mjp | Abu-Bakarr Jalloh | Philipp Sandner | Isaac Mugabi | Reuters
23 de fevereiro de 2018
Os números divergem. A única certeza é que há várias dezenas de meninas ainda desaparecidas após um ataque a uma escola na Nigéria pelo grupo radical islâmico Boko Haram. A população acusa as autoridades de inação.
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O ataque contra um internato de meninas em Dapchi, no estado federado de Yobe, ocorreu na segunda-feira passada (19.02), mas continua a não haver certeza sobre o número de alunas desaparecidas e o seu paradeiro. Os pais, citados pela agência de notícias Associated Press, dizem que compilaram entregaram ao Governo uma lista de 101 crianças desaparecidas. O governador de Yobe fala em 50 e a polícia do estado em 111.
Por seu lado o Governo central, na voz do ministro da Informação, Lai Mohammed, pede tempo para clarificar a situação: "Até que as estudantes apareçam ou que os pais nos digam que estão com elas, não podemos apontar o número de estudantes que faltam. Dêem-nos mais uns dias, por favor".
Na quarta-feira (21.02), o Governo do estado de Yobe anunciou que as estudantes tinham sido resgatadas pelo exército, naquela que foi a primeira confirmação oficial da hipótese de sequestro. Mas um dia mais tarde, o governador admitiu que as crianças continuam desaparecidas.
Protestos da população
As informações contraditórias geram revolta na comunidade. Grupos de jovens exigindo notícias ergueram barricadas nas ruas, queimaram pneus e atingiram com pedras os veículos em que seguia a delegação do Governo do estado. As famílias acusam as autoridades de tentarem esconder o sequestro.
Uma estudante que escapou ao ataque, e que pediu para não ser identificada, explicou à DW África que algumas das suas colegas fugiram quando ouviram disparos e entraram em veículos estacionados junto à escola: "O nosso medo é que tenham sido membros do Boko Haram disfarçados de militares a sequestrarem-nas, fingindo que estavam a salvá-las".
O ataque em Dapchi acontece numa altura em que continuam bem presentes as memórias do sequestro de mais de 200 raparigas pelo Boko Haram numa escola em Chibok, no vizinho estado de Borno, em 2014. Cerca de 100 estudantes sequestradas foram libertadas, mas 112 continuam em cativeiro.
Promessa por cumprir de derrotar Boko Haram
Número de meninas raptadas na Nigéria incerto
De visita à aldeia de Dapchi, esta quinta-feira (22.02), o ministro da Informação classificou o mais recente ataque do grupo radical islâmico como uma manobra publicitária: "Estes são os últimos dias do Boko Haram e eles querem envergonhar o Governo. Estão completamente sem poder e querem oxigénio. O oxigénio é a publicidade, é isso que eles querem, algo que chame a atenção do mundo".
Passaram-se mais de três anos desde a eleição do Presidente Muhammadu Buhari, que prometeu derrotar o Boko Haram. E o ataque de Dapchi levanta questões sobre a garantia do Governo de que tem o total controlo da segurança no nordeste da Nigéria, afirma Tsambido Hosea-Abana, presidente da Associação Chibok, em Abuja, criada aquando do rapto de centenas de meninas duma escola daquela localidade, há três anos. "O Governo está a tentar esconder que o Boko Haram continua a criar o caos. Há apenas três ou quatro dias anunciou que tinha desmantelado a organização. E é precisamente neste momento que o sequestro acontece", afirma.
Para o analista político Sylvester Odion Akhaine, o ataque de segunda-feira pode estar relacionado com este anúncio do Governo nigeriano: "É razoável sugerir que o ataque tem a ver com informações das forças de segurança de que teriam dizimado a maior parte do núcleo duro dos insurgentes do Boko Haram e que o líder, Abubakar Shekau, estaria em fuga”.
Lazer em vez de terror: o jardim zoológico de Maiduguri na Nigéria
Durante anos, o grupo terrorista islamita Boko Haram marcou a vida em Maiduguri. Ainda hoje acontecem atentados ocasionais. Mas o regresso à vida normal já permite prazeres como uma tarde passada no jardim zoológico.
Foto: DW/T. Mösch
Elefantas à espera dum elefante
As elefantas Izge e Juma são muito populares entre os visitantes. Mustapha Pogura (segundo da esquerda) veio da cidade vizinha de Yobe para passar uma tarde no jardim zoológico. "Antigamente teria receado vir por causa da falta de segurança. Mas agora reina aqui a paz." Pogura diz que ainda seria melhor se investissem mais no jardim zoológico. Os tratadores queriam um elefante para as elefantas.
