Serra Leoa é exemplo de tolerância religiosa em África
Kate Hairsine
14 de março de 2024
Muçulmanos e cristãos de grande parte dos países da África Subsariana têm uma longa história de tolerância religiosa. A Serra Leoa, em particular, destaca-se como um exemplo positivo.
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África é um dos continentes mais religiosos do mundo. Um estudo de 2020 do Afrobarómetro dá conta que 95% da população do continente se identifica com uma religião.
O mesmo estudo indica que cerca de 56% das pessoas são cristãs e 34% muçulmanas e que, ainda assim, existe uma cultura de tolerância religiosa profundamente enraizada em muitos dos países do continente.
A Serra Leoa é um exemplo disso mesmo. Mariama Binta Caulker é cristã e vive na capital Freetown. Em entrevista à DW, afirma que a relação entre cristãos e muçulmanos no seu país é um exemplo.
"A Serra Leoa é única no que diz respeito à tolerância religiosa", sublinha. "Acreditamos que cristãos e muçulmanos são um só povo e que não têm diferenças. E que o mais importante é o nosso coração. Somos como uma família, e eu sou exemplo disso. A minha origem é muçulmana e eu casei-me com um cristão. A minha família aceitou e até incentivou", conta Caulker.
Esta opinião é partilhada por Joseph Mannah Brima, outro morador da capital da Serra Leoa. Também cristão, Joseph considera que a relação entre cristãos e muçulmanos no seu país "é perfeita". Justifica-o com o que acontece, por exemplo, neste período do Ramadão.
"É como se, direta ou indiretamente, fossemos todos muçulmanos, porque [durante este período] partilhamos tudo. Trocamos presentes e nós, cristãos, preparamos comida para os irmãos muçulmanos. É uma relação muito boa que temos mantido ao longo dos anos. Vemo-nos como irmãos", afirma.
Jejum: Valores partilhados entre cristãos e muçulmanos
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Casamento não é problema
O casamento entre pessoas de religiões diferentes não é, por isso, por um problema para a maioria da população deste país. Bailor Kamara é muçulmano e diz ser um ótimo exemplo da abertura da Serra Leoa neste campo.
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"Acabei de me casar com uma mulher cristã e nunca a coagi de forma nenhuma a aderir à minha religião. Tenho muitos amigos cristãos, mais que muçulmanos. Por isso, como digo, coabitamos de uma forma muito pacífica. Desde que nasci que conheço a Serra Leoa como um país muito tolerante em termos de religião".
Cerca de 77% da população da Serra Leoa identifica-se como muçulmana e 22% como cristã. O que não impediu os eleitores deste país de elegerem um Presidente cristão. Casado com uma muçulmana, o Presidente Julius Maada Bio foi reeleito o ano passado.
O estudo do Afrobarómetro já citado mostra que, à semelhança da Serra Leoa, também a Costa do Marfim e o Gabão apresentam níveis de tolerância religiosa acima dos 90%. Dos 34 países inquiridos, são o Sudão e o Níger os que registam os valores mais baixos.
Também na Nigéria, Mali, Gâmbia e Burkina Faso, a harmonia religiosa tem sido ameaçada, com o resgisto de casos de violência e marginalização de certos grupos associados a uma determinada religião.
Nove mesquitas em África que são verdadeiras obras de arte
O continente africano possui diversos edifícios religiosos de várias épocas: de 670 a.C. a 2019, existem mesquitas para praticamente todos os gostos e estilos arquitetónicos.
Foto: AFP/SEYLLOU
A mesquita de Massalikul Jinaan, Senegal
Com um custo total de mais de 30 milhões de euros, a mesquita de Massalikul Jinaan foi inaugurada em setembro de 2019. É a maior mesquita da África Ocidental e tem capacidade para albergar 15.000 fiéis no interior e outros 15.000 no átrio principal. O nome do edifício deriva do título de um poema do xeque Ahmadou Bamba Mbacke, fundador da Irmandade Mouridiyya no século XIX e reverenciado santo.
Foto: AFP/SEYLLOU
Grande Mesquita de Cairuão, Tunísia
Esta mesquita é um dos mais antigos locais de culto do mundo islâmico e possivelmente o mais antigo de África. Foi fundada no ano 670 a.C. pelo general árabe Uqba ibn Nafi. O edifício tem uma influência mista da arquitetura pré-islâmica, romana e bizantina. Está localizado em Cairuão, no deserto do norte da Tunísia, e é Património Mundial da UNESCO.
Foto: Imago/Panthermedia
Mesquita de Larabanga, Gana
Apelidada de Meca da África Ocidental, a Mesquita de Larabanga está construída no estilo arquitetónico sudanês e pode ser vista e visitada precisamente em Larabanga, no Gana. Foi fundada em 1421 e é uma das mais antigas mesquitas da África Ocidental. Foi já submetida a vários trabalhos de restauração minuciosos, uma vez que esta obra é feita de reboco de lama.
Foto: Imago/UIG
Mesquita de Touba, Senegal
A Grande Mesquita de Touba foi fundada em 1887 pelo santo sufi e fundador da Irmandade Mouridiyya, Amadou Bamba. No entanto, só foi oficialmente concluída em 1963. Bamba morreu em 1927 e está enterrado na mesquita que agora é administrada pelos seus descendentes. É considerada uma das mais belas mesquitas do mundo.
Foto: Imago Images
A Grande Mesquita de Djenne, Mali
A Grande Mesquita de Djenne é a maior estrutura de tijolos de barro do mundo. Foi construída em 1907, usando um estilo arquitetónico único, que remonta às paisagens do Sahel no século XIV. Todos os anos, a comunidade de Djenne participa num festival que visa reparar danos causados pela erosão natural - uma festa que envolve música e comida, é claro.
Foto: Getty Images/AFP/M. Cattani
Mesquita Nacional de Abuja, Nigéria
Esta mesquita foi construída em 1984 e é a Mesquita Nacional da Nigéria. Embora tenha sido construída para responder às necessidades da população muçulmana da Nigéria, também está aberta ao público não muçulmano, exceto durante as orações oficiais. Está simbolicamente localizada em frente ao Centro Cristão Nacional.
Foto: Imago Images/F. Stark
Mesquita Nacional do Uganda
Terminada em 2006, a Mesquita Nacional de Uganda é um exemplar de arquitetura moderna. Foi encomendada em Kampala pelo ex-líder líbio Muammar Kadhafi e posteriormente renomeada em sua homenagem. Atualmente esta mesquita é também sede do Conselho Supremo Muçulmano de Uganda.
Foto: Imago/UIG
Mesquita Hassan II, Marrocos
Concluída em 1993, a Mesquita Hassan II era até recentemente a maior mesquita do continente africano e a terceira maior do mundo. Este edifício foi construído para comemorar o 60.º aniversário do ex-rei Hassan II. A sua localização em cima do oceano representa um verso do alcorão, que afirma que o trono de Deus foi construído sobre a água.
Foto: picture alliance/Arco Images
Djamaa el Djazair ou Grande Mesquita de Argel, Algéria
Foi concluída em 2019 após sete anos de construção, com um custo total estimado em 915 milhões de euros. A sua construção resultou de um esforço global: foi financiada pelo Governo da Argélia, projetada por arquitetos alemães e construída pela China State Construction Engineering Corporation. O seu minarete de 265 metros torna esta mesquita no edifício mais alto de África.