Sequestros em Nampula deixam população em pânico
10 de janeiro de 2014 Nampula abriu o ano de 2014, com uma notícia de rapto de um cidadão estrangeiro, sequestrado por um grupo composto por quatro agentes da Polícia da República de Moçambique, PRM, que pela ganância pelo dinheiro abdicaram da sua missão de proteger os cidadãos.
O sequestro ocorreu quando um cidadão oriundo da região dos Grandes Lagos foi abordado por um grupo de agentes da Polícia que o forçou a entrar numa viatura, levando-o para um local desconhecido, onde depois terá sido pressionado a entregar todo o dinheiro que eventualmente tivesse na altura.
Já no dia seguinte, portanto, no domingo (05.01.), esses mesmos agentes continuaram a pressionar o seu refém para que contactasse os amigos por forma a pagarem o seu resgate.
E porque negou seguir as ordens dos sequestradores, o refém acabou por ser torturado e lançado numa sarjeta de uma das ruelas do bairro de Namutequeliua nos arredores da cidade de Nampula.
Medo pode tornar-se coletivo
Em declarações à DW África alguns empresários e cidadãos residentes em Nampula criticam as autoridades moçambicanas por deixarem que "casos semelhantes ocorram com uma certa regularidade".
Eles chegam mesmo ao ponto de afirmar que existem cumplicidades no alastramento do crime organizado no país, uma vez que "muitos raptos ficam por esclarecer para além da impunidade dos previcadores".
Jaibo Mucufo, sociólogo e residente em Nampula, disse que, com o sequestro de estrangeiros por homens da PRM, a população fica sem saber quem a poderá proteger deste mal, que se alastra por todo o país: "A questão do medo tem a ver principalmente com a expetativa, a certeza de que um fenómeno com algum risco para as pessoas possa ocorrer. Isso desencadeia o medo, que pode partir de um nível individual e depois atingir proporções coletivas."
Gregório Benedito, outro cidadão, disse que os sequestros podem representar uma ameaça para a sociedade, "uma vez que a população não se sente protegida pelos homens" cuja tarefa é precisamente a proteção das pessoas: "Lamentamos neste caso o que acontece no seio da população porque confiamos na autoridade e depositamos toda a nossa confiança nela no que se refere à segurança e tranquilidade. E se são as próprias autoridades que praticam esse tipo de crime, então estamos perante uma grande ameaça para a sociedade em geral, especialmente aqui em Nampula."
O silêncio da polícia
Alguns empresários entrevistados pela DW África, preferiram falar na condição de anonimato: "Nós os estrangeiros não conseguimos viver muito bem aqui em Moçambique. Muitos casos aconteceram também em Maputo e Nampula e isso preocupa-nos. Todo o mundo está assustado. Saio de casa, a criança vai para a escola, mas não sei se regressamos. É uma situação muito preocupante."
Entretanto Miguel Bartolomeu, Porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Nampula, negou falar aos nossos microfones, embora tenha confirmado o rapto do cidadão dos Grandes Lagos.
“São erros da corporação e por isso não posso falar aos meios da comunicação social” disse Bartolomeu, para em seguida informar-nos que, "os agentes envolvidos no caso se encontram presos e que poderão brevemente receber uma punição disciplinar".