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Ajuda do FMI a Angola seria atitude prudente do Governo

Helena Ferro Gouveia / Lusa6 de julho de 2016

O regime angolano desistiu de obter procurar ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional, mas ainda não revelou qual será a alternativa a este financiamento. Para os analistas esta decisão comporta riscos.

Foto: DW/Renate Krieger


Tiago Dionisio economista-chefe da consultora Eaglestone, defende em entrevista à DW África que teria sido prudente Angola pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e que as medidas seriam "bastante duras", tendo em conta as eleições no próximo ano.

Segundo o economista, as medidas associadas a um pacote de ajuda financeira poderiam ajudar a acelerar o processo de diversificação e na implementação de algumas reformas estruturais e isso seria bem visto internacionalmente.

DW África: Não acha que teria sido mais prudente Angola pedir apoio financeiro ao FMI?

Tiago Dionísio (TD):
Acredito que sim que teria sido mais prudente seguir essa via. Mas no entanto esta decisão significa que as autoridades angolanas acreditam que com a atual estabilização do preço do petróleo em torno dos 50 dólares, isso deverá permitir que seja cumprida a execução orçamental, deste ano. Por outro lado, apesar das dificuldades que Angola tem atravessado nos últimos tempos, devido à baixa do preço do petróleo, a realidade é que Angola continua a ter um montante de reservas internaciobnais no Banco Central relativamente confortável.Normalmente os países pedem ajuda ao FMI por diversas razões e uma delas é a possibilidade de ter uma crise na sua balança de pagamentos, o que não é o caso. Repito, Angola continua a ter um nível relativamente confortável de reservas no Banco Central.

DW África: Alguns analistas apontam que possíveis consequências esta decisão será um “downgrade”, portanto uma baixa pelas agências de rating. Qual é a sua opinião?

TD: Acho que acima de tudo pedir a ajuda ao FMI seria um sinal positivo a nível internacional e isso seria visto de forma positiva no exterior, nomeadamente daria uma maior credibilidade aos esforços do Governo angolano na diversificação da sua economia, daria maior transparência e portanto isso seria positivo. Mas por outro lado, há que ter em conta que estes programas do FMI para os países receberem ajuda financeira têm um outro lado, ou seja, normalmente o FMI exige medidas que muitas vezes são difíceis e duras.No caso de Angola há que ter em conta que a situação da população se tem deteriorado bastante nos últimos tempos devido à forte dependência do país do petróleo. Acho que o Governo ao decidir receber apenas ajuda técnica por parte do FMI e não o pacote financeiro que implicaria essas tais medidas, está também a ter em conta o lado social porque essas medidas provavelmente teriam impacto ainda mais significativo no seio da população local. Agora acho que as autoridades também estão com a ideia de gerir o país a curto prazo, ou seja vamos ver como é que a evolução do preço do petróleo será nos próximos meses. Fala-se também que Angola poderá receber ajuda da China e de outros parceiros para certo tipo de projetos e portanto acho que é ainda um bocado cedo para falar na questão de um “downgrade”. Importante é executar o orçamento e neste caso parece que as autoridades angolanas acreditam que conseguem executar o orçamento com um preço do petróleo em torno desses níveis. Relembro que o orçamento para 2016 incorpora uma estimativa de 45 dólares para o preço do petróleo e neste momento está acima.

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Fim da discussão sobre financiamento do FMI "aumenta riscos" para Angola

Também Federico Barriga Salazar, o analista da agência de 'rating' Fitch que segue a economia de Angola considerou que a desistência do pedido de financiamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) "aumenta os riscos" para o país.

"A decisão do Governo de Angola de descontinuar as conversações com o FMI sobre um potencial empréstimo aumentam os ricos para a posição externa financeira do país se outras formas de financiamento não estiverem disponíveis", disse Federico Barriga Salazar em resposta a questões colocadas pela agência de notícias Lusa.

"O Governo não revelou uma alternativa ao apoio do FMI, portanto os riscos para as reservas externas, que são historicamente altas mas que desceram no seguimento da queda do preço do petróleo, parecem ter aumentado", vincou o analista, avisando que "um falhanço na atração de suficientes fontes de financiamento, que levaria a um ajustamento macroeconómico mais abrupto, pode levar a uma descida do 'rating'", que já está em território de Não Investimento, tradicionalmente conhecido por 'junk' ou 'lixo'.Recorde-se que na semana passada, o porta-voz do FMI anunciou em conferência de imprensa que Angola desistiu de solicitar apoio financeiro ao Fundo, que poderia chegar aos 4,5 mil milhões de dólares por um prazo de três anos, e que pediu apenas ajuda técnica na definição de políticas para superar a crise económica e financeira que o maior produtor de petróleo em África atravessa.

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