelas são pessoas que afirmavam que estavam a nos proteger. Como é que eles estão a matar uns aos outros? Isso significa que a luta chegou ao fim", conclui Mangha.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.