Foto: DW/T. Mösch
Parque e zoológico há quase 50 anos
Chefes tradicionais e patrocinadores privados doaram alguns animais quando o parque foi criado em 1970. Em 1974, após uma visita ao parque, o Presidente queniano Jomo Kenyatta enviou uma série de animais da savana para a Nigéria. O parque transformou-se definitivamente num jardim zoológico. Mas aos poucos os animais foram morrendo de velhice ou porque não se adaptavam ao clima seco e quente.
Foto: DW/T. Mösch
Sombra e sossego no meio da azáfama urbana
Por um bilhete de 50 nairas (dez cêntimos do euro) o visitante pode visitar 17 hectares de parque com jaulas e cercas. Uma mão cheia de quiosques vende refrescos. Os visitantes preferem vir ao fim da tarde para fugir à canícula. Os pares sentam-se nos bancos à sombra e as crianças observam as cobras.
Foto: DW/T. Mösch
Um sítio para as crianças
A estudante Khadija (à direita), de 15 anos, e a sua irmã Aisha (segunda da direita) vieram com amigos. O leão é um dos animais preferidos de Khadija. "Fico feliz por haver um sítio tão bonito para nós, crianças", diz Aisha. Aos fins-de-semana o jardim zoológico enche bastante. Os empregados dizem que nos feriados importantes como a Festa do Sacrifício, vêm milhares de visitantes.
Foto: DW/T. Mösch
Leões comilões
Por detrás de uma grade grossa, o leão parece saciado. O rei dos animais partilha o recinto com duas leoas. Quando Maiduguri vivia o terror do Boko Haram, era difícil alimentar os leões. Foi preciso sacrificar-lhes algumas das cabras do jardim zoológico. Muitos carnívoros não sobreviveram, contam os tratadores.
Foto: DW/T. Mösch
Crocodilos prolíficos
A natureza conferiu aos crocodilos a capacidade de sobreviverem longos períodos sem comer. Estes não parecem ter sofrido nos anos de escassez de Maiduguri. O recinto está quase sobrelotado, porque os répteis reproduzem-se com rapidez. Fotos tiradas há alguns anos mostram o recinto cheio de lixo. Mas hoje os crocodilos dormitam sobre a areia branca e limpa.
Foto: DW/T. Mösch
Um diretor confiante
O diretor Usman Lawal trabalha aqui há mais de 20 anos. Mostra com orgulho o canto onde os crocodilos enterram os ovos. "Os governos passados não estavam interessados no jardim zoológico," conta. "Também por isso perdemos tantos animais”. Mas o atual governador do estado de Borno aumentou o orçamento, diz o diretor: "Pudemos proceder a limpezas e reparação de jaulas e recintos."
Foto: DW/T
Um recomeço com novos escritórios
O diretor Lawal tem grandes planos para o seu jardim zoológico. Fundos adicionais de Borno e o aumento de visitantes permitiram-lhe construir um novo edifício administrativo para os cerca de 40 empregados. Alguns recintos também obtiveram cercas novas.
Foto: DW/T.Mösch
A hiena aguarda uma casa nova
As jaulas para as hienas e os chacais estão na outra margem do pequeno rio que atravessa o parque. Para os ver, os visitantes têm que atravessar uma ponte. No outro lado do rio ainda falta construir e reparar muita coisa. A hiena decerto que agradeceria uma casa nova: a sua jaula é minúscula. Anda em círculos com um ar perdido e agitado.
Foto: DW/T. Mösch
Novos animais para assegurar o futuro
As avestruzes têm um recinto grande, para o qual vieram há pouco tempo. Pertenciam ao governador Kashim Shettima, que os ofereceu ao zoológico. Um gesto que o diretor Lawal agradece e diz que espera conseguir obter mais animais da savana, como zebras e girafas. Talvez o Quénia possa voltar a ajudar, acrescenta: "Brevemente iremos contactar as autoridades em Nairobi."
Foto: DW/T. Mösch
Babuínos no meio de detritos plásticos
Um dos maiores desafios para a administração são os visitantes que desrespeitam as regras. Há pessoas que acham graça atirar garrafas de plástico ou sacos de plástico com água aos babuínos. O lixo fica no recinto. Já em 2014 os peritos se queixavam do mau comportamento dos visitantes. Pelo menos o jardim deixou de ser ponto de encontro para traficantes de drogas e prostitutas e os seus clientes.
Foto: DW/Thomas Mösch
Uma cidade que anseia pela paz
O jardim zoológico fica numa estrada principal que leva ao centro da cidade. Os visitantes no parque estão longe da azáfama que reina lá fora. A vida em Maiduguri regressa lentamente à normalidade. Têm ocorrido alguns ataques suicidas nos arredores. Servem para lembrar às pessoas em Maiduguri que a liberdade ainda está longe de ser um dado adquirido.